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Por Bruno Cassucci — Doha, Catar


Bastam alguns minutos de caminhada pelas ruas de Doha para notar a invasão marroquina. Por todas as partes é possível ver a bandeira vermelha com uma estrela verde ao centro ou roupas e produtos que remetam ao país africano, que já fez história na Copa do Catar, mas sonha com um feito ainda maior. Nessa quarta-feira, Marrocos enfrenta a França, às 16h (de Brasília), por uma vaga na final do Mundial.

O apoio vem não apenas dos cerca de 20 mil marroquinos que vivem no Catar ou dos milhares que viajaram ao país para ver os jogos nas últimas semanas. A torcida dos Leões do Atlas é engrossada por povos árabes de outras nacionalidades, como sauditas, iranianos, egípcios e, claro, cataris.

Porém, ao mesmo tempo em que reforça a torcida, esse apoio estrangeiro causa dificuldades aos marroquinos na busca de ingressos para a decisão contra a França.

– Há gente do Catar ou da Arábia Saudita que pode pagar o que os cambistas estão pedindo pelos ingressos, mas nós, marroquinos, na maioria das vezes não temos esse mesmo poder de compra – queixou-se Chakib Ismaili, que abordou a reportagem do ge em busca de entradas para a semifinal.

Torcedores do Marrocos no Catar — Foto: Ashraf Amra/Anadolu Agency via Getty Images

Chakib Ismaili conta que está no Catar com mais seis familiares e que o máximo que está disposto a gastar é 500 dólares por bilhete, o que equivale a R$ 2,6 mil na cotação atual.

– Sabe o que é pior? Os fãs dos Marrocos de outros países vão aos jogos, mas não cantam, não apoiam a seleção como nós, torcedores que estamos acostumados a ir nos jogos – comentou Ismaili.

A reportagem do ge esteve no principal centro de ingressos da Copa, em Doha, e encontrou diversos marroquinos atrás de entradas. Também viu cambistas - alguns brasileiros - vendendo por 1 mil dólares (cerca de R$ 5,2 mil) bilhetes de categoria 3, que inicialmente foram comercializados por 357 dólares (aproximadamente R$ 1,9 mil).

Há a expectativa de que, tal qual aconteceu nas quartas de final contra Portugal, o rei do Marrocos, Maomé VI, distribua mil ingressos gratuitamente a torcedores no Catar. Há relatos de pessoas que dormiram em filas em busca de entradas para as quartas de final e que isso pode se repetir nessa noite.

Marroquinos formam fila em busca de ingressos no Catar — Foto: ge

Uma viagem de avião de Casablanca, capital do Marrocos, até Doha leva pouco mais de oito horas. Porém, há centenas de milhares de marroquinos que vivem em países mais próximos do Catar, na região do Golfo Pérsico, e que precisam de menor deslocamento para assistir aos jogos da Copa.

Nessa segunda-feira, a companhia Royal Air Maroc informou que planeja 30 voos para levar marroquinos a Doha na terça e na quarta-feira. As passagens terão preços promocionais.

Depois da classificação às quartas de final, ao vencer a Espanha nos pênaltis, os marroquinos já haviam recebido ajuda do governo e da Federação Marroquina - com acordos junto à companhia aérea nacional - para facilitar o deslocamento para a partida contra Portugal, que aconteceu no sábado.

Foram sete voos especiais partindo de Casablanca, com cada aeronave capaz de transportar entre 274 e 340 passageiros.

Torcedores de Marrocos no Souq Waqif, tradicional mercado de rua do Catar — Foto: Ashraf Amra/Anadolu Agency via Getty Images

Todo esse entusiasmo causa preocupação no governo do Catar, que tem reforçado a segurança ao redor dos estádios nas partidas de Marrocos, temendo tentativas de invasões de pessoas sem ingresso. Mesmo assim, incidentes do tipo aconteceram nas partidas de oitavas e quartas de final.

Ansioso pelo jogo mais importante da história da seleção, os marroquinos têm feito festa nas ruas de Doha, em especial no mercado Souq Waqif, o mais famoso ponto-turístico do país. As lojas do local foram inundadas de produtos com o nome e as cores dos africanos.

Produtos de Marrocos no mercado Souq Waqif, no Catar — Foto: Bruno Cassucci

Marrocos e França se enfrentam no estádio Al Bayt, que tem capacidade para quase 69 mil pessoas. O vencedor do duelo decidirá o título mundial no domingo contra Argentina ou Croácia.

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