Variante genética protetora ajuda a prevenir Alzheimer de início precoce, aponta pesquisa

Cientistas encontraram evidências de que possuir apenas uma cópia de uma variante rara do gene APOE3, chamada Christchurch (APOE3Ch), retarda a doença

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— Foto: Getty Images

Uma equipe internacional de pesquisadores, incluindo do Mass Eye and Ear e do Massachusetts General Hospital (MGH), dos Estados Unidos, realizam há anos o estudo MGH Colombia-Boston (COLBOS), que acompanha uma família colombiana com risco genético extremamente elevado para Alzheimer de início precoce.

Essa família é composta por cerca de seis mil parentes consanguíneos, sendo que cerca de 1,2 mil são portadores de uma variante genética chamada mutação “Paisa” (Presenilina-1 E280A). Quem tem a variante autossômica dominante, na maioria dos casos, desenvolve comprometimento cognitivo leve aos 40 anos, demência aos 50 anos e morre em decorrência de complicações da condição aos 60 anos.

Em 2019, os investigadores relataram o caso de uma mulher do clã que não apresentou comprometimento cognitivo até os 70 anos. Na ocisão, a descoberta foi que, apesar de portar a Paisa, ela tinha duas cópias de uma variante rara do gene APOE3, chamada Christchurch (APOE3Ch).

Agora, a equipe de pesquisa relatou mais 27 membros da família que também carregam o APOE3Ch, mas apenas uma cópia, e tiveram início tardio da doença. O estudo, publicado no The New England Journal of Medicine, traz, segundo os envolvidos, a primeira evidência de que ter uma cópia da variante pode conferir algum nível de proteção contra a doença de Alzheimer autossômica dominante, mesmo que menos pronunciada em comparação com quando duas cópias estão presentes.

“Como médico, sinto-me altamente encorajado pelas nossas descobertas, pois sugerem o potencial para retardar o declínio cognitivo e a demência em indivíduos mais velhos. Devemos aproveitar esse novo conhecimento para desenvolver tratamentos eficazes para a prevenção da demência”, disse o coautor Yakeel T. Quiroz, neuropsicólogo clínico e pesquisador de neuroimagem e diretor do Laboratório de Neuroimagem de Demência Familiar nos Departamentos de Psiquiatria e Neurologia de Massachusetts. Hospital Geral.

Joseph Arboleda-Velasquez, coautor sênior e cientista associado do Mass Eye and Ear acrescentou que a nova pesquisa é significativa porque aumenta a confiança de que o APOE3Ch não é apenas protetor, mas também transformável em medicamento. “Acreditamos que a terapêutica inspirada em seres humanos protegidos tem muito mais probabilidade de funcionar e de ser mais segura”, salientou.

Nas avaliações feitas pelos especialistas, os membros da família colombiana que têm a cópia da variante começaram a apresentar sinais de comprometimento cognitivo aos 52 anos, em comparação com um grupo correspondente de familiares que não tinham a variante – neste caso, os sinais surgiram aos 47 anos.

Dois indivíduos que fazem parte do MGH Colombia-Boston (COLBOS) passaram por imagens cerebrais funcionais, e os exames mostraram níveis mais baixos da proteína tau, que está relacionada ao Alzheimer, e atividade metabólica preservada em áreas tipicamente envolvidas na doença, mesmo com a presença de placas amiloides, outras proteínas consideradas marcadores para a condição.

A equipe também analisou amostras de autópsia de quatro indivíduos falecidos portadores da variante. Neles, observou-se vasos sanguíneos no cérebro com menos sinais de danos, uma característica que parece importante para os efeitos protetores da APOE3Ch.

Os autores complementaram que o estudo foi limitado a um número relativamente pequeno de pessoas portadoras das variantes Paisa e Christchurch, e a uma única família extensa, por isso, trabalhos adicionais envolvendo amostras maiores e com maior diversidade étnica de Alzheimer são necessários.

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