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Por Raylane Martins — Maringá


O Maringá tem o mesmo treinador no comando desde abril de 2021. Em cinco temporadas, Jorge Castilho coleciona 100 jogos à frente do Dogão. Ele chegou ao clube paranaense em agosto de 2020 como auxilia e vem testemunhando a evolução do clube, com participação direta nos resultados em campo.

Jorge Castilho chega a 100 jogos no Maringá: "Não penso em sair tão cedo"

Jorge Castilho chega a 100 jogos no Maringá: "Não penso em sair tão cedo"

É uma marca expressiva, que poucos treinadores atingiram. Tenho minhas pretensões como treinador, mas priorizo as pretensões do clube, por isso cheguei até aqui. No que depender de mim, não penso em sair tão cedo. Seguirei trabalhando, buscando conquistar títulos, calendário, acessos.
— Jorge Castilho, em entrevista exclusiva ao ge

Na soma dos 100 jogos, o Maringá considera o Torneio Paraná de Verão, um torneio amistoso chancelado pela Federação Paranaense de Futebol. Neste balanço, o treinador tem 56% de aproveitamento no comando, das 49 vitórias, 22 empates e 29 derrotas. Contando apenas jogos oficiais, o jogo 100 será daqui cinco rodadas, no primeiro jogo do mata-mata da Série D.

— Eu chego um profissional ao Maringá em 2020, e hoje sou outro profissional, também graças à ascensão esportiva do Maringá e ao respaldo que a diretoria me dá para trabalhar. Há uma confiança no que a gente faz, e todo treinador sonha com isso. É ter tranquilidade para trabalhar. Passamos por momentos ruins como todo treinador passa, e a diretoria sempre me acolheu. Isso faz com que você evolua dentro da sua profissão - destaca.

A ascensão do Maringá é notória, todos falam sobre isso. Quem não conhecia, passou a conhecer. É só olhar os resultados. Fizeram com que todos crescessem. Quando cheguei aqui tínhamos uma estrutura, hoje temos outra - reforça Jorge Castilho.

Cinco temporadas

Ignorando a passagem pelo Ipatinga, em 2022, enquanto Maringá não tinha jogos, Jorge Castilho é o quarto técnico mais longevo do futebol brasileiro, perdendo apenas para Abel Ferreira, do Palmeiras, que iniciou o trabalho em outubro de 2020, e para outros dois técnicos da Série D: Chiquinho Viana, do São Raimundo-RR,está à frente do clube roraimense de forma consecutiva desde 2011; Duzinho Reis, do Real Noroeste-ES, está à frente da equipe desde 2019.

No mesmo recorte de tempo entre 2020 e 2024, o Vasco, por exemplo, vai para o seu 15º treinador entre efetivados e interinos.

  • 2020: 3 jogos – 3 vitórias
  • 2021: 11 jogos – 4 vitórias - 3 derrotas – 4 empates
  • 2022: 17 jogos – 8 vitórias – 5 derrotas - 4 empates
  • 2023: 37 jogos – 16 vitórias – 8 derrotas – 13 empates
  • 2024: 32 jogos – 18 vitórias – 6 derrotas – 8 empates

Onde a história começa

Castilho precisou superar uma fase difícil, principalmente no início do trabalho. Nascido e criado na comunidade do Santa Rosa, em Guarujá, ele chegou a jogar profissionalmente em Minas Gerais e São Paulo, e voltou à cidade natal para começar a carreira como técnico.

— Eu sempre tive isso comigo de trabalhar com futebol. Comecei trabalhando nas categorias de base como treinador e nutri o sonho, nunca fugiu da minha mente, do meu querer. Na minha cidade, parecia as vezes muito distante, até que veio a proposta do Maringá e acreditei que era possível. Fui me preparando e me qualificando, e sigo me qualificando até hoje, todos os dias - contou Jorge Castilho ao ge.

Em 2020, o Maringá estava na Segundona, e até 2023, não tinha calendário que ocupasse mais que um semestre da temporada. O treinador precisou recorrer ao trabalho como motorista de aplicativo para complementar a renda.

Vice do Paranaense, Jorge Castilho conversa com Maringá e aguarda propostas

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— Não tínhamos mais calendário, e eu precisava levar o sustento para casa de alguma forma. Foi uma alternativa que eu encontrei, que me ajudou bastante na parte financeira. Foi só enquanto ficamos sem calendário, mas foi um momento bacana em que eu pude crescer também como ser humano, vendo as coisas de outra forma - lembra.

Em 2021, quando Jorge Castilho assumiu a equipe como treinador pela segunda vez, o Maringá estava em situação delicada no Campeonato Paranaense, na zona de rebaixamento.

Vitória sobre o Flamengo e finais

Entre Paranaense, Copa do Brasil, Série D e Torneio Paraná de Verão - chancelado pela Federação Paranaense como jogo oficial - as lembranças preferidas de Jorge Castilho nos levam à reta final do Estadual de 2022, e a um jogo histórico contra o Flamengo na Copa do Brasil de 2023.

Jorge Castilho comanda o Maringá desde 2020 — Foto: Assessoria de Imprensa

— O jogo contra o Operário, na semifinal do Campeonato Paranaense de 2022, ficou marcado. Chegamos a final depois de um jogo eletrizante no Willie Davids. Ganhamos nos pênaltis. Foi o primeiro trabalho que iniciei e terminei como treinador, levando o time à final.

Outro jogo foi, claro, aquele em casa, contra o Flamengo. Fomos felizes. Ganhamos por 2 a 0 com o Willie Davids lotado de apaixonados, tanto pelo Flamengo quanto pelo Maringá. O estádio cheio, a maneira como ganhamos, cumprindo tudo que planejamos… está na história - elege Castilho.

No jogo que marcou o centésimo de Jorge Castilho no comando da equipe, o Maringá venceu o Pouso Alegre com gol aos 50 minutos do segundo tempo, de Léo Ceará. A partida foi no último sábado, pela 10ª rodada da primeira fase do Brasileiro da Série D. Com a vitória, o Dogão chegou a 23 pontos em dez jogos e assumiu a liderança do grupo. O próximo jogo é no domingo, contra a Patrocinense, no Willie Davids, às 18h30.

Resumão

Castilho conseguiu o acesso para a elite do Paranaense em 2020 na primeira experiência como treinador do Dogão, como técnico interino, por três rodadas. Ele não esteve na final do campeonato porque positivou para Covid e ficou fora da decisão diante do Azuriz.

— Eu e mais seis ou sete membros da comissão técnica positivamos para COVID e eu não tive a felicidade de estar naquela final entre Maringá e Azuriz. Perdemos em casa e tivemos que ganhar fora. O momento que mais me deixou chateado aqui foi esse. Não poder contribuir na beira do campo para o título - lembra.

Em 2021, Jorge Castilho novamente iniciou a temporada na função de auxiliar, mas virou técnico depois de quatro jogos do Paranaense e conseguiu a classificação para as quartas de final. Depois de efetivado, Castilho levou o Dogão ao vice estadual no ano seguinte, em 2022, diante do Coritiba. Os resultados garantiram vagas na Copa do Brasil e Série D de 2023.

Jorge Castilho, técnico do Maringá — Foto: Assessoria de Imprensa

Como o calendário do Maringá terminou em 3 de abril de 2022 naquela temporada, o clube resolveu ceder Castilho para o Ipatinga. A passagem pelo time mineiro interrompe a longevidade do treinador no cargo no Maringá.

— Garantimos as vagas para o ano seguinte, mas não tivemos mais calendário. Houve um acordo entre Maringá e Ipatinga para que eu pudesse ter sequência. Aceitei a proposta e fui muito feliz lá, ao levar o time, depois de treze anos, para a primeira divisão do Campeonato Mineiro - explica.

Em 2023 Castilho alcançou a marca do treinador com maior número de jogos pelo Maringá. Depois de ter sido eliminado nas semifinais do Paranaense pelo Athletico, o time fez história ao chegar até a terceira fase da Copa do Brasil e assustar o Flamengo. Na segunda fase da Série D do Brasileiro, o time caiu para o Camboriú. Castilho deu sequência ao trabalho em 2024.

Em busca do acesso

O vínculo atual de Jorge Castilho vai até o final deste ano. Depois de ter sido vice-campeão no Paranaense, perdendo a final para o Athletico, o sonho do comandante é levar o Maringá à Série C do Campeonato Brasileiro.

— Chegamos a nossa segunda final de Campeonato Paranaense neste ano. Sabíamos da dificuldade contra o Athletico, mas foi um jogo para desfrutar de tudo que fizemos no primeiro semestre da temporada. Estar na final premiava o nosso trabalho. Tínhamos esperança e acreditávamos no título, mas infelizmente o resultado que o Athletico fez em Maringá facilitou a vida deles - analisa.

— Estamos vivendo um grande momento na Série D. Somos líderes do campeonato, com uma campanha muito sólida e consistente. Tivemos uma única derrota, que nem condiz com o que foi o jogo. O que estamos apresentando em campo nos faz acreditar no acesso. Não posso negar, acreditamos muito nisso. Mas vamos passo a passo, com pés no chão, porque a chave é muito difícil. Somos líderes com muito empenho, e temos que estar atentos - reconhece.

Para correr atrás dos objetivos, Jorge Castilho aposta na gestão do grupo, aproveitando as referências que abraçou desde o início da carreira como treinador.

Felipão, Luxemburgo, Mano Menezes e Tite. São treinadores que eu sempre admirei na maneira como conduziam seus elencos. Os relatos dos jogadores e de pessoas próximas a esses treinadores falam por si. Fui me identificando, são inspirações, e tem um pouco de cada um em mim, na parte de gestão, do trabalhar com pessoas.

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