Um imóvel com vista para o rio, novo lar da designer de interiores Teresa Golpe — após períodos vividos em Corunha, na Espanha, sua cidade natal, e Londres —, carrega em sua história a realeza portuguesa. Antiga residência dos Duques de Bragança, herdeiros do trono de Portugal, a casa é pano de fundo de incontáveis peças de artesanato português, um cenário inspirador e cheio de passado. “Fazer algo maravilhoso aqui é fácil”, conta enquanto aponta para o pé-direito de mais de três metros de altura. “A arquitetura é bestial”.
Teresa chegou ao país vizinho pouco antes da pandemia, “de mala na mão” em um voo de origem na capital britânica, para assumir as funções de diretora criativa de um hotel. Inspirada com o que viu, nasceu a vontade de revalorizar o artesanato português, um luxo silencioso que não conhece estridência e ainda não é suficientemente apreciado nem dentro, nem fora das suas fronteiras. "Dediquei-me a percorrer o território de carro para conversar com as pessoas. Aqui, a figura do criador não é centralizada, muito pelo contrário", explica. Fruto destas relações cultivadas através da paciência, habilidade e inúmeras horas de intimidade partilhada, surgiu a ideia de criar a Devagar Living, uma plataforma a partir da qual a designer exporta peças desenhadas por ela — com inspiração em motivos tradicionais — e feitas à mão por artesãos da região. São cestos, têxteis e tapetes que Teresa combina com facilidade na decoração da sua casa.
“Quando comprei o imóvel, estava tudo como o anterior inquilino tinha deixado, o que não era propriamente a melhor das condições, e assim continuou até acabar isolamento social e poder colocar mãos à obra”, recorda. A primeira coisa que fez foi limpar os ambientes e jogar fora o que não queria mais, já que os espaços, todos interligados seguindo o modelo de planta da época, estavam absolutamente lotados.
Em cada cômodo, uma cor. Os móveis, amontoados contra a parede, eram “demais e muito modernos”. Teresa optou, então, por recuperar o que entendeu ser característica original da construção: restaurou o sistema hidráulico da cozinha — um modelo com mais de 200 anos —, recuperou a biblioteca, trouxe pedras das pedreiras locais para refazer as salas de banho e mandou reparar as portas de madeira maciça de castanheiro.
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Apesar da parte estética ser mantida, a parte estrutural foi renovada. "A única novidade é a instalação elétrica, embora também tenha aquele brilho antigo para não bater. É a minha terceira casa e em todas elas tentei fazer o mesmo: que respirem a cidade em que vivem". Esta, claro, grita “Portugal”.
*Matéria publicada originalmente na Architectural Digest Espanha e traduzida por Nicoly Bernardes