Arte em prosa

Por Luiza Adas

Colunista da Casa Vogue, Luiza Adas é especialista em arte, pós-graduanda em Teoria e Crítica em História da Arte e fundadora do Museu do Agora


Para mim, a arte foi e continua sendo uma expressão daquilo que a sociedade vive e debate. Se as questões raciais, sociais e de gênero são assuntos urgentes para nós atualmente, milhares de artistas se dedicam também a produzir trabalhos - nos mais diversos formatos e linguagens - que abordem à tona essas questões.

Frequentemente me perguntam: "qual será a próxima grande pauta a ser abordada e valorizada pelo universo das artes visuais?" e hoje respondo que, ao meu ver, a sustentabilidade será um dos principais focos para a área nos próximos anos. Ainda que já tenham existido artistas que, ao longo dos últimos anos, abordaram essa questão, penso que, cada vez mais, esse será um daqueles temas considerados essenciais a serem tratados pelas feiras, exposições, museus e eventos de arte.

Hoje, trago 5 artistas que pesquisam a sustentabilidade de forma genuína e impactante.

1. Claudia Andujar

Fotografia da suiça Claudia Andujar — Foto: Claudia Andujar
Fotografia da suiça Claudia Andujar — Foto: Claudia Andujar

Claudia Andujar é uma fotógrafa suíça, naturalizada brasileira, que desde a década de 1970 se dedica a pesquisar a cultura Yanomami. Seu trabalho escancara a urgência de debatermos a questão da sustentabilidade para além do meio ambiente. E é nesse sentido que o trabalho de Andujar é tão potente: em suas fotografias, ela mostra a relação de simbiose que determinados grupos têm com o meio, evidenciando que destruir nossas florestas é também destruir parte de uma nação.

2. Abel Rodrigues

Pintura do artitsta Abel Rodriguez — Foto: Abel Rodrigues
Pintura do artitsta Abel Rodriguez — Foto: Abel Rodrigues

De etnia Nonuya, Abel Rodríguez nasceu na Amazônia colombiana. Desde a infância, ele foi treinado para ser um “nomeador de plantas”, ou seja, o responsável por entender o que constituía a flora e a fauna de onde vivia, a fim de passar adiante tais conhecimentos. Na década de 1990, com o conflito armado colombiano, Rodríguez e sua família foram expulsos do local onde viviam e, no início dos anos 2000, mudaram-se para Bogotá.

Lá, sem nunca ter tido uma educação acadêmica formal, passou a desenhar a floresta, como uma forma de preservar e transmitir seus conhecimentos. Além de suas obras nos fazerem repensar o que é ou não “conhecimento formal” - uma vez que seu conhecimento sobre a botânica é maior do que a de qualquer um de nós-, seu olhar nos leva a refletir sobre as mudanças no meio ambiente.

3. Ernesto Neto

Instalação do artista Ernesto Neto — Foto: Reprodução/Art Basel/Jens
Instalação do artista Ernesto Neto — Foto: Reprodução/Art Basel/Jens

Reconhecido por criar instalações imersivas que exploram as relações entre o corpo humano e a natureza, em suas obras Ernesto Neto frequentemente utiliza materiais orgânicos e sustentáveis, como algodão e especiarias, que promovem conexão sensorial e espiritual entre as pessoas e o ambiente natural.

4. Zina Saro-Wiwa

Exposição da artista nigeriana-britânica Zina Saro-Wiwa — Foto: Levi Fanan/Fundação Bienal de São Paulo
Exposição da artista nigeriana-britânica Zina Saro-Wiwa — Foto: Levi Fanan/Fundação Bienal de São Paulo

Zina Saro-Wiwa é uma artista nigeriana-britânica que se apropria do audiovisual para explorar a relação entre as comunidades locais e o meio ambiente em regiões afetadas pela indústria extrativista e pela degradação ambiental. Em seu trabalho, a artista lança luz sobre como a falta de interesse das grandes potências globais permitiu com que grandes crimes ambientais acontecessem, em destaque no continente africano, sem que houvesse um debate mundial sobre isso.

5. Ximena Garrido-Lecca

Instalação de Ximena Garrido-Lecca — Foto: Levi Fanan/Fundação Bienal de São Paulo
Instalação de Ximena Garrido-Lecca — Foto: Levi Fanan/Fundação Bienal de São Paulo

Ximena Garrido-Lecca é uma artista peruana que aborda temas ambientais em suas instalações e esculturas. Seu trabalho explora a interação entre o ser humano e o meio ambiente, utilizando materiais orgânicos e elementos naturais para criar reflexões sobre a destruição dos ecossistemas, trazendo à tona a necessidade de pensarmos em sustentabilidade.

A arte desempenha um papel crucial na conscientização de diferentes assuntos, e no caso da causa ambiental não deverá ser diferente. Assim como dito anteriormente, ainda que ao longo das últimas décadas diversos artistas tenham abordado essa questão, atualmente essa pauta se torna ainda mais necessária.

A ascensão no número de pessoas interessadas em pesquisar sustentabilidade, nos leva a entender a urgência em olharmos para esse assunto. É claro que, sozinha, a arte não é capaz de mudar a realidade ambiental mundial, mas o que ela pode - e deve - fazer é servir de instrumento para reflexão, que desperte nossas emoções e incite na sociedade a vontade de levar a sustentabilidade para a esfera do debate público. Devemos estar aqui, firmes e fortes, apoiando não apenas nossa arte como nosso planeta.

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