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Por Matheus Wenna, para o EU Atleta — Rio de Janeiro


Afinal, o chocolate faz mal ou bem à saúde? Trata-se de uma longa polêmica, que se torna ainda mais relevante na Páscoa, quando o consumo de chocolate explode no Brasil. Seja em ovos, barras, bombons ou outros doces, é difícil ficar longe dessa delícia tão característica desta época do ano. O problema é que a resposta para o dilema é depende. O consumo de chocolate tem benefícios e malefícios, de acordo com estudos científicos.

Cacau, matéria-prima do chocolate, é o principal indicativo da qualidade do produto, influenciando nos benefícios ou malefícios à saúde — Foto: iStock

Chocolate faz mal ou bem à saúde?

A Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (NLM), vinculada ao Instituto Nacional de Saúde do país (NIH), compila uma vasta coleção de estudos científicos sobre o chocolate e o cacau - a principal matéria-prima do produto. Há menções a benefícios cardiovasculares, efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios, redução da fadiga e ganhos cognitivos, entre outros.

Uma revisão de estudos publicada no Journal of Cardiovascular Pharmacology, em 2007, concluiu que o consumo moderado de chocolate amargo rico em flavonoides pode ter efeitos benéficos na saúde cardiovascular.

Um estudo publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA), em 2005, revelou que o consumo regular de chocolate amargo com teor de cacau superior a 50% estava associado a uma redução significativa da pressão arterial em pacientes com hipertensão arterial.

Um estudo publicado no European Journal of Clinical Nutrition, em 2012, mostrou que o consumo regular de chocolate estava inversamente associado ao índice de massa corporal (IMC) e à circunferência da cintura em adultos.

Em uma revisão que considerou mais de 2 mil estudos sobre os efeitos do chocolate na saúde, de 2021, várias das evidências de benefícios foram consideradas "de moderadas para baixas", muito em razão da ausência de uniformidade de parâmetros entre as pesquisas e dos variados tipos de cacau e chocolate disponíveis.

Esse estudo identificou dois principais malefícios, como problemas digestivos e acne, sendo que só o primeiro deles possui evidências mais concretas.

Receita de Ovo de Páscoa saudável; aprenda a fazer

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O ponto mais preocupante é que, a depender do tipo e do meio de fabricação do chocolate, pode haver grandes quantidades de açúcar no chocolate, presente sobretudo nas versões branca e ao leite. Muitos dos potenciais malefícios do chocolate estão relacionados justamente ao excesso de açúcar, como diabetes, ganho de peso e compulsão alimentar - o popular "chocólatra".

O consumo exagerado, mesmo das versões mais saudáveis, pode provocar problemas gastrointestinais.

— Os principais nutrientes encontrados no cacau são os polifenóis. Entre eles, há a classe dos flavonoides, que têm benefícios cardiovasculares e cognitivos comprovados cientificamente, devido ao ao efeito antioxidante. Além disso, o cacau é demonstrado ter melhora na vasodilatação das artérias, podendo atenuar os riscos de infarto. Outro ponto é o benefício emocional pois o chocolate, até mesmo o com maior quantidade de cacau, é saboroso, liberando hormônios do prazer como dopamina e serotonina — elenca a nutricionista clínica e esportiva Karen Souza.

— Os principais benefícios do chocolate com maior teor de cacau seriam a suas funções antioxidante e anti-inflamatória. Já os malefícios são encontrados nos chocolates empobrecidos de cacau, pois têm uma alta quantidade de açúcar e gorduras trans e saturadas — complementa.

Com a maioria dos benefícios relacionada aos componentes do cacau e os prejuízos mais associados ao açúcar, surge a regra de ouro do chocolate: quanto mais cacau, melhor a qualidade do chocolate.

Benefícios do chocolate

Benefícios do chocolate

Outro aspecto importante é o tipo de fabricação do chocolate. Apesar de ser uma recomendação para alimentos em geral, é sempre bom ressaltar que versões menos industrializadas e processadas, priorizando produções artesanais e ingredientes orgânicos, são mais saudáveis.

Normalmente, os chocolates industriais precisam de tempo de prateleira maior e, por isso, têm a necessidade dos conservantes. Os chocolates artesanais ou orgânicos normalmente são feitos para consumo a curto prazo, não necessitando da introdução de conservantes. Esses conservantes são reconhecidos cientificamente por trazerem malefícios à saúde humana — pontua a nutricionista.

Benefícios do chocolate

  • Sensação de bem-estar e redução do estresse, pois o chocolate aumenta os níveis de hormônios do prazer como a endorfina, dopamina e a serotonina;
  • Melhoria no fluxo arterial, quando o consumo é moderado, já que cacau possui propriedades vasodilatadores, podendo colaborar para o controle da hipertensão arterial;
  • Injeção de energia e disposição, oriunda de substâncias estimulantes como a teobromina e a cafeína;
  • Melhoras cognitivas, que vão desde de o aumento da concentração e da memória até a prevenção de doenças cerebrais, como o Alzheimer e AVCs;
  • Efeito anti-inflamatório e antioxidante, graças à alta concentração de flavonoides na composição do cacau.

Malefícios do chocolate

  • Risco de diabetes, sobretudo no consumo de versões com mais açúcar;
  • Enxaqueca, devido a compostos presentes no cacau, como a cafeína, a feniletilalmina e a tiramina;
  • Problemas gastrointestinais, como refluxo, gastrite e síndrome do intestino irritável;
  • Alergias, que podem ser ao cacau, ao leite ou mesmo a outros ingredientes adicionados como nozes e avelãs;
  • Pode desencadear compulsão.

— O consumo do chocolate ao leite ou branco pode estar associado a alguns riscos devido ao estado de saúde da pessoa. Crianças, idosos e pessoas em condições específicas como diabéticas e com colesterol alterado devem ter cuidados. Normalmente, essas pessoas devem controlar o consumo de chocolate, devido à alta concentração de açúcar, podendo trazer uma piora em alguns quadros de saúde e, para crianças, uma dificuldade de introdução de alguns alimentos, como verduras e frutas em geral. Para a criança, o chocolate é muito mais atrativo devido ao sabor mais doce — explica Karen.

Presença de gordura e açúcar em diferentes tipos de chocolate — Foto: Reprodução/Universidade Federal do ABC

Tabela nutricional comparativa com diferentes tipos de chocolate — Foto: Reprodução/Universidade Federal do ABC

Como é o consumo saudável de chocolate

Uma dica importante na hora de avaliar qual chocolate comprar é ler o rótulo do produto.

Pela legislação brasileira, a lista de ingredientes na embalagem deve ser organizada do mais presente na fórmula para o de menor concentração. Por isso, se a lista trouxer açúcar ou óleo refinado como primeiro ingrediente, prefira outro produto. Em chocolates mais amargos, o primeiro ingrediente costuma ser a massa de cacau, que é o recomendado.

— Atualmente, com o crescimento da informação sobre saúde, a indústria começou a ter maior preocupação em produzir chocolates com menor quantidade de açúcar. Para as pessoas que ainda não conseguem consumir chocolate 100% cacau, pode começar com o chocolate 40% cacau e, aos poucos, ir aumentando a porcentagem de cacau. Nas prateleiras do mercado, já encontramos chocolate de 40%, 50%, 60%, 70%, 75%, 80%, 85%, 90%, 95% e 100%. Sendo assim, o ideal seria a pessoa, a cada vez que for comprar, tentar aumentar esta porcentagem — sugere Karen.

Questionada sobre o hábito de consumir chocolate na Páscoa, a nutricionista destaca que esta é uma tradição consolidade e, portanto, deve ser um hábito mantido, já que proporcionada alegria para as crianças e momentos de união familiar. Ela ressalta, entretanto, que é importante manter controle no consumo, evitando exageros e priorizando escolhas de qualidade.

— Tenho dois conselhos para quem quer consumir chocolate a Páscoa. Primeiro, caso você não consiga ter controle nesse consumo, o primeiro passo será ter uma quantidade pequena dentro de casa. Sendo assim, nada de várias caixas de bombons ou vários Ovos de Páscoa. O segundo conselho, caso você não tenha nenhum chocolate de preferência, se dê a oportunidade de conhecer chocolates com uma quantidade mais alta de cacau, devido aos benefícios.

Por fim, a nutricionista fala sobre para as quantidades recomendadas. Ele menciona que as quantidades podem variar de indivíduo para indivíduo. Para adultos saudáveis, de maneira geral, o limite de dois quadradinhos diários de uma barra de tamanho comum pode ser adicionado à rotina sem problemas.

  • Escolha as versões com mais cacau e menos açúcar;
  • Priorize produtos orgânicos aos industrializados;
  • Moderação no consumo. Para isso, a quantidade disponível em casa pode ser determinante para obter bom resultado.

Fonte:

Karen Souza é nutricionista e formada pela Universidade Estácio de Sá, com mestrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde atualmente é doutoranda. Possui pós-graduações em Nutrição Esportiva (Faculdade Cathedral), Nutrição Clínica (Faculdade Cathedral) e Gestão de Unidade de Alimentação em Nutrição (Universidade Cândido Mendes). É professora universitária na Universidade Estácio de Sá e atua como nutricionista clínica e esportiva.

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