O Poder da Inovação

Por Luiz Serafim

Escritor e músico, com experiência de 30 anos como líder de marketing, inovação e diretor de Comunicação da 3M


 — Foto: Getty Images
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Inovação é fenômeno colaborativo. A ideia que teremos amanhã foi inspirada por elementos que nos impactaram ontem. Ninguém gera possibilidades do vazio, a imaginação não cria no vácuo de uma tábula rasa. Herdamos legados e bebemos de fontes diversas para criar.

Lembro do susto quando um colega chocou a plateia afirmando que Thomas Edison não era o inventor da lâmpada. O britânico Joseph Swan já havia patenteado a invenção e ambos só avançaram porque outros pesquisadores antes deles geraram muitos progressos científicos.

Além disso, trazendo a questão da colaboração para as organizações, uma boa ideia só vinga com a contribuição de áreas diferentes para fazer com que insight se transforme em inovação. Uma variável mal colocada (um detalhe operacional ineficiente, comunicação ruim, distribuição inadequada etc.) pode colocar tudo a perder ou, pelo menos, desperdiçar tempo e recurso.

Em meu trabalho como especialista da inovação, sempre destaco a importância de colaborar para inovar. Organizações inovadoras são essencialmente colaborativas, alavancando o potencial, a capacidade e o conhecimento de cada indivíduo em espaço onde as pessoas constroem com e sobre as ideias dos colegas.

A gente pode até incensar no “Hall da Inovação” o designer da Apple, o pessoal de tecnologia da Microsoft, a área de relacionamento com o cliente da Nubank, a especialista de embalagens da Coca-Cola, mas se não houver um conjunto minimamente integrado entre várias capabilidades organizacionais, a inovação morre na praia.

Participei de muitos projetos vencedores em organizações. Mas também naufragamos com ideias de potencial. No processo de inovação, mesmo quando temos um conceito poderoso, as variáveis influenciam muito. Custos operacionais, tempos logísticos, abordagem comercial, comunicação, precificação. Uma carta mal posicionada derruba o castelo todo em um segundo.

Inovação é jogo coletivo, praticado em equipe que precisa de “atletas” sintonizados, com diversos perfis e expertises, entre atacantes, pivôs, líberos, armadores, laterais, goleiros, impulsionados por um propósito apaixonante, senso de pertencimento, relações de confiança.

Além dessa verdade antiga sobre colaboração dentro das organizações – ainda que vez por outra haja senhores feudais protegendo suas cabeças e atirando fogo amigo, o fato é que hoje vivemos na Era da Interdependência.

Se na inovação do século 20, priorizamos o sistema fechado, a orientação do século 21 é a inovação aberta, é colaborar intensamente, para dentro e para fora da empresa.

É a hora e a vez dos colaboradores, conectando áreas dentro da organização e fazendo pontes fundamentais com clientes, parceiros, fornecedores, comunidades, universidades, startups e tantos outros stakeholders.

Na nova realidade, é essencial desenvolver a liderança colaborativa que valoriza a participação de todos, encorajando a troca de ideias e a cooperação entre as partes interessadas, podendo levar a soluções inovadoras de maior impacto positivo.

Então, chega a hora de provocar reflexões: Como está seu potencial de colaboração? Você se coloca disponível para outras pessoas, na sua organização e em outras situações? Ouve com curiosidade, atenção e tolerância? Centraliza decisões sempre ou convida à co-criação? Amplia repertórios, de conteúdos e vivências, com outras pessoas e ambientes? Mantém humildade ou cultiva a imagem de liderança perfeita? Quer estar invariavelmente no centro do palco sob os holofotes ou atua pelo propósito, com menos ego e mais colaboração?

A 3M dos meus tempos só chegou a 50 mil itens de produtos em seu portfólio pela gigantesca força colaborativa polinizadora entre funcionários, áreas, clientes e outros stakeholders.

Hoje, abraçando com a alma este tempo de colaborar, empreendo na World Creativity Day, empresa de educação que organiza o maior festival colaborativo de criatividade do mundo em abril. O movimento que, em 2024, nos dias 19, 20 e 21 de abril, oferece mais de 3.000 atividades gratuitas, em mais de 400 endereços, em 55 cidades brasileiras tem como um de seus segredos a colaboração entre os diversos agentes dos ecossistemas.

O doc Ecossistemas de Inovação, dirigido pela Patrícia Travassos e lançado no final de 2023, é outro estimulante registro da colaboração que ocorre em muitos pontos do Brasil para se gerar inovação, nos enchendo de esperança. Ali conhecemos o Porto Digital de Recife, a Acate de Santa Catarina, o Hacktown em Minas Gerais, entre tantos hubs inspiradores e cooperativos.

Uma querida amiga, Isabella Cecatto, criadora do movimento O Poder da Colaboração, costuma avisar: “Se alguém colaborar com você, revide”. Ela também afirma que “Colaboração é a resposta, não importa a pergunta”. Quem vai duvidar?

E mesmo se não vier a colaboração inicial de alguém, a regra é doar-se primeiro. Uma das belas e mais ouvidas frases dentro das comunidades de startups é “Give first”, mantra que escuto dos voluntários da ZeroOnze Startups, no Instituto Caldeira, no Rapadura Valley, de muita gente boa que está aberta a conexões para gerar mais e melhores inovações. Vamos juntos?

*Serafim é pai do Gabriel, escritor, músico e Diretor da “World Creativity Organization”, que realiza o “Dia Mundial da Criatividade”, com experiência de 30 anos como líder de marketing, inovação e diretor de Comunicação da 3M. Palestrante com mais de 1.000 apresentações sobre criatividade, inovação e liderança, é professor de Marketing e Inovação na FIA, FGV, Inova, ESALQ/USP e O Novo Mercado. Formado em administração (EAESP/FGV) e publicidade (ECA/USP), tem especialização em desenvolvimento do potencial humano e Psicologia Positiva (PUC/RS). No esporte, corre e faz dupla com seu filho, atleta paralímpico de bocha. Autor do livro “O Poder da Inovação” (Ed. Saraiva), é idealizador do Programa Inspira.mov, sobre Criatividade e Empreendedorismo (5 temporadas), veiculado pela TV Cultura, e apoiador da Mostra 3M de Arte (12 edições), do Prêmio Brasil Criativo (4 edições) e do Doc Ecossistemas de Inovação.

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