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De dependente química a corredora: publicitária opta por vida saudável

A carioca Livia de Paula usava drogas, fumava e bebia, até encontrar tratamento e perceber que a corrida seria uma excelente aliada

Por Rio de Janeiro

euatleta - header minha história (Foto: Editoria de Arte / GLOBOESPORTE.COM)
livia de paula eu atleta 2 (Foto: Editoria de Arte/Globoesporte.com)

Meu nome é Livia de Paula, tenho 29 anos, sou publicitária, solteira e moro no Rio de Janeiro. Com 15 anos, comecei a beber (qualquer bebida alcoólica) e fumar cigarros. No mesmo ano, experimentei uma droga ilícita que até hoje é considerada, de forma equivocada, como uma droga leve e natural. Os anos passaram e comecei a usar drogas mais pesadas. A dependência química é uma doença progressiva e, com o passar do tempo, eu precisava cada vez mais e de doses maiores. Quando me dei conta, já havia perdido o pouco que eu conquistara em minha vida estudantil, profissional e pessoal, havia perdido o controle da minha vida.

Em 2010, por conta da minha dependência química, não tinha mais condições de me sustentar e voltei a morar com meus pais, que em poucos meses notaram que eu não estava bem e tentaram me internar. A clínica não aceitava internação forçada e acabei indo para casa, mas me comprometi a começar um tratamento ambulatorial com um psiquiatra que me atendeu na clinica. Em janeiro de 2011, comecei o tratamento, mas ainda não tinha sido diagnosticada como dependente química. Eu até queria parar de usar, mas a vontade, a compulsão e obsessão eram mais fortes. Uma das últimas vezes usei chorando, pois não queria; eu realmente não queria e não aguentava mais usar.

Livia minha história eu atleta (Foto: Arquivo Pessoal)Livia de Paula, hoje, corre, pedala, malha e participa de trilhas (Foto: Arquivo Pessoal)euatleta - header minha história mudança (Foto: Editoria de Arte / GLOBOESPORTE.COM)
Logo depois que completei 28 anos, passei mal algumas vezes, pois já estava misturando drogas estimulantes com calmantes e não tinha coragem de pedir a ajuda aos meus pais"
Livia de Paula

Logo depois que completei 28 anos, passei mal algumas vezes, pois já estava misturando drogas estimulantes com calmantes e não tinha coragem de pedir a ajuda aos meus pais. Quando isso acontecia, sentia que a qualquer momento alguma coisa de grave poderia acontecer comigo, com a minha vida. Foi assim que pedi aos meus pais que me levassem para a clínica, e eles me levaram. Com um mês de internação, os sintomas de abstinência, mesmo com os remédios, eram ruins. Um dia, notei que um rapaz corria diariamente e ele me disse que isso o deixava mais relaxado. Fui conversar com a professora de Educação Física da clínica para saber quais eram os beneficios de correr e, quando ela disse que era excelente para produção de endorfina, serotonina e dopamina, eu não tive dúvidas, comecei a correr.

Nas primeiras vezes, corria descalça, pois não tinha tênis apropriados e, em umas duas semanas, comecei a sentir dores fortes nos joelhos. Depois, fui orientada a comprar tênis apropriados. Assim que recebi alta médica, voltei para casa, me matriculei em uma academia, comecei a fazer musculação, principalmente para fortalecer as pernas, e continuei correndoeuatleta - header minha história desafio (Foto: Editoria de Arte / GLOBOESPORTE.COM)

Minha família, meus parentes e amigos me ajudaram e sempre me apoiaram muito, mas devo todas as vitórias conquistadas e cada medalha de participação das maratonas que trago para casa aos grupos de mútuo-ajuda. Sem dúvida, são esses grupos que estão salvando minha vida e me dando a condição de ser uma atleta, de ter uma nova vida. Minha última grande vitória foi com o cigarro. Estava sentindo que com o ritmo de treinos não havia mais espaço para o cigarro. Já estou há mais de dois meses sem fumar.euatleta - header minha história desafio (Foto: Editoria de Arte / GLOBOESPORTE.COM)

É não usar nenhuma droga que altere meu humor e minha consciência. Eu sei que se eu acordar, ler meu livro preferido -"Só por hoje"-, for para academia para dar aquela corrida, depois cumprir com minhas obrigações e, à noite, ir ao grupo, agradecer pela vida que tenho, será um dia bem sucedido. Ao chegar em casa e deitar na minha cama, vou conseguir dormir bem, pois mais um dia passou e eu não precisei ir na primeira dose. Tenho também um desafio que é um sonho: fazer o caminho de Santiago de Compostela.

euatleta - header minha história compartilhar (Foto: Editoria de Arte / GLOBOESPORTE.COM)

livia 2 minha história eu atleta (Foto: Arquivo Pessoal) Livia não dispensa uma corrida (Foto: Arquivo Pessoal)

O dependente químico não é um malandro ou “sem vergonha”, é um doente e precisa de tratamento. Com certeza, a prática de esporte e exercícios físicos ajudam muito na recuperação da dependência química. Comecei dando cinco voltas em torno do campo de futebol da clínica, e quando saí de lá, já estava correndo 40 minutos por dia. Hoje estou limpa (termo utilizado para quem não usa mais drogas) há um ano e um mês, e estou há dois meses sem nicotina. Consigo correr 8km, pedalo 35km e faço musculação. Estou recuperando a saúde perdida com uso de drogas. Se eu consegui, qualquer um pode conseguir, mas, para isso, como diria Raul Seixas, “Basta ser sincero e desejar profundo. Você sera capaz de sacudir o mundo, vai, tente outra vez”. Eu nunca vou desistir de mim. Não desista de você! 

euatleta card qual é a minha história (Foto: Editoria de Arte / GLOBOESPORTE.COM)