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Por Rafael Lopes

Comentarista de automobilismo do Grupo Globo

Voando Baixo — Rio de Janeiro

Clive Rose/Getty Images

Enfim, ela chegou. A primeira vitória de um piloto monegasco em um GP de Mônaco válido pela Fórmula 1. Após largar na pole position, Charles Leclerc liderou todas as 78 voltas da corrida no principado e triunfou em casa, para alegria do príncipe Albert II. O monarca, aliás, quebrou todos os protocolos do pódio: abraçou seu piloto, tirou fotos e fez questão de estourar uma garrafa de champanhe reservada especialmente para ele. E claro que a alegria tem motivo de ser: no palco da mais tradicional corrida da maior categoria do automobilismo mundial, finalmente um piloto local obteve uma vitória.

Charles Leclerc recebe o abraço do príncipe Albert II no pódio do GP de Mônaco — Foto: Peter Fox/F1 via Getty Images

O principado de Mônaco é conhecido mundialmente justamente pela realização de seu Grande Prêmio, que teve sua primeira edição ainda em 1929, por ideia de Antony Noghès, muito antes da criação da Fórmula 1. Nesses anos todos, apenas em 1931 a corrida foi vencida por um piloto monegasco. Com um Bugatti T51, Louis Chiron, até agora o maior ídolo do automobilismo local, terminou as 100 voltas da prova em 3h39m09s2, mais de três minutos à frente dos italianos Luigi Fagioli e Achille Varzi. Apesar da tradição, apenas três pilotos do país participaram de provas de F1: além de Chiron, Olivier Beretta e justamente Charles Leclerc.

Por isso, dá para entender toda a alegria do Príncipe Albert II. Imagina o que não deveria incomodar ter a corrida mais tradicional da Fórmula 1 e, ao mesmo tempo, não ter representantes na pista. Ser protagonista da maior categoria do automobilismo por seu evento e, ao mesmo tempo, coadjuvante dentro dela. Apesar do rico histórico do Automóvel Clube de Mônaco (ACM), é fácil entender o pequeno número de representantes do território dentro do esporte. Mônaco é o segundo menor país do mundo, com uma área de apenas 2.02 km² e cerca de 39 mil habitantes. Por causa da falta de espaço, não tem kartódromos ou autódromos. E mesmo localizado próximo à fronteira entre a França e a Itália, o pequeno número de cidadãos nativos dificulta e muito a formação de pilotos.

A alegria do Príncipe Albert II no pódio do GP de Mônaco: até champanhe ele estourou — Foto: Rudy Carezzevoli/Getty Images

Leclerc é considerado o mais talentoso piloto da história de Mônaco. E tem uma relação com o Príncipe Albert II desde o início de sua carreira. Quando tinha apenas 12 anos, foi com Hervé Leclerc, seu pai e ex-piloto, pedir apoio para sua escalada no automobilismo internacional. O atual líder da família real do principado passou a acompanhar a carreira do jovem, estando presente nos momentos bons e também nos mais difíceis. O incentivo fez com que Charles subisse no esporte até integrar a Academia de Pilotos da Ferrari (FDA). Depois, acabou efetivado na equipe de Fórmula 1 em 2019. Cinco anos depois, veio a vitória mais importante de sua vida, no GP de Mônaco, sua casa. O resto é história.

A família real de Mônaco sempre foi uma presença marcante na Fórmula 1. Tanto é que o protocolo da corrida no principado sempre foi diferente de outros lugares: a cerimônia do pódio é no camarote dela, na reta dos boxes, sempre com o príncipe. Ao mesmo tempo, sempre foram figuras inatingíveis. Tanto é que o banho de champanhe de Ayrton Senna no príncipe Rainier III, em 1987, foi considerada a maior quebra de protocolo da história do GP. Por tudo isso, foi muito bom ver a alegria de Albert II. No palco da realeza, coroou o novo príncipe de Mônaco: Charles I.

Sob os olhares do Príncipe Albert II, Charles Leclerc mostra a bandeira de Mônaco — Foto: Song Haiyuan/MB Media/Getty Images

Vitória para liberar potencial de Leclerc

Charles Leclerc se joga no mar após vencer o GP de Mônaco de 2024 — Foto: Ryan Pierse/Getty Images

Charles Leclerc buscava um bom resultado há tempos dentro de casa. Afinal desde as categorias de base, o piloto nunca teve sorte correndo nas ruas do principado. O melhor resultado dele até este ano em Mônaco tinha sido o quarto lugar de 2022, quando a Ferrari lhe tirou a vitória em um erro de estratégia. Neste ano, contudo, tudo funcionou. Ele liderou dois dos três treinos livres, fez a pole position, pulou na frente e liderou todas as voltas da corrida. Uma vitória com louvor, dominadora, e que pode, finalmente, liberar todo o talento de Leclerc na Fórmula 1.

Charles Leclerc recebe a bandeirada da vitória no GP de Mônaco, agitada por Kylian Mbappé — Foto: Bryn Lennon/F1 via Getty Images

Ninguém nunca duvidou do talento natural de Charles Leclerc, é bom que se diga. Mas uma série de azares, quebras e erros começaram a colocar a capacidade do piloto monegasco em xeque. Inclusive por ele próprio. Os rádios se penitenciando por falhas normais viraram figurinha fácil nas transmissões da Fórmula 1. Pior: ele não dava sinais de reação. Até mesmo a presença de um companheiro como o espanhol Carlos Sainz, que começou a andar à frente na equipe, servia para complicar o lado psicológico de Leclerc. Há muito tempo o monegasco precisava de um ponto de virada para sua carreira no automobilismo. E finalmente veio.

A festa de Charles Leclerc com a Ferrari após vencer o GP de Mônaco de 2024 — Foto: Bryn Lennon - Formula 1/Formula 1 via Getty Images

Vitórias em casa costumam ser marcos importantes para pilotos na Fórmula 1. Ainda mais quando ela vem de forma sofrida, como foi o caso de Leclerc. Talentoso, já começava a faltar autoconfiança para manter seu nível de pilotagem elevado. Ainda mais em uma equipe tão importante e tradicional como a Ferrari. E tudo indica que o GP de Mônaco de 2024 será o ponto de virada para o Príncipe Charles I, o vencedor.

NA PONTA DOS DEDOS 08/11/2023 - Charles Leclerc e Carlos Sainz

NA PONTA DOS DEDOS 08/11/2023 - Charles Leclerc e Carlos Sainz

Perfil Rafael Lopes — Foto: Editoria de Arte/GloboEsporte.com

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