![O francês Marcel Duchamp levou um mictório, assinado como R. Mutt, para exposição da Associação dos Artistas Independentes de Nova York — Foto: Getty Images](https://cdn.statically.io/img/s2-casavogue.glbimg.com/R05HmOk6AiNZ0Cs4fiidwSw5LMI=/0x0:3000x2000/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_d72fd4bf0af74c0c89d27a5a226dbbf8/internal_photos/bs/2023/t/z/e2Ju1BRkSj5ch7ss9qPQ/gettyimages-161616665.jpg)
Durante minhas visitas guiadas, diversas vezes ouvi pessoas dizerem que não gostaram de uma obra, ou que não a "acharam bonita". Nesses casos, depois do comentário, a pessoa logo tenta corrigir o que disse, com medo de que eu julgue sua percepção. E a pergunta que surge é: devemos nos sentir obrigados a achar algo bonito só porque é rotulado como uma obra de arte?"
O choque entre gostos e interpretações é, para mim, uma das características mais fascinantes da arte. O que pode ser um verdadeiro "colírio aos olhos" para uma pessoa, também é capaz de ser visto como algo sem apelo visual para outra. No entanto, é fundamental lembrar que a arte transcende os conceitos de "bom" ou "ruim", "feio" ou "bonito". Gostar ou não de uma obra não faz com que ela seja mais ou menos importante. Afinal, a arte é um veículo de auto expressão, que provoca reflexões e, acima de tudo, desperta as mais diferentes emoções em cada um de nós.
!["Number 1", ou "Número 1", em tradução literal. Obra do rtista Jean-Michel Basquiat — Foto: Reprodução/Shoteby's](https://cdn.statically.io/img/s2-casavogue.glbimg.com/sOszTaruEDkuSytkCdWN_eFsDzw=/0x0:684x1121/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_d72fd4bf0af74c0c89d27a5a226dbbf8/internal_photos/bs/2023/l/o/twriCNTZGn6tqXCblAUA/basquiat-1.jpg)
Na minha opinião, o primeiro passo para que você de fato consiga interagir de forma mais íntima e profunda com a arte é não julgar, de forma precipitada, sua reação em relação à obra, e nem a obra por não ter te agradado visualmente. Embora existam circunstâncias sociais que nos levam a achar determinadas coisas bonitas e outras feias, não há um padrão universal que determina o que é belo. A diversidade de reações (decorrentes das nossas vivências e subjetividade) é, no final das contas, o que enriquece o diálogo em torno da arte.
Existe uma frase que diz que quando adoramos ou nos incomodamos muito com algo em uma pessoa, é porque tais atributos podem dizer respeito a nós mesmos. Embora eu concorde em partes com essa afirmação, para as artes ela pode ser útil. Quando ouço alguém me falar que não gostou de uma obra, busco instigá-la a explorar, a partir de suas próprias sensações e experiências de vida, o que a fez não gostar daquele trabalho. Aos poucos, de acordo com as perguntas e respostas que são feitas, passamos a descobrir mais sobre nós mesmos. Dessa forma, a arte se mostra como uma janela para a individualidade humana, nos permitindo mergulhar em mundos desconhecidos e visões alternativas, dentro de nós e dos outros.
![Obra da artista Meret Oppenheim — Foto: Reprodução/MoMA](https://cdn.statically.io/img/s2-casavogue.glbimg.com/MZKy3AL4FBdpu6VdVDkmCOgAL6o=/0x0:2000x1339/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_d72fd4bf0af74c0c89d27a5a226dbbf8/internal_photos/bs/2023/E/R/wSM4iiR2ufFu3M850tJQ/oppenheim-fur-cup.jpg)
Portanto, a rejeição de uma obra de arte não implica na rejeição da própria arte, mas na nossa capacidade de discernir, apreciar e questionar concepções de mundo. A arte nem sempre é feita para confortar. Pelo contrário. Grande parte das obras mais impactantes que eu já vi foram feitas para confrontar, incomodar, nos fazer refletir, para que a partir dela possamos trazer mudança para nosso pensar e agir.
Compreender o contexto que existe por trás de um trabalho é o que pode fazê-lo mais interessante. Conhecer a história do artista, suas vivências e desafios enfrentados, nos leva a ter uma perspectiva mais ampla, resultando em uma apreciação mais profunda da obra, ainda que visualmente ela não seja atraente.
O valor da arte vai além de seu simples apelo estético. Ela nos convida a uma jornada emocional e intelectual, desenvolvendo nosso pensamento crítico e nossa capacidade de nos autoconhecer. Portanto, não se sinta constrangido por sua opinião sobre uma obra. Em vez disso, abrace a oportunidade de explorar suas próprias reações e descobertas. Ria, chore, se emocione, sinta a arte! Em um mundo repleto de diversidade, a multiplicidade de perspectivas é o que faz da arte algo verdadeiramente transformador.