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Por Gabriela Bittencourt, para o EU Atleta — Aberystwyth, País de Gales


O novo coronavírus que surgiu no final de dezembro em Wuhan, província da China, já botou o mundo em estado de alerta em pouco mais de um mês de circulação. Chamado inicialmente de nCoV-2019 e com nome atualizado para Covid-19, este é um subtipo novo do vírus que causou um surto na própria China e em regiões do Oriente Médio em 2002 e 2003. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), já são quase 120 mil casos confirmados pelo mundo até este dia 11 de março. Até o momento, o novo coronavírus causou mais de 4 mil mortes, com uma taxa de letalidade média de 3,48%. Há casos confirmados em em mais de 100 países nos quatro continentes, inclusive o Brasil, que já concentra 36 casos, nenhum letal. As repercussões já atingiram até os Jogos Olímpicos Tóquio 2020, que acontecerá entre 24 de julho e 9 de agosto. A doença afetou o mundo esportivo e mudou o calendário das modalidades. Diante desse cenário, a OMS declarou pandemia para o Covid-19.

Em algumas províncias na China, uso de máscaras cirúrgicas é obrigatória, mas essa medida não é necessária no Brasil — Foto: Unsplash

A OMS, em cooperação com o Fórum Econômico Mundial, montou uma rede de colaboração para compartilhar informações e coordenar operações. Na China, diversas ações são realizadas com foco em tratamento dos casos, entre elas a construção de dois hospitais para que Wuhan tenha capacidade de receber novos pacientes e o bloqueio da doença, como controle de temperaturas em aeroportos e limitação de tráfego de pessoas. Outros países estão em alerta e adotam medidas para manter a situação sob controle, como o Japão, que receberá os Jogos Olímpicos de 24 de julho a 9 de agosto deste ano, e já tem registros da doença. Os organizadores dos Jogos, no entanto, garantem que a Olimpíada não corre risco.

Diretora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Lessandra Michelin comenta que o vírus ainda é novo e a comunidade médica e científica ainda está aprendendo sobre a sua gravidade. O novo coronavírus aparece com sintomas semelhantes àqueles de gripes e resfriados, sem haver quadros que sejam próprios à infecção pelo Covid-19. Por enquanto, a situação é considerada um surto, quando há um aumento no número de registros de uma doença e a transmissão se dá a partir de uma região específica, nesse caso, a China. A situação do coronavírus, portanto, ainda não pode ser definida como uma epidemia ou pandemia.

A médica infectologista enfatiza que não há motivos para pânico. Por ora, no Brasil, ainda que seja verão, muitas pessoas estejam de férias e o país encontre-se às vésperas do Carnaval, quando aumenta a quantidade de turistas, não há motivos para preocupação excessiva, apenas atenção e cuidados adotados para prevenir infecções virais, como lavar as mãos e evitar contato com mucosas. Segundo Michelin, o Brasil é bem avançado quando se trata da parte de vigilância epidemiológica. Há uma mobilização e cooperação entre Ministério da Saúde e comunidade científica, além de apoio da Organização Pan-Americana da Saúde, braço da OMS nos países das Américas. Todos os casos suspeitos são reportados pelos profissionais de saúde à Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, que avaliam, monitoram e informam esses casos para os organismos internacionais competentes.

– O coronavírus não é novidade, mas esse subtipo novo, sim. Ainda é muito cedo e estamos aprendendo sobre a gravidade dele. Mas veja como avançou mundialmente em termos de resposta. Quando houve o caso da influenza, a doença apareceu no México, depois nos Estados Unidos e até mobilizar o mundo levou dois meses. Agora, apenas sete dias depois de ter sido confirmada fora da China, a cepa está genotipada e o mundo inteiro está mobilizado – observa Michelin.

Com o apoio da médica infectologista e de informações do Ministério da Saúde, a seguir, explicamos o que é e como surgiu o novo coronavírus, transmissão, sintomas, prevenção e tratamento, incluindo pesquisas de medicamentos e vacinas.

O Covid-19 é um subtipo do mesmo vírus que causou o surgimento da SARS, em 2002 — Foto: Istock

O que é e como surgiu

O novo coronavírus é parte de uma família conhecida desde a década de 1960, quando o vírus comprometia principalmente crianças pequenas, idosos e imunodeprimidos, na maioria das vezes com um quadro mais brando. Outro subtipo do vírus foi responsável pelo surto de SARS, a síndrome respiratória aguda grave, que se espalhou pelo mundo em 2002 e 2003 com quadros mais complexos.

Essa nova cepa, que ficou conhecida como Covid-19, ainda é uma novidade. Sabe-se que os primeiros casos, com características clínicas como falta de ar, febre e tosse, apareceram na província de Wuhan, na China, em dezembro de 2019. Ao que tudo indica, parece haver relação com o mercado de frutos do mar local, uma vez que os primeiros pacientes que procuraram o hospital e foram internados passaram por esse lugar. No entanto, ainda não há confirmação disso. Na China, a população tem o hábito de comprar animais vivos para a alimentação, o que pode ter favorecido a transmissão do coronavírus de algum animal para humanos pela primeira vez.

Em um momento inicial, não se sabia se tratava-se de uma bactéria ou vírus. Contudo, desde o dia 7 de janeiro a China já tem o vírus sequenciado e com todo material genético desmembrado para que o mundo seja notificado e possa trabalhar no diagnóstico, tratamento e vacina contra a doença.

Letalidade

Ainda é muito cedo para tratar sobre isso. Inicialmente, a letalidade era de 2,8%. Mas o número de casos confirmados aumentou muito sem que a quantidade de óbitos acompanhasse, fazendo com que esse percentual caísse para 2,3%. Mas essa é a porcentagem média. Já se sabe que entre pessoas até 49 anos, a taxa é inferior a 1%. Na faixa etária de 50 a 59 anos, sobre para pouco acima de 1%. Entre os idosos, a preocupação é maior: fica em torno de 4% para quem tem entre 60 e 69 anos, acima de 8% para a faixa etária dos 70 aos 79 e chega a passar dos 14% para os acima de 80 anos.

Transmissão

O novo coronavírus é transmitido por via respiratória através das secreções expelidas por indivíduos infectados. Ao tossir, por exemplo, as gotículas podem alcançar uma distância média de 50 cm a um metro, podendo contaminar pessoas e o local ao redor. Ainda não se sabe por qual prazo o vírus fica no ambiente ou mesmo o tempo que pode levar entre o toque no paciente e o contato das mãos com olhos, nariz e boca sem correr o risco de infecção. Sendo assim, por enquanto, considera-se que a transmissão se dá de pessoa para pessoa, pelo contato direto com as gotículas ou com o ambiente.

Vale comentar que, mesmo sendo expostos ao coronavírus, alguns indivíduos podem não manifestar os sintomas e adoecer, mas, ainda assim, transmitir o vírus. Sem contar que alguns apresentam quadros mais simples, enquanto outros podem desenvolver pneumonia grave e precisar de acompanhamento em unidades de terapia intensiva. Tudo vai depender da capacidade imunológica de cada pessoa. Em alguns casos, o indivíduo pode ter anticorpos mais efetivos ou seu sistema imunológico pode ter uma memória porque já teve contato com vírus semelhante.

O Covid-19 é transmitido pelo:

  • Contato com secreções contaminadas. É o caso de gotículas de saliva, espirro, tosse e catarro;
  • Toque em objetos ou superfícies contaminados e, em seguida, contato com a boca, nariz ou olhos.

O período de incubação do coronavírus é de 2 a 14 dias. Nesse intervalo, o indivíduo estará assintomático, mas ainda assim pode transmitir a doença.

Falta de ar é um dos sintomas do novo coronavírus — Foto: Unsplash

Sintomas

O quadro do novo coronavírus é muito semelhante ao de gripes e resfriados comuns. Não há nenhuma característica que seja específica dessa infecção. Os sintomas são:

  1. Tosse;
  2. Febre;
  3. Falta de ar;
  4. Perda de apetite.

Sintomas de agravamento:

A infecção pode evoluir para uma síndrome respiratória aguda grave. Um dos primeiros sintomas do coronavírus é falta de ar. Porém, se esse quadro piora progressivamente e a pessoa passa a sentir dor e cansaço ao respirar, são indicativos dessa inflamação do pulmão, consequência de uma pneumonia causada pelo vírus. Ao notar esses sintomas respiratórios, portanto, deve-se procurar um médico, pois o paciente pode estar com:

  • Síndrome respiratória aguda grave (SARS)

Importante comentar que esse quadro também acontece entre pacientes diagnosticados com adenovírus ou influenza. Os sintomas são os mesmos em todos esses casos, não havendo um marcador específico do Covid-19.

São sinais da síndrome respiratória aguda grave, principal complicação do coronavírus:

  1. Dor no pulmão;
  2. Cansaço ao respirar.

No diagnóstico, é levado em conta se pessoa realizou viagem à China nos últimos 14 dias ou se teve contato com alguém que esteve naquele país — Foto: Istock

Diagnóstico

Como os sintomas se assemelham muito àqueles de gripes e resfriados, é preciso procurar um médico ao notar os sinais. No entanto, se a pessoa não teve alguma ida à China nos últimos 14 dias nem teve contato com alguém que esteve naquele país, provavelmente o caso não será de coronavírus. Lembrando que, como esse é um vírus novo, os protocolos para contingência, diagnóstico e tratamento são atualizados conforme novas informações são divulgadas.

Fatores considerados no diagnóstico:

  • Presença de sintomas;
  • Viagem à China nos últimos 14 dias;
  • Contato com pessoa que esteve naquele país.

No momento, também são retiradas amostras do trato respiratório de cada paciente suspeito, que são levadas para análise por um protocolo molecular chamado de RT-PCR, que confirma o resultado em até 72 horas.

Tratamento

Por enquanto, o tratamento visa oferecer suporte clínico e uso de medicamento para os sintomas, como febre, bem como procedimentos que possam ajudar os pacientes que apresentam dificuldades para respirar ou a síndrome respiratória aguda grave. Há terapias em pesquisa. Um dos medicamentos estudados é lopinavir. Usado no tratamento do HIV, vem apresentando boas respostas nesses casos, porém ainda em critério de pesquisa. Ribavirina e interferon também estão sendo testados. É importante ainda repouso e hidratação.

Lavar as mãos é uma das medidas para prevenir infecção pelo coronavírus — Foto: Pixabay

Prevenção

Em algumas províncias chinesas, o uso de máscaras cirúrgicas é obrigatório. No Brasil, esses acessórios não são necessários em princípio.

- Geralmente o doente não usa máscara para não contaminar o ambiente. Então para quem transmite tem seu papel, por isso os chineses usam máscaras quando estão doentes, para não contaminar o ambiente de outras pessoas. Mas o papel da máscara na prevenção é só quando há risco biológico e você vai usar por pouco tempo. Porque à medida que você usa, a respiração e a fala acabam umedecendo a máscara e ela perde o poder de filtração. Ou seja, ela protege, mas por um tempo limitado. A não ser que se fique trocando as máscaras - explica a infectologista.

As recomendações para prevenção são as mesmas indicadas para evitar qualquer infecção por vias aéreas, além da orientação para evitar viagens à China. Lembrando que no Brasil, atualmente, é período de circulação do influenza B. De tal forma, ao adotar as medidas a seguir, é possível evitar o contato com esse vírus, que também causa infecção aguda do sistema respiratório.

As dicas para prevenir a infecção pelo coronavírus são:

  • Lavar as mãos com bastante frequência e ter sempre álcool em gel à disposição, para momentos em que não tiver acesso à banheiros;
  • Manter o que se chama de etiqueta respiratória, ou seja: não tocar mucosas de olhos, nariz e boca, para evitar o contato com o vírus e infecções. Outra medida é cobrir a boca com o braço ao tossir ou respirar. Não se deve usar as mãos nessas horas, uma vez que será preciso usá-las para abrir portas, por exemplo, que ficarão contaminadas e transmitirão o vírus para a próxima pessoa que abri-las;
  • Cuidar da alimentação e da hidratação. Essa medida é importante para manter-se saudável e garantir uma boa resposta imunológica;
  • Não dividir copos e talheres;
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com frequência;
  • Evitar viagens à China.

Cientistas trabalham para desenvolver vacina contra o coronavírus, que levará tempo para estar disponível em unidades de saúde pelo mundo — Foto: Pixabay

Vacina

Em alguns países, como os Estados Unidos e a própria China, em uma parceria com a Rússia, pesquisadores trabalham para desenvolver vacina contra o coronavírus. Nesse processo, é preciso testar sua eficácia e segurança, o que pode levar muito tempo. No caso desse vírus, é importante lembrar que tem uma mutação rápida. Não é possível estimar, por enquanto, quando essa imunização estaria disponível para distribuição pelas redes de saúde.

Apenas uma emergência mundial poderia acelerar esse processo, como aconteceu no caso do H1N1, em 2009, quando houve uma epidemia de alta complexidade e muitas vítimas fatais. A OMS, por meio de seu comitê de vacinas, acompanha casos como o do coronavírus e se reúne com especialistas do mundo inteiro para orientar essas decisões. Sem contar que ainda há reuniões entre gestores dos países para tratar sobre esses temas. É preciso, portanto, que a vacina tenha o mínimo de eficácia e segurança e que seu agente seja muito grave para que sua distribuição seja agilizada, como aconteceu no caso do H1N1.

Fake news

Mensagens de Whatsapp têm compartilhado o boato de que vitamina C seria eficaz para a prevenção do coronavírus e de que erva-doce teria as mesmas propriedades do Tamiflu (Oseltamivir), remédio usado para tratamento de gripes como H1N1, e que seria eficaz também contra o Covid-19. São fake news. Não há nenhuma evidência da eficácia de nenhum dos dois produtos, e erva-doce não tem Oseltamivir entre seus princípios ativos.

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