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Por Paulo Taroco — Presidente Prudente, SP


Uma grande dose de motivação e a certeza de que parar fica mais distante de ser "plano A". A volta para casa da velocista Jerusa Geber dos Santos não somente deu ânimo ao time dela quanto a buscar ouro inédito nas Paralimpíadas de Paris, como também para a manutenção do recorde mundial nos 100m, assegurado desde 2019 na categoria T11 (deficiência plena da visão).

As conquistas mais recentes foram alcançadas no Mundial de Atletismo Paralímpico de Kobe. Na volta da equipe para o Brasil, na escala no Oriente Médio, o técnico e marido da velocista, Luiz Henrique Barbosa da Silva, comentou o valor das duas medalhas obtidas no Japão: ouro na especialidade (100m) e bronze nos 200m.

Atleta-guia Gabriel Garcia, técnico Luiz Henrique e velocista Jerusa Geber dos Santos estiveram no Mundial de Kobe, onde o trio que treina no Oeste Paulista conquistou dois pódios — Foto: Luiz Henrique Barbosa da Silva / Cedida

A mulher totalmente cega mais rápida do mundo, há quase cinco anos, tem 42 de idade. E o responsável pela preparação da acreana, em Presidente Prudente, onde criaram raízes no Oeste Paulista, distou a possibilidade do Time parar após os Jogos na França.

Continuar competindo no alto rendimento é consequência. Não tem nada que a gente goste mais do que o esporte. Apesar de ser bem intenso, é uma coisa que nos ajuda, é uma forma de felicidade. E vamos agindo de forma natural. Em 2016, havíamos pensado em parar, mas o Criador quis que continuássemos. Enquanto tiver resultado e a Jerusa quiser, vamos continuar competindo
— Luiz Henrique Barbosa da Silva, técnico e marido de Jerusa dos Santos.

Em Kobe, o ouro nos 100m veio com o tempo de 11s93. A marca ficou 10 centésimos acima do recorde mundial, estabelecido por ela em março de 2023, um mês antes de completar 41 anos. Em 2019, o primeiro recorde estabelecido por Jerusa, às vésperas do Mundial de Dubai, era de 11s85.

Dobradinha brasileira nos 100m T11 (deficiência visual plena) teve Jerusa Geber e Lorena Spoladore — Foto: Takuma Matsushita/CPB

Contudo, o meio do caminho entre os dois recordes teve a frustração nos Jogos de Tóquio, em 2021. Um problema na corda-guia tirou a chance do inédito ouro em Paralimpíadas. Para amenizar o prejuízo, a dupla formada com o atleta-guia prudentino Gabriel Garcia trouxe o bronze nos 200m – feito repetido em Kobe.

O torneio no Japão entrou na agenda deste ano ao ser remarcado, em razão da pandemia da Covid-19 em 2021. No ano passado, Jerusa foi ouro nos 100m e nos 200m na edição de Paris. Na ocasião, estabeleceu o recorde nos 100m em provas de Mundial (11s89).

Neste ano, não conseguiu repetir o feito nos 200m e viu a chinesa Cuiqing Liu (32 anos) correr 24s36 e estabelecer recorde mundial na prova. Mesmo assim, mostrar que segue em dia nos 100m foi algo celebrado pelos brasileiros.

– O que mais motiva um atleta a parar é não fazer resultado. Porém, o Criador tem mostrado caminhos alternativos para continuarmos no esporte de alto rendimento. E a questão da idade, a ciência do esporte fala sobre isso, mas temos superado também – disse o treinador.

Nos 200m, Jerusa e Gabriel (à esq.) ficaram atrás de chinesa e da compatriota Thalita Simplício — Foto: World Parathletics/Divulgação

A velocista paralímpica é também a maior medalhista do Brasil em mundiais. A conta agora chegou a 11 pódios. A fase crítica de 2016, mencionada por Luiz Henrique, envolve eliminações nos Jogos do Rio, nas semifinais dos 100m e 200m. Jerusa ainda ficou fora do revezamento 4x100m, o que gerou polêmica extrapista.

O Time da Jerusa se prepara no Oeste Paulista há quase 15 anos. O auge recente foi conquistado em meio a um período difícil em Prudente, uma vez que o atletismo da cidade treinou durante boa parte desse período com a pista em estado comprometido, impondo improvisos, e depois aguardou reforma, entregue no começo deste ano.

A previsão é de descanso nos próximos dias. Gabriel Garcia deve voltar antes, pois tem em jogo também suas metas individuais, ainda na prova mais rápida da modalidade. Ele é filiado pelo paulistano Pinheiros. Outro integrante do time, Vinícius Rocha Moraes (filiado por uma equipe de Santos) vive situação parecida.

Preparação recente em Presidente Prudente envolveu improvisos, como treinos em quadra com piso de concreto — Foto: Cedida

Vinícius é o atual sexto colocado do ranking nacional nos 100m, e Gabriel – integrante do revezamento 4x100m no último Mundial, nas Bahamas – está uma posição acima. No fim de junho, haverá o Troféu Brasil. Já Jerusa ainda analisa se participará de disputas oficiais até Paris.

– Falo para ninguém do time ficar marcando data para parar. Quando você faz isso, naturalmente já começa a desistir, e os resultados não saem. É tentar lutar com alegria. A hora que não conseguirmos mais, daí é se ausentar. Mas não há data definida – finalizou o treinador.

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