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Por Marcel Merguizo — São Paulo


Era noite de inverno em São Joaquim da Barra, cidade no Interior paulista, a mais de 300km da capital, famosa por ser berço de Ana Maria Braga e Alison dos Santos. Chegar pela primeira vez por lá e conseguir encontrar com um dos dois astros --difíceis de contactar até mesmo pelo whatsapp-- era improvável. Mas não impossível.

Alison dos Santos com a primeira técnica, Ana Fidelis, na pista onde começou a correr em São Joaquim da Barra — Foto: Marcel Merguizo

Entramos em uma lanchonete e lá estava ele. Para os mais de 50 mil habitantes locais e os outros milhões de fãs mundiais, apenas Piu (apelido de infância em razão de uma pseudosemelhança com um desses andarilhos de cidadezinhas do interior). Enfim, naquele julho de 2022, Dos Santos acabara de ganhar o título mundial nos EUA (onde hoje mora). Porém, era o mesmo Alison que gosta de churrasco, truco e carros. Quem visse aquele jovem de 22 anos e 1,98m (tá na hora de revelar, Piu não mede 2 metros) voltando de chinelos na pista de terra onde começou a correr diria que era improvável que ele já tivesse um ouro em Mundiais e um bronze em Olimpíadas. O que provava que o feito não impossível.

Alison dos Santos Diamond League Oslo — Foto: Reuters

Dois anos antes dos Jogos Olímpicos de Paris, ali, Alison já sabia o que queria: recorde mundial (45s94) e ouro olímpico na capital francesa. O plano foi traçado. Mas no meio do caminho havia uma pedra, uma alça de balde, para ser mais preciso. E a grave lesão no joelho logo no início de 2023 travou tudo, do menisco aos sonhos. Mas Alison voltou. Melhor? É melhor esperar até às Olimpíadas de Paris. Mas voltou a repetir o que vinha fazendo desde que explodiu como um astro dos 400 metros com barreiras em 2019: ótimos treinos, melhora prova a prova, vitória sobre os principais concorrentes, crescendo em provas importantes e permanecendo invicto. É improvável que termine assim a temporada?

Alison dos Santos vence a Diamond League de Oslo superando Karsten Warholm — Foto: Reuters

Quem conhece Alison de perto sabe que ele responde muito bem aos desafios, seja em treino seja em competição. Diga que ele fez algo bom e a resposta será: espere a próxima. Vencer o norueguês Karsten Warholm, em Oslo, na primeira vez que se encontraram saudáveis desde as lesões de ambos, na Liga Diamante, depois de uma chuvinha fria na capital da Noruega era improvável. Alison foi lá e mostrou que não era impossível. Forçou, inclusive, o norueguês a um erro na última barreira, quando já tinha dado seta e estava passando pela esquerda. E quando chega na reta junto, diz Alison, já era! O recado estava dado. Não é impossível.

Alison dos Santos Mundial de Atletismo Oregon — Foto: Andy Lyons/Getty Images

As mudanças para que esse resultado acontecesse, para que o recorde mundial ou o ouro olímpico cheguem está em um trabalho de longo prazo, com uma equipe trabalhadora, talentosa e que está junta há muito tempo. O que houve, agora sabemos, foi apenas uma parada de alguns meses por motivos impossíveis de explicar. Contudo, hoje Alison é o único atleta que consegue passar por quatro barreiras nos 400m dando 12 passos entre elas. Assim, o tempo que faz na prova com obstáculos está cada vez mais perto dos 400 metros rasos. Alison tem 1,75 segundo de vantagem sobre o segundo melhor tempo da história do Brasil nos 400m com barreiras, e o recorde dele (46s29) é 2 segundos abaixo do recorde nacional dos 400 metros. E a meta passa por tentar diminuir o impossível e torná-lo apenas improvável.

#PiuDay! Atletas da delegação brasileira apoiando Alison dos Santos — Foto: Reprodução/Twitter

Números, números. Passadas, segundos. Lembra os tempos em que o brasileiro virou "especialista" em Fabiana Murer, contando passos e analisando flexibilidade de varas. Assim como ela revolucionou a atenção que o brasileiro passou a dar para o salto com vara, Alison revoluciona os 400m com barreiras. Ou "Piu-fã" não está ansioso pela noite parisiense de sexta-feira, dia 9 de agosto? Impossível!

Às sextas-feiras, Marcel Merguizo escreve crônicas olímpicas no ge

Depois da medalha de ouro, Alison dos Santos volta para casa!

Depois da medalha de ouro, Alison dos Santos volta para casa!

Blog Olímpico Marcel Merguizo — Foto: Reprodução

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