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      Hortência vê seleção longe do pódio no feminino: "Duas não seguram"

      Comentarista do Time de Ouro da TV Globo critica planejamento para os Jogos e diz que muitas jovens jogadoras acabam optando pelo vôlei em detrimento do basquete

      Por Rio de Janeiro

      Há mais de vinte anos, a seleção brasileira feminina de basquete alcançou a sua maior glória, o histórico título mundial, no dia 12 de junho de 1994, na Austrália. Uma conquista para eternizar a "geração de ouro", liderada por Hortência, Magic Paula e Janeth, e inspirar as jogadoras que representam o país na Olimpíada, a partir de 5 agosto. Mas, para a Rainha, não há grandes esperanças de pódio na Rio 2016, pelo menos, entre as mulheres. Segundo ela, a falta de planejamento e investimento na base, aliados à crise envolvendo atletas, clubes e seleção, às vésperas dos Jogos, são alguns dos motivos.

      - Infelizmente, não tenho muitas esperanças com o feminino. A seleção não foi bem na Copa América e nos Jogos Pan-Americanos não conseguiu uma medalha (perdeu o bronze para Cuba, no ano passado, em Toronto). Não sei se elas vão conseguir uma boa classificação. O time tem boas jogadoras, mas o planejamento não foi feito como deveria. Depois da minha geração, o ideal seria ter tido uma continuidade com a geração de Janeth, Alessandra, Helen... Elas pararam e aí só aparece uma ou outra, mas não é o suficiente. O basquete hoje é outra modalidade. Apesar de você estar vendo o Stephen Curry jogar de um jeito que lembra um pouco a época que a gente jogava, de não revezar muito, o basquete é outro. E duas jogadoras só não seguram um resultado - comentou Hortência, em uma referência às duas pivôs que jogam na WNBA, Erika e Clarissa, ambas do Chicago Sky, que se apresentaram em Campinas na segunda-feira.

      Hortência (Foto: Marcos Guerra)Hortência vê pódio distante para o basquete feminino, mas está confiante no masculino (Foto: Marcos Guerra)

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      Medalhista de prata em Atlanta 1996 e cestinha brasileira do Mundial de 1994, com 221 pontos, Hortência passou quatro anos como diretora de seleções do Brasil e conhece o outro lado do esporte. Segunda ela, um modelo como o do vôlei poderia servir de exemplo para o basquete. Uma gestão que saiba usar a sua geração da melhor forma, com recursos para desenvolver o esporte e oferecer bagagem internacional, seja em torneios ou intercâmbios.

      Hortência Basquete mundial 1994 (Foto: Divulgação / CBB)Hortência no Mundial de 1994, na Austrália, onde foi cestinha: 221 pontos (Foto:Divulgação/CBB)

      - O que eu vou dizer não é nenhuma novidade. O basquete brasileiro nunca teve um excelente administrador, nunca teve uma gestão muito profissional. Não estou falando das pessoas em particular, e sim dos profissionais. Hoje, o vôlei está na situação que está, pois teve uma gestão profissional e empresarial. Precisamos contribuir para uma modalidade que vem sofrendo muito. Hoje, muitas jogadoras entre 19 e 21 anos não têm perspectiva no basquete. Por isso, algumas acabam no vôlei - analisou a ex-jogadora, confiante apenas no pódio da equipe masculina.

      Além de não ter alcançado o pódio na Copa América e no Pan, a seleção brasileira teve um desempenho abaixo do esperado no Mundial da Turquia, em 2014, ao ficar na nona colocação, e nos Jogos de Londres 2012, quando terminou em penúltimo lugar de seu grupo.

      Mas, se muitos imaginam a medalha como um sonho distante na Rio 2016, outros pensavam o mesmo na Austrália, em 1994. As campeãs mundiais deixaram o Brasil desacreditadas, sem dar uma entrevista sequer. Pareciam invisíveis diante das rivais, no entanto, não se deixaram abater pelas desconfianças. Foram derrubando obstáculo por obstáculo e voltaram como estrelas.  Ninguém pensava que o Brasil que poderia ir tão longe. Na época, nem existia a WNBA, que ajudou a tornar os Estados Unidos uma potência ainda maior, quase imbatível duas décadas depois. Hoje, em um degrau abaixo, há um grande equilíbrio. E é neste "bolo" que o técnico da seleção brasileira, Antonio Carlos Barbosa, quer entrar na Rio 2016. Segundo ele, o pódio é uma possibilidade absolutamente plausível.

      - Os Estados Unidos estão em um patamar muito acima, mas, depois, tem um grupo muito parelho, e eu quero entrar no meio desse baile, onde estão França, Espanha, Austrália e Sérvia. A Austrália perdeu agora a Lauren Jackson, uma jogadora que faz a diferença, mas o time é muito forte. Vejo o basquete mundial muito equilibrado, com os Estados Unidos e a Austrália na frente. A França e a Espanha também têm um nível superior, mas se você jogar bem, pode ganhar. O pódio é factível, assim como é perder na primeira fase, pelo equilíbrio - analisou Barbosa, que tem apostado na mescla entre juventude e experiência.

      Barbosa, seleção brasileira de basquete feminino (Foto: Divulgação CBB)Bronze nos Jogos de Sydney 2000, Barbosa voltou ao comando da seleção brasileira para ajudar o grupo renovado a conquistar resultados melhores na Olimpíada do Rio, a partir de 5 de agosto (Foto: Divulgação CBB)

      Para o treinador, diferentemente do time em que Paula e Hortência desequilibravam, a seleção atual terá que valorizar o trabalho em equipe para fazer uma boa campanha no Rio:

      - Esta seleção não tem estrelas. Nós estávamos acostumados a um time que tinha a Paula e a Hortência, dois ícones que puxavam o esporte, e aí depois ficou a Janeth, outra grande referência. Não quero dizer que não temos referência, só que temos de procurar valorizar mais o aspecto coletivo, desde uma disposição defensiva, para não depender só do fato de fazer cesta, como também impedir o adversário de marcar. Vejo o atual grupo do Brasil como muito equilibrado - completou o treinador, medalhista de bronze nos Jogos de Sydney 2000.

      O Brasil está no grupo A da Olimpíada e faz sua estreia contra a Austrália (6 de agosto), medalhista de bronze em Londres 2012. Em seguida, terá como adversários o Japão (8), campeão asiático, e as outras três seleções classificadas no Pré-Olímpico Mundial: Belarus (9), França (11) e Turquia (13). A fase de grupos será disputada na Arena da Juventude, em Deodoro, Zona Oeste do Rio de Janeiro. A partir das quartas de final, o basquete feminino terá seus jogos na Arena Carioca 1, dentro do Parque Olímpico, na Barra da Tijuca.