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Por Bruno Cassucci — Doha, Catar


Luis Enrique, técnico da Espanha, não conseguiu lembrar o nome de Azzedine Ounahi, mas nem por isso deixou de mostrar seu espanto e encantamento pelo meia do Marrocos, logo após a derrota da seleção dele para os africanos nas oitavas de final da Copa do Mundo:

Minha mãe, de onde saiu esse rapaz? Joga muito bem! Me surpreendeu! –disse o treinador espanhol, que só se recordou do número 8 às costas do jogador.

Luís Enrique, técnico da Espanha, exalta o meia Ounahi, do Marrocos

Luís Enrique, técnico da Espanha, exalta o meia Ounahi, do Marrocos

Como o próprio Luis Enrique fez questão de mencionar, Marrocos tem atletas famosos internacionalmente, como o lateral Hakimi, do Paris Saint-Germain, o ponta Ziyech, do Chelsea, o meia Amrabat, da Fiorentina, ou o atacante En-Nesyri, do Sevilla. Mas aquele rapaz magro, de pernas compridas, que acabara de correr 14,7 km (o recordista da partida), era um desconhecido não só do técnico espanhol como de boa parte do planeta.

Afinal de contas, quem é Ounahi?

Pulmão da já histórica seleção marroquina, o meio-campista de apenas 22 anos joga no modesto Angers, clube que atualmente é o lanterna do Campeonato Francês.

Parece pouco para um semifinalista de Copa do Mundo, mas até ano passado Ounahi estava em clube ainda menor. Ele defendia o Avranches, da terceira divisão francesa, até julho de 2021.

Ounahi, meia do Marrocos, em ação na Copa do Mundo — Foto: Jose Breton/Pics Action/NurPhoto via Getty Images

O fôlego e a velocidade são as principais marcas de Ounahi, mas ele não é só isso. Antes de viajar para o Catar, ele só perdia para Messi em dribles aplicados durante o Campeonato Francês, superando nomes como Neymar e Mbappe.

Na seleção, ele costuma estar entre os primeiros nos rankings de recuperações de bola e passes. Coincidentemente ou não, esse era um dos maiores atributos do maior ídolo de Ounahi, o espanhol Andrés Iniesta.

O meio-campista é cria da Academia Mohammed VI, fundada em 2009, em Salé, no Marrocos, com objetivo de desenvolver talentos futebolísticos para o país. O projeto foi inspirado em Clairefontaine, da França, justamente a rival na semifinal da Copa. De lá também saíram outros jogadores da mais surpreendente equipe desse Mundial, como Aguerd e En-Nesyri.

A porta de entrada para Ounahi na Europa foi o Strasbourg, da França, clube no qual ele atuou entre 2018 e 2020 antes de se transferir para a equipe B do Avranches.

Já na seleção, ele teve passagem pela sub-20 e ganhou chance na Copa Africana de Nações do ano passado. Na época, jogou a fase de grupos, mas ficou no banco durante o mata-mata. A consolidação como uma das referências marroquinas veio meses depois, nas Eliminatórias para o Catar. Ounahi foi o destaque do jogo decisivo contra o Congo, quando fez dois gols e esteve envolvido na jogada de outro na goleada por 4 a 1.

Titular em todos os cinco jogos de Marrocos no Catar, o camisa 8 desponta como uma das revelações da Copa. Feito significativo para quem até recentemente estava na terceira divisão da França, mas ainda pouco para quem sonha com a glória eterna do título mundial.

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