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Por José Edgar de Matos — São Paulo


Advogado Cláudio Salgado fala sobre o depoimento de Alex Cassundé à polícia em São Paulo

Advogado Cláudio Salgado fala sobre o depoimento de Alex Cassundé à polícia em São Paulo

Alex Fernando André, o Alex Cassundé, empresário que intermediou o contrato de patrocínio entre o Corinthians e a casa de apostas VaideBet, prestou depoimento nesta terça-feira, em São Paulo. Durante 3h30 respondendo perguntas da Polícia Civil e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo), ele disse aos investigadores que não cobrou por intermediar o acordo e que o pagamento de R$ 25 milhões foi oferecido pelo clube.

Segundo fontes da Polícia, Cassundé afirmou ter conhecido a VaideBet por intermédio de uma pergunta feita ao Chat GPT, uma ferramenta de inteligência artificial: "dicas de como encontrar uma empresa de bet". A partir da resposta, chegou ao contato do sócio da empresa e apresentou a possibilidade de negócio com o Corinthians.

[Nota da redação: O ge fez a mesma pergunta para o ChatGPT, mas a resposta não traz nenhuma indicação de nomes de casas de apostas. A ferramenta lista apenas uma série de recomendações, como segurança, facilidade de uso, reputação e licenciamento].

Ao ser rebatido pela empresa sobre contatos no clube, Cassundé alega que questionou o superintendente de marketing do clube, Sérgio Moura, que repassou o contato de Marcelo Mariano, diretor administrativo do Corinthians.

O sócio da Rede Social Media Design disse soube que entrou como intermediário do contrato somente em janeiro, com a assinatura do compromisso, sem ter qualquer envolvimento com a operação do maior patrocínio da história do futebol brasileiro.

Ele assegura não ter exigido qualquer comissão ao trocar os contatos e que teve os R$ 25 milhões de intermediação (7%) oferecidos pelo clube na época da assinatura do acordo de R$ 370 milhões assinado entre casa de apostas e Corinthians.

– Teve uma fase desse processo que foi necessária a intermediação e (ele) foi chamado para fazer. Mas ele participou de uma parte da busca por esse patrocínio e aí foi chamado para a intermediação. Inicialmente, não teria, mas houve a necessidade de regularizar – disse Cláudio Salgado, advogado de Cassundé.

No mês passado, em entrevista à TV Gazeta, o ex-diretor de futebol do Corinthians, Rubens Gomes afirmou que o presidente Augusto Melo teria dito a ele que não havia intermediário na negociação. Dias depois, porém, o presidente teria confirmado o pagamento de R$ 25,2 milhões à empresa Rede Social Media Design.

Alex Cassundé presta depoimento em São Paulo — Foto: José Edgar de Matos

Ainda em depoimento, Cassundé afirmou que Sérgio Moura era o único contato que ele tinha de fato com o Corinthians.

Sobre o presidente Augusto Melo, Cassundé assegurou ter dois contatos pessoais: em uma live na sede da Rede Social Media Design e no dia da eleição, quando cumprimentou o então candidato pela vitória na eleição.

Cassundé afirmou que trabalhou "voluntariamente" para a campanha de Augusto Melo. O ge trouxe em maio detalhes sobre o serviço prestado pelo intermediário durante o período eleitoral.

Sobre os repasses à Neoway, que totalizam mais de R$ 1 milhão do bolo de R$ 1,4 milhão recebido até então pela intermediação, Cassundé afirmou em depoimento que se tratava de outro negócio no campo da "telemedicina" e se disse vítima de um golpe.

– Ele está envolvido nessa situação de negócios e teve que fazer esse pagamento. Foi justificado, foi mostrado, e esclareceu. Não há repasse para o Corinthians, corrupção, não há nada disso.

– Ele tem outro negócio, que não vem ao caso. Ele fez uma parceria, comprou um sistema e não foi entregue. São parcerias caras. Ele explicou exatamente isso. Ele foi vítima disso também. A investigação fez um caminho inverso, da ponta ao contrário – afirmou Salgado.

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O empresário não abriu Boletim de Ocorrência apesar de se sentir lesado e que as conversas sobre esta operação acabaram "apagadas" do telefone.

De acordo com o advogado, os investigadores não fizeram perguntas a Cassundé sobre os prints que circulam desde a semana passada. Nas imagens de um aplicativo de mensagens, ele conversa com uma pessoa que indica a Neoway para receber R$ 580 mil.

Entre os prints entregues à polícia, um dos contatos que supostamente conversa com Cassundé é identificado como "Chefe Presidente". O ge tentou contato com o número indicado nos prints, mas ninguém atendeu. O número do suposto contato está vinculado a uma loja online de biquinis – a “Mar Virado Biquinis” – cuja proprietária é Victoria Pereira de Melo, filha de Augusto Melo.

– Não foi questionado sobre isso, até porque já ficou muito evidente que é falso, não existe aquilo, não tem sentido. É tão ruim que a polícia não perguntou sobre isso – disse Salgado.

Fontes da Polícia, entretanto, dizem que a veracidade dos prints ainda se encontra em uma fase de apuração.

O próximo passo da investigação será ouvir Felipe de Lacerda Ferreira, dono da agência de detetives que questionou Edna Ferreira do Santos, a "laranja" do caso, sobre a Neoway. A Polícia Civil tem indícios de que ele possa ter sido contratado por Armando Mendonça, segundo vice-presidente do Corinthians.

A quebra do sigilo bancário de Alex Cassundé, por outro lado, se encontra sob "apreciação".

Entenda o caso

VaideBet e Corinthians romperam o contrato no dia 7 de junho, cinco meses depois de celebrarem o maior acordo de patrocínio do futebol brasileiro.

A crise se instaurou no dia 27, quando a patrocinadora máster notificou o clube extrajudicialmente pedindo esclarecimento em torno das notícias envolvendo o possível repasse de parte comissão do intermediário para um "laranja". O contrato firmado previa R$ 370 milhões ao clube e era válido até o fim de 2026.

Diretor jurídico do Corinthians comenta sobre prints vazados do caso VaideBet

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Além da notificação da VaideBet, Augusto Melo recebeu um pedido da Polícia Civil, que também cobra respostas e pediu acesso ao contrato com a empresa.

A Polícia abriu inquérito e busca esclarecimentos da denúncia feita pelo "Blog do Juca Kfouri" de que a Rede Social Media Design, empresa que intermediou o contrato de patrocínio, supostamente repassou parte do valor recebido em comissão a uma empresa "laranja", chamada Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda.

Essa empresa está no nome Edna Oliveira dos Santos, que nem sequer saberia da existência da mesma. Até o encerramento do acordo, duas parcelas de R$ 700 mil foram repassadas pelo clube para o intermediário que está registrado no contrato de patrocínio.

A notícia não agradou à VaideBet, que entendeu ter a imagem prejudicada com as inúmeras especulações em torno do contrato com o Corinthians.

Defesa de Edna nega envolvimento em empresa e estuda processar o Corinthians

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Em notificação enviada em 27 de maio, a empresa informa que os fatos narrados representam efetiva violação da cláusula anticorrupção do contrato de patrocínio e deu dez dias para que o Corinthians apresente explicações sobre o caso.

O clube respondeu aos questionamentos, alegando estar contribuindo com as investigações.

O Corinthians notificou extrajudicialmente a empresa intermediária, que tem como sócio Alex Cassundé, prestador de serviços durante a campanha de Augusto Melo à presidência. O clube ainda aguarda explicações sobre o suposto “laranja”.

Na sexta-feira (7 de junho), a VaideBet optou por rescindir o contrato usando como argumento a cláusula anticorrupção.

Assinado no começo do ano, o vínculo entre Corinthians e VaideBet tinha validade até o fim de 2026 e previa o pagamento de R$ 370 milhões – o clube recebeu cerca de R$ 66 milhões desde janeiro. Em nota, o clube alfinetou a empresa pelo rompimento.

Adriana Ramuno, identificada primeiramente como "Ana" por Edna Oliveira dos Santos, citada como "laranja" na investigação, deu depoimento às autoridades na capital paulista.

Em oitiva que durou cerca de uma hora, Adriana Ramuno afirmou que é funcionária de um detetive particular e se dirigiu a Peruíbe para realizar duas perguntas a Edna: se ela morava no local e se tinha conhecimento sobre a Neoway Soluções Integradas, empresa que supostamente recebeu os repasses da intermediadora do acordo.

Alex Cassundé é o sócio da empresa que intermediou o contrato da VaideBet para o Corinthians — Foto: Reprodução/Facebook

Ainda em depoimento, Adriana relatou desconhecer qualquer informação sobre o cliente responsável pela contratação do escritório de detetive particular. A funcionária assegurou ser padrão não ter detalhes sobre os contratantes, como no caso da investigação que a levou até Edna.

A funcionária do detetive particular foi a segunda testemunha ouvida nesse caso. Ela foi reconhecida por foto por Edna e acabou convocada a depor na última terça-feira.

O chefe de Adriana Ramuno, identificado por enquanto apenas como Felipe, também será intimado a prestar esclarecimentos nas próximas semanas.

A empresa de Cassundé, que só teve tempo de receber R$ 1,4 milhão dos R$ 25 milhões acordados pela intermediação, é alvo de investigação por supostamente ter feito dois repasses (R$ 900 mil no total) para a Neoway Soluções Integradas, tratada pela Polícia como empresa "fantasma".

+ Assista: tudo sobre o Corinthians na Globo, sportv e ge

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