Nesta quinta-feira (20), a velocista falou acerca do atual contexto ao lado do marido e treinador, Luiz Henrique Barbosa da Silva. A seguir, o atleta-guia Gabriel Garcia se juntou à dupla para um bate-papo ao vivo no Fronteiras Notícias 1ª edição – telejornal da TV Fronteira, afiliada Globo (veja acima). O "Time" retornou a Presidente Prudente, no Oeste Paulista, onde treina, na última quarta (19). Luiz chegou um dia antes. E a sequência poderá envolver ainda desfile pelas ruas da cidade.

Enquanto as comemorações trazem desdobramentos, a paratleta e o treinador responderam questões voltadas a vários elementos dos bastidores da conquista. Em 2021, em Tóquio, o sonho do ouro paralímpico nos 100m, especialidade de Jerusa, ficou pelo caminho por causa do rompimento da corda-guia.

O bronze nos 200m pela categoria T11 (deficiência plena da visão) serviu como consolo, mas não escondeu a frustração acumulada anteriormente. O abalo psicológico perdeu força – felizmente –, e a primeira grande resposta chegou em março, quando ela melhorou o recorde mundial nos 100m, com 11s83 em uma etapa nacional. Até o bicampeonato mundial ser conquistado em Paris.

– Sim, o sentimento, sem dúvida, é de dever cumprido. Porque a gente conseguiu fazer tudo que a gente não conseguiu fazer em Tóquio, onde teve toda aquela tristeza, de cordinha quebrada. E, mesmo assim, a gente ainda trouxe um bronze para comemorar. Agora foi tudo muito incrível. Esse resultado sensacional, nem esperava tudo isso que eu fiz nos 200m. Foi só alegria – disse Jerusa dos Santos.

– É o sentimento de gratidão ao Criador também, por, primeiramente, nos proporcionar esse momento. Assim como a Jerusa relatou sobre Tóquio, teve toda aquela tristeza, e a gente continuou firme, na fé, como o time sempre foi, na união entre os irmãos, entre os meninos que treinam com a gente. Na linha de frente, a Jerusa e o Gabriel, eu como treinador ali, organizando as coisas, e mais uma vez Ele nos proporcionou esse momento maravilhoso, que transcende alegria para todos. A Jerusa relatou também sobre os 200m, que foi uma prova incrível. A gente sempre se preparava mais para os 100m, e aí a gente falou: "Vamos começar a dar uma batizada nos 200m." Porque os 200m sempre acabam salvando, e demos uma enfatizada nos treinamentos. E lá eles conseguiram fazer a prova perfeita – comento Luiz Henrique.

Coletividade e fé – novamente ela – ocupam lugar primordial quando perguntado o porquê de o tempo deixar a "coisa cada vez melhor". Nessa hora, Jerusa dos Santos atribuiu ao trabalho em conjunto o peso de grande ferramenta para vencer os desafios.

Já o treinador complementa valorizando o lado da crença. Entretanto, para que ele produza efeito, pedir, seguir ritos e até acreditar podem ser pouco, caso o ouvido não esteja também treinado – a ponto de escutar os mínimos detalhes.

– De uma forma, é como se sussurrasse nos meus ouvidos o que eu devo fazer com a Jerusa, com o Gabriel e com o time inteiro. O "Time da Jerusa" foi criado justamente nisso, para dar suporte à Jerusa em um primeiro instante, mas também acolher os outros irmãos, que eram, que foram desacreditados em algum momento da vida. E a gente acolheu esses meninos. A gente cumpre aquele mandamento, amar o Criador, amar o próximo como a ti mesmo e o Criador sobre todas as coisas. Tem uma base muito sólida para que a bênção venha.

Acreana, porém enraizada no interior paulista, Jerusa dos Santos é uma das exceções dentro da seleção brasileira de medalhistas na França. A maior parte dos que alcançaram o pódio treinam na estrutura oferecida pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), na zona sul de São Paulo.

Não apenas diferente, a realidade do "Time" atravessou um período ainda mais desafiador em Prudente, já que a reforma da pista de atletismo da cidade teve que vencer longo processo burocrático, de aproximadamente 10 anos. Iniciada em junho de 2022, a obra tem sua conclusão aguardada ainda para este ano.

Em meio ao calendário interno, a velocista tem à frente o Parapan, no Chile, em novembro. Só que a conversa acabou enfatizando o alvo maior, não escondido pela equipe. O objetivo é voltar a Paris e dar sequência à corrida, ou melhor, ao "voo" que o "Time" já mostrou ser capaz rumo ao ouro paralímpico.

– Eu me sinto muito bem preparada. Se fosse preciso fazer tudo de novo, eu faria na competição, porque eu estou me sentindo muito bem, sem dores, sem lesão. Então, claro, para o ano que vem, eu acredito que a gente vai estar mais forte ainda – garantiu Jerusa.

– Eles estão melhorando cada vez mais, todos. É uma bênção que o Criador derrama sobre a gente, sabe? E a gente fica muito feliz, é um crescimento mesmo do grupo. Isso é bacana de ver – disse o treinador sobre a evolução vista.

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