• Liliane Rocha*
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executiva, carreira, liderança, trabalho, motivação, sucesso (Foto: Getty Images)

Mulheres negras em cargos de liderança trazem inovação às empresas (Foto: Getty Images)

Recentemente, eu estava conversando com a Raquel Virgínia, CEO e Fundadora da Nhaí!, uma mulher com uma visão interessante e disruptiva sobre a sua empresa, que atua nos segmentos de diversidade e tecnologia. Em algum momento, comentei que, na Gestão Kairós, focamos a estratégia da diversidade, mas sem necessariamente fazer isso usando tecnologia.

Ela respondeu: “Sua presença como mulher negra em qualquer sala, até então ocupada somente por homens brancos, já é uma inovação tecnológica maior do que qualquer sonda que chegue até Marte. A sua presença na sala está mudando tudo!”

Na hora, fiquei impactada, achei uma forma super interessante de ler o cenário, de como a diversidade, presente em um ambiente no qual nunca havia estado antes, já obriga imediatamente as pessoas a pensarem, refletirem, questionarem, a perceberem o mundo de forma diferente.

Nesta semana, enquanto ministrava aula para um grupo de Conselheiros de Administração, compartilhando com eles meus aprendizados de 17 anos implantando programas de diversidade em grandes empresas, percebi que, na sala com cerca de 50 pessoas, eram todas brancas e a grande maioria homens (só 5 mulheres). E daí me lembrei novamente da Raquel. Mulher, preta, trans, artista, empreendedora, empresária, provavelmente sabia muito bem do que estava falando, pois ouvi percepções das mais variadas, desde “Falar de diversidade é mimimi”, passando por “Não sei porque falar tanto tempo da questão racial, tenho amigos negros, funcionários negros, convivo com pessoas negras, não há racismo no Brasil” até “O Piquet não pode chamar de negrinho, mas quando o Neguinho da Beija Flor usa esse nome artístico, pode”.

O volume e a intensidade das ideias preconcebidas sobre o tema nunca me assustaram, mas a falta de reverência com uma docente negra, liderando uma turma rumo à ampliação de conhecimento e a deslegitimização de lugar, me causaram espanto. Em algum momento, senti que toda a revanche que aquele público queria fazer em relação à pauta racial e aos avanços que temos tido na temática e inclusão do Brasil estavam sendo direcionados para mim.
Tentei esclarecer com dados, números, fatos, repertório histórico, vivência com CEOS e conselheiros inclusivos com os quais tenho trabalhado, e até com alguns dos conselheiros que estavam na turma. Alguns deles trouxeram conteúdos, experiências e falas contundentes sobre por que a diversidade e a inclusão s��o temas da agenda do dia, o quanto somos desconhecedores da nossa realidade no Brasil, e por que era importante estudarmos e compreendermos o tema a fundo.

Ao final, perguntei para a classe como teria sido a aula se tivéssemos a presença de mais mulheres, negros, pessoas com deficiência e LGBTQPIA+ na sala. E por que era tão difícil reconhecer e validar uma mulher negra na posição de autoridade, como por exemplo na docência? E, por fim, recomendei que eles conversassem mais entre seus pares, escutando com atenção e falando com intenção, para compreender mais sobre o assunto.
E lembrei que, no contexto atual de nanotecnologia, biotecnologia, impressora 3D, internet 5G e inteligência artificial, líderes da atualidade têm pouca margem para incorrer em equívocos que antes eram recorrentes e naturalizados.

Tenho certeza de que mesmo os alunos mais relutantes da sala saíram completamente transformados e que lembrarão de mim por muito tempo. Por isso, cada líder que coloca uma mulher negra na liderança de uma grande empresa, em uma sala de aula, evento, poder público, está gerando uma mudança completamente disruptiva. Está mudando tudo!

Neste mês, em que é celebrado o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, data criada com o objetivo de visibilizar a luta das mulheres negras contra o preconceito, opressão e falta de oportunidades em diversos setores, esta é a reflexão que deixo para os leitores. Até quando vamos viver com a mentalidade presa ao passado? Já passou da hora de avançarmos!

Cada pessoa, em seu microcosmo, tem o poder de mudar essa realidade. Basta estar disposto a deixar de lado conceitos ultrapassados e aprender sobre temas como a valorização da diversidade. Afinal, já está mais do que provado que esse é o presente e o futuro!
 

*Liliane Rocha é CEO e fundadora da Gestão Kairós, consultoria especializada em Sustentabilidade e Diversidade, autora do livro "Como ser um líder inclusivo" e premiada com o 101 Top Global Diversity and Inclusion Leaders