Voo compartilhado: inovação aberta responde por metade da receita da Embraer

Tecnologias desenvolvidas com parceiros que resultaram em produtos e serviços lançados nos últimos cinco anos representaram cerca de 50% da receita líquida em 2022

Por Michele Loureiro


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Leonardo Garnica, head de Inovação Aberta na Embraer — Foto: Foto: Divulgação/Arte: Clayton Rodrigues

A inovação aberta levou a Embraer a desenvolver novos produtos de alta tecnologia, como o lançamento do satélite de Observação da Terra e Coleta de Dados (VCUB1) da Visiona, uma joint-venture com a Telebras; a produção da aeronave elétrica de decolagem e pouso vertical (eVTOL) numa parceria com a Eve Air Mobility, popularmente chamada de "carro voador"; e a criação de sistemas de defesa da Atech para as fragatas Classe Tamandaré, da Marinha do Brasil, com a Thyssenkrupp Marine Systems. Há ainda negociações com empresas indianas para montar o jato de alcance médio E2 e o transportador de tropas C-390 Millennium. E tudo isso foi anunciado apenas este ano. “Seria impossível imaginar o que estamos fazendo sem a inovação aberta”, diz Leonardo Garnica, head da área na Embraer.

As inovações desenvolvidas com parceiros, que resultaram em produtos e serviços lançados nos últimos cinco anos, representaram cerca de 50% da receita líquida da companhia em 2022. “Partimos do princípio que nunca vamos dominar e ter todos os conhecimentos dentro de casa. Existe muito além do nosso muro, por isso criamos portas para nos conectar com esses parceiros”, afirma.

A companhia tem dezenas de parcerias com universidades nacionais e internacionais, realiza programas de intraempreendorismo para estimular a cultura, e mantém o Embraer Ventures, veículo de capital de risco corporativo, que recentemente teve aporte de R$ 20 milhões para atrair e impulsionar startups brasileiras. Uma das apostas foi a Xmobots, a maior empresa de fabricação de drones da América Latina.

Garnica explica que a empresa estabeleceu verticais de inovação para facilitar a busca por parceiros. Desta forma, empresa e subsidiárias caminham na mesma direção e buscam a colaboração para desenvolver oito pilares: zero emissão, voo autônomo, inteligência artificial e data science, indústria 4.0, airframe competitivo, negócios baseados em plataformas, experiência do passageiro e cibersegurança.

Extrapolar os muros é tão importante para a estratégia da companhia que, em 2020, foi criada a Embraer-X, com sede nos Estados Unidos, para fomentar e estruturar oportunidades de novos negócios disruptivos de mobilidade. “Quanto mais startups, pesquisas de universidades e empresas conhecemos, melhor fica nossa visão para consertar, impulsionar ou criar produtos para o nosso negócio”, diz o executivo.

Além disso, a empresa aposta no intraempreendorismo. Um exemplo disso é o programa Green Light, que avalia propostas inovadoras apresentadas voluntariamente pelos funcionários e fornece disponibilidade de tempo, orientação técnica e empresarial, e recursos para que eles realizem a ideia até que sua viabilidade técnica e econômica seja comprovada. Em 2022, 60 projetos inovadores estavam em desenvolvimento na companhia.

Colaboração para mudar o setor

Além de desenvolver seu negócio, a Embraer já notou que os setores nos quais atua precisam de um fôlego extra. Por isso, a companhia firmou parcerias com governo de São Paulo e o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) para alavancar a mobilidade aérea. O resultado foi o lançamento do CPE (Centro de Pesquisa em Engenharia) para a Mobilidade Aérea do Futuro, que ocupa as instalações do ITA, em São José dos Campos (SP).

O investimento inicial será dividido entre a Embraer e o governo de São Paulo, via Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), com previsão de R$ 48 milhões em cinco anos – R$ 24 milhões para cada parceiro.

O CPE reunirá mais de 120 pesquisadores e engenheiros da Embraer no desenvolvimento de pesquisas que têm como objetivo aumentar a competitividade da indústria aeronáutica nacional, com foco na redução de emissões, sistemas autônomos e projeto e manufatura avançada.

Além disso, há um projeto em andamento com a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Recentemente, as duas partes assinaram acordo para o desenvolvimento de plataformas demonstradoras de novas tecnologias aeronáuticas.

O projeto de inovação, que utiliza recursos não reembolsáveis, de subvenção econômica, do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, é avaliado em mais de R$ 180 milhões e terá o aporte de R$ 120 milhões da Finep ao longo dos próximos três anos. Os recursos complementares virão da Embraer e de cinco coexecutores.

“Queremos compartilhar todo conhecimento e oportunidades possíveis”, finaliza o executivo.

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