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Por Rodrigo Saviani — Londrina


Técnico do Maringá, Jorge Castilho admite que viverá um sonho de menino ao entrar no Maracanã para encarar o Flamengo, em jogo decisivo valendo vaga nas oitavas de final da Copa do Brasil. Os times se enfrentam nesta quarta-feira, às 21h30.

Aos 41 anos, Castilho só consolidou como treinador recentemente. Antes disso, enquanto buscava um espaço, precisou alternar trabalhando como motorista de aplicativo, isso há dois anos. Agora ele vivencia o maior momento da carreira, nestes confrontos com o Flamengo.

Técnico do Maringá fala sobre o jogo com o Flamengo: "É uma vantagem considerável"

Técnico do Maringá fala sobre o jogo com o Flamengo: "É uma vantagem considerável"

No jogo de ida, o Maringá venceu por 2 a 0, no Willie Davids. Com isso, o Dogão, como é conhecido o time, pode perder por até um gol e mesmo assim se classifica. O Flamengo tem que ganhar por três gols para se classificar – se vencer por dois gols, a decisão será nos pênaltis.

– Um filme está passando pela cabeça desde o primeiro jogo com o Flamengo, que foi histórico para a cidade, para o clube, para nós, comissão técnica e jogadores. Passar para o Maracanã na condição que estamos indo, com dois gols de vantagem, no templo do futebol... é o sonho de todo menino de conhecer o Maracanã, imagina trabalhar em um jogo desse – disse Castilho, em entrevista ao ge.

Às vezes a gente ainda pensa que é um sonho, que não está acontecendo. Um momento bacana na carreira, na vida, onde as pessoas que estão sempre torcendo por nós ficam felizes também. Um momento único
— Jorge Castilho, técnico do Maringá

No papo com o ge, Jorge Castilho contou a história no futebol, o momento com o Maringá, as inspirações como técnico e os planos para enfrentar o Flamengo. Com o 2 a 0 na ida, ele quer aproveitar a vantagem, mas pede equilíbrio para conseguir sair com a vaga.

– Nós temos que entrar sabendo da vantagem que temos. Mas não podemos esperar 90 minutos e ficar com o regulamento debaixo do braço. Nós temos que competir, temos que tentar jogar. Vai ser difícil, mas temos que tentar jogar. Suportar a pressão do Flamengo, que não vai ser fácil, nos primeiros minutos. Se atacar, vamos ser precisos na conclusão. Contra o grande você não pode perder o gol.

–Não é a nossa ideia de fechar, mas não vou ser hipócrita de falar que se precisar baixar um pouquinho, nós vamos baixar, sim. Vamos sentir o jogo, vamos entrar para jogar, para competir. Se a gente quiser igualar o jogo para técnica, nós vamos ter prejuízo. Temos que levar o que temos de melhor, que é a força, é a disposição, é a entrega. Isso não vai faltar.

História no futebol

– Eu tentei ser jogador, fui até profissional, mas não dei sequência. Tive base boa, de América-MG e Villa Nova-MG, mas parei cedo, precisei trabalhar para ajudar a família. Fui trabalhar, e trabalhando com o sonho de estar ainda no meio do futebol, estudando, trabalhando com projetos na minha cidade, o Guarujá.

– Cheguei no time profissional em 2014, no Guarujá, onde fui atleta, e não parei mais. Base da Portuguesa Santista, no São Vicente-SP, até chegar aqui no Maringá em 2020 como auxiliar-técnico.

Consolidação no Maringá

No Maringá, Castilho começou como auxiliar, mas logo teve que assumir o comando do time. Em 2020, o Dogão era o líder invicto na Segunda Divisão do Paranaense, mas acabou demitindo o técnico Beto Portella. Jorge Castilho foi efetivado e conquistou o acesso à elite do estadual.

Em 2021, Castilho voltou ao cargo de auxiliar, mas não demorou para ser a opção à beira do gramado. Após quatro rodadas sem vencer no estadual, o clube optou pela saída de Marcos Soares. Desta vez, Jorge Castilho conseguiu evitar o rebaixamento no fim e ainda classificou o time para as quartas de final.

O desempenho fez a diretoria do Maringá optar por manter Castilho no comando no ano seguinte. Em 2022, ele levou o clube à final do Paranaense, perdendo para o Coritiba. Ainda no ano passado, como o Maringá não tinha calendário após o estadual, o treinador foi emprestado ao Ipatinga, conseguindo por lá o acesso à primeira divisão do Mineiro.

De volta ao Maringá, Castilho foi semifinalista do estadual, está na terceira fase da Copa do Brasil e mira a Série D do Brasileiro.

– Passamos por muitas situações para chegar nesse momento. Agradeço a Deus por isso, sou muito grato a diretoria do Maringá, que apostou. A gente sabe que trabalhar no futebol brasileiro, em clube pequeno, é muito difícil. O Maringá está crescendo, já é uma potência no Paraná, acho que em breve será uma potência no futebol nacional, vai demorar um pouco, mas vai chegar – disse Castilho.

Motorista de aplicativo

Técnico do Maringá, Jorge Castilho relembra trabalho como motorista de aplicativo

Técnico do Maringá, Jorge Castilho relembra trabalho como motorista de aplicativo

Em 2020, depois de conseguir o acesso com o Maringá à primeira divisão do Paranaense, Jorge Castilho não tinha confirmada uma permanência no clube para o ano seguinte. Com isso, ele precisou recorrer ao trabalho de motorista de aplicativo.

– Em 2020, quando eu vim para cá (para Maringá), eu estava antes trabalhando na prefeitura de Guarujá, onde eu tinha uma renda salarial muito alta, tinha acabado de comprar um apartamento na minha cidade. E eu recebi o convite para vir para o Maringá, para ser auxiliar, em um projeto audacioso, que poderia dar uma bagagem dentro do futebol. Eu acreditei, largando uma renda muito alta que eu tinha para vir para cá como auxiliar.

– Acabando o estadual, eu fiquei desempregado, não tive proposta, mesmo com o acesso, e eu tinha dentro de mim que eu ia continuar com o futebol. Já tinha uma conversa de retornar em 2021, mas eu só ia ter registro em 2021. Eu optei pelo aplicativo. Foi um período que cresci muito como ser humano, onde pude trabalhar com inúmeras pessoas que entravam no carro. Feliz, não escondo isso de ninguém, trabalhei bastante mesmo.

Inspirações como treinador

Jorge Castilho conta que tem três treinadores como referência: Felipão, Vanderlei Luxemburgo e Tite:

– Eu sou um jovem com cabeça de antigo, tenho essas três inspirações como treinador. O Felipão na questão de gestão, o Luxemburgo também. Tite é aquele que é paizão, que tem a gestão, o corpo de inteligência, que é o staff, a gestão de comissão técnica, isso o Tite, na minha concepção, ele é o melhor.

Técnico do Maringá completa 50 jogos no clube e recebe placa das mãos de Felipão

Técnico do Maringá completa 50 jogos no clube e recebe placa das mãos de Felipão

Coincidentemente, ele recebeu das mãos do próprio Felipão uma placa comemorativa pelos 50 jogos no comando do Maringá, antes de uma partida contra o Athletico, pelo Paranaense.

– Ainda tem mais essa, uma das minhas inspirações que tenho no futebol. Tenho algumas inspirações como treinador, ele é o primeiro. Não tem preço. O futebol me traz alguns momentos que são inesquecíveis para minha vida, por tudo aquilo que passei para chegar até aqui. Acredito que Deus está me coroando com essas conquistas, com esses resultados. Fico feliz por isso.

Sobre o estilo, Jorge Castilho reconhece que faz parte dos treinadores com estilo “linha dura”:

– Eu sou bravo. Fora do campo eu sou mais amigo, mas no vestiário eu fico nervoso, berro, xingo, perco a linha. Mas faz parte. O vestiário é um momento nosso, onde o jogador precisa entender aquilo que a gente quer. É uma fala antiga do futebol, mas é moderna: não se pede por favor no futebol. A gente trabalha dessa forma.

Saídas de titulares

O Maringá perdeu quatro titulares desde o jogo de ida com o Flamengo. Como a janela de transferências para as séries A e B do Brasileiro termina nesta quinta-feira, o Dogão teve as saídas do atacante Robertinho, emprestado ao Juventude, além do lateral-direito Marcos Vinícius, do zagueiro Vilar e do meia Matheus Bianqui, trio emprestado ao Coritiba.

Os quatro estavam entre os principais destaques da equipe e tiveram boas atuações na vitória sobre o próprio Flamengo, por 2 a 0, em Maringá. Bianqui participou diretamente dos dois gols: cabeceou para David Luiz marcar contra, e deu assistência para Serginho fechar o placar.

Por outro lado, a diretoria foi em busca de reforços, com 11 jogadores contratados para a Série D. Os últimos foram o goleiro Rafael William (Coritiba), o meia Cesinha (São Bernardo) e o atacante Rodrigo Alves (FC Cascavel).

– É a vida do treinador. O treinador tem que estar preparado para isso nesses momentos, ter estratégias. Entender o momento do clube também, que o clube tem que negociar, sim, não sou contra o clube negociar, sou muito a favor, desde que nos traga peças, lógico. Os que vão entrar precisam ter confiança do treinador, ter confiança dos companheiros de clube, para que eles possam se sentir a vontade e fazer um bom jogo, ter uma boa apresentação no Maracanã.

Flamengo

Castilho contou que as mudanças de técnico do Flamengo antes de cada jogo da Copa do Brasil dificultaram um pouco a preparação do Maringá. O Rubro-Negro teve a saída de Vitor Pereira dias antes da partida de ida e foi comandado pelo interino Mário Jorge. Agora o Fla tem Jorge Sampaoli como treinador.

– Não tem sido fácil. Além de preocuparmos com o Flamengo, pela grandeza, ainda temos que ficar preocupados na questão de não saber qual seria o treinador. Agora sabe o treinador, tem que saber o esquema que vai usar. Um trabalho difícil para o nosso corpo de análise, nosso pessoal da inteligência. E cabe a gente entender o melhor esquema tático, a melhor maneira de jogar com o Flamengo. Vai queimando aquele pouquinho de neurônio que nós temos ainda.

Jorge Castilho e Felipão — Foto: Rodrigo Araújo/MFC

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