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Inclusão, diversidade (Foto: Unsplash)

Presença das mulheres é maior na base da pirâmide e começa a diminuir nos cargos de média liderança (Foto: Unsplash)

Mulheres e negros são minoria na liderança das empresas brasileiras, aponta o estudo  Trajetória de CEOs no Brasil. Segundo a pesquisa, organizada pela unidade especializada em recrutamento e seleção de executivos Page Executive em parceria com a Fundação Dom Cabral, 90% dos CEOs são homens e brancos. Ou seja, apenas uma em cada 10 posições no Brasil é ocupada por mulheres ou negros.

A pesquisa teve a participação de 149 CEOs ativos de empresas em diversos setores — como indústria, finanças, saúde, tecnologia, transportes, engenharia e arquitetura, agronegócio, alimentos, minas e energia.

“O mercado de trabalho reflete as transformações da sociedade. A falta de políticas organizacionais e de interesse no passado fez com que tivéssemos muito menos diversidade hoje. Vivemos o resultado da construção de gerações", disse em comunicado Ricardo Basaglia, diretor-geral da Page Executive. Para Basaglia, agora as companhias passam a prestar atenção na inclusão nas corporações, inclusive no alto escalão.

"Existe infelizmente uma escassez de diversidade dos executivos nas funções que conduzem com maior probabilidade a cadeira de CEO”, completou em nota o diretor do Centro de Liderança da Fundação Dom Cabral, Paul Ferreira.

No caso de pessoas que se reportam aos líderes, a disparidade de gênero também é uma realidade: em 80% dos casos, menos da metade são mulheres, indica a pesquisa. E é justamente a ausência feminina que dificulta o aumento no número de CEOs mulheres.

O levantamento Vamos cair na real sobre igualdade (na tradução do inglês), de 2020, aponta que mulheres têm menor representatividade a partir de cargos de média liderança, se concentrando na base da pirâmide organizacional. Veja a distribuição: equipe de suporte (47%); profissionais (42%); gerentes (42%); gerentes sênior (29%); e executivas (23%).

"Barreiras estruturais e vieses culturais contribuem para que isso aconteça dentro das empresas”, comenta Maira Campos, diretora-executiva da Page Interim, divisão especializada no recrutamento de terceiros e temporários do PageGroup.

Perfil das CEOs mulheres

De acordo com a pesquisa, as CEOs que participaram do levantamento têm, em média, 49 anos — foram registradas idades entre 41 e 60 anos. Todas se identificam brancas e 92% atuam em empresas sediadas na capital paulista.

O raio-x ainda indica que a maioria assumiu a empresa que fundou (38,5%) ou foi indicada internamente (30,8%).

Na pandemia

A pesquisa também mostrou maior vulnerabilidade das mulheres executivas durante a pandemia. Em 2020, as indicações para CEO foram marcadas por homens, enquanto, em 2021, sobressaem profissionais mais velhos — aqueles que já estavam na empresa são maioria (58,81%), seguidos por indicações de headhunters (17,65%) e networking (23,53%).

O levantamento cita também um estudo do Instituto de Economia do Trabalho que mostrou que, em um ano, mulheres nas principais economias globais tinham 24% mais chances de perder seus trabalhos do que os homens durante a pandemia da covid-19.

Tempo para ser CEO

Para a maioria dos entrevistados, tornar-se CEO hoje é mais rápido e fácil do que no passado. A pesquisa mostra que 61,07% discordam que é impossível atingir a posição de CEO sem mudar de empresa — mesmo que apenas 20% chegaram ao cargo trabalhando em apenas uma companhia.

Do total, 68% passaram por até três corporações até atingirem o cargo, e 66% trabalharam por cerca de 20 anos até se tornaram CEO. “O profissional passa dois terços da carreira se preparando. Há exceções em determinados setores da economia, configurações de empresa em que o CEO faz parte da família ou é o próprio fundador, além de companhias que crescem muito rápido e dão oportunidade para quem está lá dentro”, comenta Paul Ferreira, da Fundação Dom Cabral.

Novas tendências nos conselhos

Também foram analisadas perspectivas sobre a atuação em conselhos nas corporações. “Há 10 ou 15 anos o executivo assumia a posição de CEO, depois se tornava conselheiro e presidente de conselho. Hoje em dia, a carreira de conselheiro teve uma explosão com o crescimento das áreas de governança, que levaram à formação de conselhos mais robustos", explica Paul Ferreira.

Segundo o profissional da Fundação Dom Cabral, a perspectiva é que os executivos atuem paralelamente como conselheiros ou ainda deixem o cargo de CEO para se dedicar aos conselhos. "Isso tem a ver com a tendência de carreiras múltiplas, além de aumentar o revenue para o executivo”, completa Ferreira.

"Temos percebido cada vez mais essa participação em conselhos, que exige do executivo uma mudança de postura. O desafio está em deixar o papel de liderar para definir estratégia sem estar no dia a dia. Mesmo sendo um excelente executivo com grandes responsabilidades e conquistas como CEO, o profissional pode não conseguir o mesmo desempenho como conselheiro", salienta Heloisa Villibor, da Page Executive.

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