Casas

Por Cristina Dantas | Estilo Manu Figueiredo


No ateliê, a figura de Lenora, de costas, fez parte da instalação Ping-Poema para Boris, em homenagem ao tradutor de russo Boris Schnaiderman, na exibição Território Expandido, no Sesc Pompeia, em 2000 – ao lado, plotagem de um retrato de Geraldo de Barros, vinda de uma exposição dedicada ao mestre, durante os anos 1990, no CCBB do Rio de Janeiro — Foto: Ruy Teixeira
No ateliê, a figura de Lenora, de costas, fez parte da instalação Ping-Poema para Boris, em homenagem ao tradutor de russo Boris Schnaiderman, na exibição Território Expandido, no Sesc Pompeia, em 2000 – ao lado, plotagem de um retrato de Geraldo de Barros, vinda de uma exposição dedicada ao mestre, durante os anos 1990, no CCBB do Rio de Janeiro — Foto: Ruy Teixeira

A casa em São Roque, pequeno município do interior paulista, destinava-se a ser grande. Não apenas no tamanho, mas em sua vocação como abrigo do que há de melhor no design e na arte de vanguarda do país – criações e criadores. A residência de campo, adquirida em 1970 pelo designer, artista plástico e fotógrafo Geraldo de Barros (1923-1998), passou por uma pequena reforma, a cargo de Plínio Croce (1921-1984), arquiteto de edifícios icônicos daquele período. O amigo o ajudou a tornar a moradia mais adequada à família, composta pela mulher e pelas duas filhas, Lenora e Fabiana. Logo o refúgio transformou-se no ponto de encontro para os vizinhos, muitos de origem estrangeira, exercerem sua cidadania ancestral entre vapores exalados das panelas. Passados tantos anos, a linguista, poeta e artista visual Lenora de Barros ainda se lembra desses festivos jantares.

No living, a fotoperformance Homenagem a George Segal, de Lenora de Barros, se destaca ante a cadeira V, de Zanine Caldas, o banco Mocho, de Sergio Rodrigues, e a poltrona Senior, de Jorge Zalszupin — Foto: Ruy Teixeira
No living, a fotoperformance Homenagem a George Segal, de Lenora de Barros, se destaca ante a cadeira V, de Zanine Caldas, o banco Mocho, de Sergio Rodrigues, e a poltrona Senior, de Jorge Zalszupin — Foto: Ruy Teixeira
Neste canto do living, praticamente todos os móveis são de autoria de Geraldo de Barros para a Hobjeto, com exceção do banco Mocho, de Sergio Rodrigues (à frente, à esq.), na Dpot – na parede, posicionou-se a tela de Antonio Dias (ao centro) entre quadros de Lenora e Geraldo de Barros, e o piso recebeu tapete comprado na Leroy Merlin — Foto: Ruy Teixeira
Neste canto do living, praticamente todos os móveis são de autoria de Geraldo de Barros para a Hobjeto, com exceção do banco Mocho, de Sergio Rodrigues (à frente, à esq.), na Dpot – na parede, posicionou-se a tela de Antonio Dias (ao centro) entre quadros de Lenora e Geraldo de Barros, e o piso recebeu tapete comprado na Leroy Merlin — Foto: Ruy Teixeira

O anexo de dois andares servia como ateliê, onde Geraldo praticava seus múltiplos talentos acompanhado de perto pelas meninas, que costumava levar à Europa para um tour por seus museus preferidos – e que até hoje Lenora revisita. “Converso com meu pai através das obras”, diz.

Com o terraço fechado por painéis de vidro ainda nos anos 1970, a construção principal ganhou amplitude. Do lado de fora, as mudas de árvores iam chegando para, um dia, prover sombra ao terreno de meio alqueire. Na época, a família flertava com uma mudança definitiva para lá, mas a ideia foi eternamente adiada. Décadas mais tarde, a propriedade converteu-se no endereço fixo de Lenora e seu marido, o jornalista Marcos Augusto Gonçalves. “Viemos para ficar 15 dias no início da pandemia”, conta a herdeira. O tempo foi passando, e parecia difícil para ela se manter distante do estúdio na capital paulista, a poucos metros de seu apartamento. Foi quando decidiu levar tudo para São Roque, em um prenúncio de uma transferência definitiva.

Lenora brinca com bolinha de pingue-pongue junto à mesa de jantar, à frente do quadro Formica, de Geraldo de Barros — Foto: Ruy Teixeira
Lenora brinca com bolinha de pingue-pongue junto à mesa de jantar, à frente do quadro Formica, de Geraldo de Barros — Foto: Ruy Teixeira
A cozinha exibe armários e forno da Kitchens, enquanto a mesa central, desenhada por Geraldo especialmente para a área de refeições, ganhou companhia de luminária pendente da Leroy Merlin e bancos laqueados da Hobjeto, primeira empresa a empregar a técnica no Brasil – ao fundo, para dialogar com as tonalidades quentes do cômodo, o designer pendurou na parede uma escultura no formato do Sol, lembrança de uma viagem ao México — Foto: Ruy Teixeira
A cozinha exibe armários e forno da Kitchens, enquanto a mesa central, desenhada por Geraldo especialmente para a área de refeições, ganhou companhia de luminária pendente da Leroy Merlin e bancos laqueados da Hobjeto, primeira empresa a empregar a técnica no Brasil – ao fundo, para dialogar com as tonalidades quentes do cômodo, o designer pendurou na parede uma escultura no formato do Sol, lembrança de uma viagem ao México — Foto: Ruy Teixeira
No closet, a tela de Fabiana de Barros, irmã de Lenora, convive com uma poltrona vintage, parte do acervo de móveis da família — Foto: Ruy Teixeira
No closet, a tela de Fabiana de Barros, irmã de Lenora, convive com uma poltrona vintage, parte do acervo de móveis da família — Foto: Ruy Teixeira

Já estabelecidos, os moradores providenciaram uma única e indispensável renovação: o forro de madeira do pavimento superior do anexo, exposto à ação corrosiva das intempéries, precisou sair de cena. Parte do mobiliário organizou-se em outros arranjos, enquanto se restauraram móveis da Hobjeto, fundada por Geraldo em 1964. Há peças também de uma das mais vanguardistas empresas sediadas em solo nacional: a Unilabor, concebida pelo designer em 1954 como uma cooperativa.

Na suíte, a cadeira de palhinha, design Geraldo de Barros para a Unilabor, faz as vezes de mesa de cabeceira, e, na parede da cama decorada com colcha antiga da moradora, a tela de Fabiana de Barros forma uma composição com a fotografia de Ruy Teixeira (à dir.) — Foto: Ruy Teixeira
Na suíte, a cadeira de palhinha, design Geraldo de Barros para a Unilabor, faz as vezes de mesa de cabeceira, e, na parede da cama decorada com colcha antiga da moradora, a tela de Fabiana de Barros forma uma composição com a fotografia de Ruy Teixeira (à dir.) — Foto: Ruy Teixeira

As casas urbanas em que Lenora morou com os pais não diferiam muito do sítio e de tantos espaços que ela frequenta e nos quais expõe mundo afora. “Sempre havia muita arte, era como viver em uma instalação”, recorda. No interior paulista, ela se encanta também com o entorno: as rochas, o céu limpo, as árvores crescidas que viu na forma de mudas.

No ateliê, cadeiras e mesas projetadas por Geraldo amparam livros, desenhos e instrumentos usados por Lenora durante suas criações — Foto: Ruy Teixeira
No ateliê, cadeiras e mesas projetadas por Geraldo amparam livros, desenhos e instrumentos usados por Lenora durante suas criações — Foto: Ruy Teixeira
Neste canto do ateliê, mais lembranças de exposições, incluindo o disco O Que Ouve, da instalação sonora Lugar Comum: Travessia e Coletividade na Cidade, que aconteceu no Parque Ibirapuera em 2020, e a cadeira Pussycats, parte de O Que Há de Novo, de Novo, Pussyquete?, de Lenora de Barros, na galeria Millan — Foto: Ruy Teixeira
Neste canto do ateliê, mais lembranças de exposições, incluindo o disco O Que Ouve, da instalação sonora Lugar Comum: Travessia e Coletividade na Cidade, que aconteceu no Parque Ibirapuera em 2020, e a cadeira Pussycats, parte de O Que Há de Novo, de Novo, Pussyquete?, de Lenora de Barros, na galeria Millan — Foto: Ruy Teixeira
Quatro cadeiras brancas e amarelas, parte da instalação de Lenora em 2001 para a galeria Millan, formam uma composição bem no centro do ateliê — Foto: Ruy Teixeira
Quatro cadeiras brancas e amarelas, parte da instalação de Lenora em 2001 para a galeria Millan, formam uma composição bem no centro do ateliê — Foto: Ruy Teixeira
No mesmo ambiente, a artista resgata sua pose no lambe-lambe Ping-Poema, com inscrições em cirílico, parte da exposição Território Expandido — Foto: Ruy Teixeira
No mesmo ambiente, a artista resgata sua pose no lambe-lambe Ping-Poema, com inscrições em cirílico, parte da exposição Território Expandido — Foto: Ruy Teixeira

Obras de Geraldo, Lenora e Fabiana, artista plástica que vive em Genebra, na Suíça, convivem com produções de amigos. “Minha maior intervenção foi em uma parede do quarto, que ainda mantinha uma galeria de fotos de família montada pelos meus pais”, revela a primogênita, focada atualmente na poesia visual e na volta às exposições presenciais. Em setembro, seu trabalho desembarca na cidade alemã de Würzburg, em uma mostra intitulada Concrete Resistence – Constructivisms of the Global South. A partir de 8 de outubro, acontece uma panorâmica na Pinacoteca de São Paulo, e, no mesmo mês, Arte É Bom, com curadoria de Daniela Thomas, estreia no MIS, também na capital paulista. Em São Roque, o ateliê segue em cartaz – e em permanente movimento.

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