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Por Letícia Marques — Rio de Janeiro


O dia do Flamengo começou com protesto no Ninho do Urubu e ganhou mais um capítulo nos bastidores. O diretor de relações externas, Cacau Cotta, vive um momento de distanciamento e esvaziamento das funções do futebol, em meio a uma turbulência com Marcos Braz, vice-presidente de futebol e forte aliado do presidente Rodolfo Landim. O presidente já ensaia uma mudança no departamento de futebol.

Torcedores do Flamengo jogam pipoca e ovo em carro em protesto no Ninho

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O afastamento na relação, que por muito tempo foi de amizade, começou quando a pré-candidatura de Cacau a Vereador do Rio de Janeiro chegou aos ouvidos de Braz. O vice de futebol do Flamengo planeja se reeleger no cargo nas eleições de outubro. A movimentação na política externa causou incômodo ao VP, que teme possível perda de votos.

Cacau Cotta, diretor de relações externas do Flamengo, e Marcos Braz, vice-presidente de futebol — Foto: Reprodução

A partir disso, a relação entre as partes se tornou estritamente profissional. Desde 2019, Cacau é o representante em conversas com FERJ e Conmebol, ao lado do diretor executivo Bruno Spindel. Braz quase não participava dos encontros institucionais, mas quando marcava presença incomodava Cacau, que se sentia invadido e escanteado.

Outra atividade de Cacau era a presença nas viagens com a delegação e nos vestiários dos jogos. Com o evidente racha por causa de política externa, Cacau parou de participar dos eventos com as instituições e passou a ficar fora das viagens com a delegação.

Neste mesmo momento, Braz, que pouco frequentava esses eventos, se tornou figura ativa nos bastidores. Não há uma proibição para que Cacau viaje com a delegação, porém, internamente, acredita-se que não há mais clima para o dirigente transitar no futebol.

Exposição fez Landim tomar atitude

Foram dois movimentos que fizeram o presidente acompanhar de perto a situação. O primeiro deles aconteceu no dia 22 de abril, véspera de feriado no Rio de Janeiro. Cacau Cotta divulgou um vídeo nas redes sociais relatando sua participação em uma reunião com a CBF.

O fato causou estranheza porque outras pessoas do clube não tinham conhecimento da reunião. O ge apurou que não há registro formal na CBF de qualquer reunião com o Flamengo naquela data e que um funcionário de alto escalão da CBF ligou para o departamento de futebol do clube para entender a publicação feita por Cacau.

O assunto causou atrito na cúpula do futebol, e o presidente ligou o alerta com o cenário que estava se desenhando. Na mesma semana, Cacau foi convidado por Landim para ir com a delegação a La Paz, onde o Flamengo enfrentou o Bolívar. Braz não estava na viagem porque tinha compromissos na Câmara dos Vereadores. Na viagem, Landim se reuniu com Cacau para tratar sobre a situação e o evidente racha com Braz.

Cacau Cotta fala sobre reunião com a CBF — Foto: Reprodução

O segundo momento que causou irritação nos bastidores aconteceu no último sábado, com a troca de mensagens entre Braz e Cacau nas redes sociais. O VP de futebol ironizou o fato de a rodada do último final de semana do Campeonato Brasileiro não reservar jogo às 11h de domingo. Cacau foi provocado por um torcedor, na internet, que perguntou sobre onde estaria o diretor de relações externas. Ele respondeu e afirmou que reclamações sobre calendário agora não teriam efeito.

Ainda na resposta, Cacau comentou que os questionamentos deveriam ter sido feitos no arbitral, quando a tabela do Brasileirão foi definida. A exposição não caiu bem internamente e incomodou diretamente o presidente do Flamengo, que foi quem participou do arbitral. O ge apurou que, na última terça-feira, Landim se reuniu mais uma vez com Cacau.

A partir disso, o esvaziamento do dirigente das funções importantes do futebol passou a ser visto como questão de tempo por quem transita no Ninho e na Gávea. Cacau continua no cargo, porém, exercerá apenas as funções pontuais e operacionais, como reuniões com FERJ, BEPE e organizações de jogos.

Rodrigo Dunshee, Cacau Cotta e Rodolfo Landim — Foto: Reprodução

O presidente é entusiasta de que membros do Conselho de Futebol façam a função de relacionamento com a CBF e com a Conmebol. Diogo Lemos é quem vai tomar a frente nos diálogos com as instituições daqui para frente. Ele também é o responsável pelo plano de governo da atual gestão para a eleição. Marcos Braz segue como vice-presidente de futebol do clube.

Outro fato gerou incômodo interno com relação a Cacau Cotta. O dirigente compartilhou na última quinta-feira, nas redes sociais, o encontro com um membro de uma torcida organizada do clube que esteve presente ativamente no protesto realizado na manhã desta sexta no Ninho. O fato causou irritação entre membros da diretoria.

O ge apurou que o presidente foi um dos mais incomodados com o encontro. Internamente, há o entendimento de que esse fato pode dar fim a relação de Cacau Cotta com a gestão, que vê uma quebra de confiança.

A situação cai muito mal no último ano da gestão de Landim. Cacau faz parte de um forte grupo político (União Rubro-Negra), que integra a base aliada e prometeu apoio ao candidato que fosse escolhido pelo presidente. Há uma dúvida interna se o esvaziamento do dirigente influenciará no acordo de apoio ao sucessor escolhido por Landim.

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