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Por Rafael Lopes

Comentarista de automobilismo do Grupo Globo

Voando Baixo — São Paulo

Rafael Lopes

Peço licença aos leitores do blog Voando Baixo para trazer um texto mais pessoal nesta sexta-feira. Ao contrário do que faço aqui normalmente, este post não vai ter uma análise caprichada, um comentário ou alguma notícia bem apurada. Quero contar uma experiência que tive na quinta-feira. E que me ligou, 29 anos depois, com aquele Rafael de 10 anos de idade que apenas sonhava em fazer parte, de alguma forma, desse mundo do esporte a motor.

Não escondo de ninguém que aquele dia 1⁰ de maio de 1994 foi um dos mais tristes da minha vida. Aliás, como de todos os brasileiros que eram apaixonados por Fórmula 1 naquela época. Deve ter sido a única em que eu, como torcedor, chorei em algum evento esportivo. Aquele acidente na curva Tamburello levou embora meu ídolo de infância. Mas não tirou meu amor pelo esporte. Tanto é que estou aqui, trabalhando diretamente com ele, escrevendo sobre e comentando várias categorias do automobilismo.

Damon Hill e Ayrton Senna na apresentação da Williams em 1994 — Foto: Getty Images

Aquele jovem Rafael, de 10 anos, é muito grato à profissão do Rafael de hoje. Foi por causa dela que pude visitar quase todos os lugares icônicos da carreira de Ayrton Senna. Conheci as duas sedes do Instituto Ayrton Senna a convite da família. Minha primeira viagem internacional para cobrir um evento foi justamente para Donington Park, em 2008. Trabalhei em Silverstone em 2013. Depois, nos 20 anos do acidente, pude estar no Autodromo Enzo e Dino Ferrari, em Imola. Nürburgring, Hungaroring, Hockenheim... visitei várias pistas nestes 18 anos de profissão - das marcantes faltam apenas Mônaco e Suzuka. Isso sem falar nas inúmeras idas ao Autódromo José Carlos Pace, em Interlagos.

Todas essas foram experiências que me marcaram muito. Mas confesso que faltava um lugar. Desde 2006, sempre vou a São Paulo pelo menos uma vez por ano para trabalhar em Interlagos. Mas nunca tive tempo para prestar uma homenagem ao tricampeão no lugar mais óbvio: o Cemitério do Morumbi, onde ele foi sepultado em 1994. Para mim, está longe de ser um ambiente agradável. Não gosto sequer de entrar em cemitérios. Mas, incentivado por meu irmão de coração, que mora a poucos minutos do local, finalmente tomei coragem e resolvi fazer a visita.

Túmulo de Ayrton Senna cheio de homenagens no Cemitério do Morumbi no dia 2 de novembro de 2023 — Foto: Rafael Lopes

Na tarde do dia 2 de novembro, feriado de Finados no Brasil, fiz a minha homenagem silenciosa. E pude perceber o quanto Senna ainda impacta os fãs de automobilismo. Dentre as flores deixadas, bandeiras do Uruguai e do Chile. Vários estrangeiros fazendo questão de pagar um tributo a quem lhes fez felizes mesmo sem a ligação da nacionalidade. Foi uma experiência realmente impactante. Não esperava ter esse tipo de reação.

Ayrton Senna levanta o troféu de sua primeira vitória no GP do Brasil, em Interlagos, 1991 — Foto: Pascal Rondeau/ALLSPORT

Enfim, paguei minha divida com o Rafael de 10 anos de idade. Pude agradecer por todas as alegrias da infância. E vendo a comoção que Ayrton Senna ainda causa mais de 29 anos após sua morte, inclusive com homenagens perto dali, em Interlagos. E cada vez mais entendo a frase com a qual meu amigo Marcelo Courrege encerrou o VT sobre os 20 anos da melhor primeira volta da história, em Donington Park-1993.

"Ayrton Senna é do Brasil. É da Inglaterra. É do mundo inteiro."

Definitivamente, heróis não são limitados por fronteiras geográficas.

Fórmula 1 - 1991: Vitória de Senna no GP do Brasil

Fórmula 1 - 1991: Vitória de Senna no GP do Brasil

Perfil Rafael Lopes — Foto: Editoria de Arte/GloboEsporte.com

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