Três histórias de reabilitação da Covid longa através do exercício

O campeão olímpico Bruno Schmidt, o técnico de vôlei Renan Dal Zotto e o médico Ronaldo Reis Fontoura conversam com o repórter André Gallindo sobre a persistência dos sintomas da doença, situação que atinge cerca de 50% dos pacientes. Veja na reportagem do Jornal Nacional

Por EU Atleta — Rio de Janeiro


Síndrome da Covid Longa: pessoas que contraem a Covid podem sofrer com a doença por muito tempo

Quando o médico Ronaldo Reis Fontoura, de 57 anos, saiu do hospital após mais de dois meses internado com Covid-19, boa parte desse tempo intubado, não conseguia nem levantar direito uma caneta, muito menos assinar o próprio nome. Na primeira vez em que andou, só chegou a dar quatro passos. Hoje, quatro meses depois, ele já assina seu nome com tranquilidade e caminha quase normalmente, mas ainda se sente cansado e segue em reabilitação no LPR, Laboratório de Performance Humana da Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, com direito a pedaladas, caminhadas e musculação. Porque exercício é remédio para sintomas da chamada covid longa, caracterizada pela persistência de sintomas mesmo após muitos dias, semanas e meses após o fim da infecção pelo coronavírus.

Mesmo atletas, como campeão olímpico de vôlei de praia Bruno Schmidt, ou ex-atletas, como o técnico da seleção masculina de vôlei Renan Dal Zotto, sofreram com a síndrome. E é essa história que o repórter André Gallindo contou nesta última quinta-feira (18/11) no Jornal Nacional, com imagens de Genito Jr. e Rafael Zambe, produção de Flávia Ribeiro e apoio técnico de Raphael Cyrne e Vinícius Dias.

Um estudo realizado por pesquisadores da universidade americana Penn State, publicado no Jama Network, revelou que mais da metade das pessoas que tiveram covid-19 seguem com sintomas da covid longa, em maior ou menor grau. E que essa porcentagem é ainda maior para pessoas que foram internadas e entubadas. Os dados batem com a análise feita pelo cardiologista Fabrício Braga, do Laboratório de Performance Humana, que desenvolve um estudo a partir do atendimento para reabilitação de 900 pacientes atendidos na clínica. Deles, mesmo entre os 392 que não tinham comorbidades anteriores, 42,9% chegaram com a capacidade de exercício reduzida: 61% por causa do descondicionamento físico, 25% em função de sequelas cardíacas, 10% por causa de sequelas pulmonares e 4% por um conjunto de duas ou três dessas causas.

- Fundamentalmente, há milhões de pessoas cansadas após a covid. Com dificuldade para trabalhar, para pegar o neto no colo, para subir um lance de escada. E isso é limitador de qualidade de vida e de expectativa de vida. O que acontece é que o músculo não usa o oxigênio da forma correta após a covid. Ele avisa ao cérebro que está se contraindo para o exercício, para o movimento, mas o cérebro não consegue mais dilatar os vasos para enviar o sangue como fazia antes. Para essas pessoas o remédio é simplesmente voltar a se exercitar. Mas, no início, isso deve ser feito de forma monitorada, além de gradual - explica Fabricio.

Abaixo, conheça algumas unidades de saúde que oferecem reabilitação gratuita para covid longa.

Renan Dal Zotto toma a vacina contra a covid em junho, alguns meses após sua internação — Foto: Instagram

Em todo o país:

Segundo o Ministério da Saúde, há 267 Centros Especializados em Reabilitação (CER) em 26 estados e no Distrito Federal atendendo pacientes com sintomas de covid longa. O paciente deve primeiro passar por unidades básicas de saúde, para então serem encaminhados para o tratamento.

Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação - Unidades em Brasília (duas), São Luís (MA), Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), Fortaleza (CE), Macapá (AP) e Belém (PA). Inscrições para atendimento pelo site.

Projeto Com Vida - Rede de especialistas voluntários que atende pacientes com sequelas em todo o país, inclusive com tratamento fisioterápico. Inscrições para atendimento pelo site.

Belo Horizonte:

Escola de Fisioterapia da UniBH - Embora a faculdade seja particular, o atendimento pós-covid está senfo oferecido gratuitamente. Para isso, é necessário solicitar a triagem através dos telefones 31 3319-9345 ou 31 99299-0405.

Brasília:

Hospital Universitário de Brasília (HUB) - Atendimento após encaminhamento médico de um profissional da rede pública, com inscrição pela central de marcação do HUB, das 7h às 19h, pelo telefone (61) 2028-5210.

Fortaleza:

Casa de Cuidados do Ceará no Hotel Recanto Wirapuru - O Hotel foi arrendado pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Os pacientes são encaminhado pelos hospitais das redes estadual e municipal de saúde, mas o atendimento é restrito aos que foram internados e precisam passar por uma reabilitação de transição entre o hospital e a volta para casa.

Porto Alegre:

Ambulatório de reabilitação pós-Covid-19 do Centro de Saúde IAPI (rua Três de Abril, 90, bairro Passo d’Areia). O encaminhamento é realizado após consulta nas unidades de saúde.

Hospital de Clínicas de Porto Alegre. O encaminhamento também é realizado após consulta nas unidades de saúde.

Rio de Janeiro:

Centro de Atendimento Multidisciplinar Pós-Covid que o Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), no Boulevard 28 de Setembro 125, em Vila Isabel. O encaminhamento é feito diretamente pelos hospitais em que os pacientes ficaram internados ou através de marcação de atendimento pelo Sistema Estadual de Regulação (SER), a partir das demandas das unidades de atenção primária, como postos de saúde.

Previsto para ser aberto em dezembro:
Centro de Reabilitação Pós-Covid do Hospital Ronaldo Gazzolla - Av. Pastor Martin Luther King Júnior, 10.976 - Acari, Rio de Janeiro. A marcação do atendimento será pelo Sistema de Regulação (SISREG), a partir das demandas das unidades de atenção primária.

Salvador:

Ambulatório Pós-Covid do Hospital Especializado Octávio Mangabeira (HEOM). Atendimentos podem ser marcados pelo telefone (71) 3117-1677 ou pelo e-mail heom.cpc@saude.ba.gov.br.

São Paulo:

Rede de Reabilitação Lucy Montoro, do Instituto de Medicina Física e Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP) - As cinco unidades na cidade de São Paulo e outras 13 espalhadas por outros municípios de São Paulo fazem a reabilitação pós-covid. Os pacientes são encaminhados após atendimento em unidades básicas de saúde (UBSs) via Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (CROSS).