Antoni Gaudí é sempre atual (e sua arquitetura modernista também), mesmo 98 anos após a sua morte, cujo aniversário acontece neste mês de junho. Depois de dias de muita preparação e sigilo, a sala Hipostila do Parque Güell em Barcelona – projetada por Gaudí e inaugurada em 1926 – foi o local escolhido por Nicolas Ghesquière para mostrar ao mundo a nova coleção da Louis Vuitton.
Cerca de 600 convidados de todo o mundo compareceram ao evento, num espaço de beleza impossível, com colunas monumentais e formas inspiradas na natureza. Neste local, Gaudí exibiu todo a sua geniosidade arquitetônica e pôs em prática muitas das soluções estruturais inovadoras do seu estilo organicista. Um local muito especial que é Patrimônio Mundial da UNESCO desde 1984.
Um gênio... que tirou notas ruins
“Demos o título a um louco ou a um gênio, o tempo dirá”, retrucou Elies Rogent, diretor da Escola de Arquitetura de Barcelona, durante a formatura de Antoni Plàcid Guillem Gaudí i Cornet (25 de junho de 1852) em 1878. O catalão terminou com um registo regular, incluindo alguns insucessos, mas com uma vasta experiência.
Ele pagou seus estudos trabalhando como desenhista para alguns dos mais prestigiados arquitetos e construtores da época: Joan Martorell, Emilio Sala Cortés ou Josep Fontserè.
Com eles fez seus primeiros desenhos, grades ou postes de iluminação, altamente influenciados pelo artesanato. Não é em vão que Gaudí cresceu ouvindo as marteladas certeiras de seu pai, um funileiro de Riudoms, muito próximo de Reus.
Sua estreia solo à frente de um grande projeto foi na Cooperativa Obrera Mataronense (1882), fábrica para a qual chegou a criar um emblema. Foi assim que conheceu a costureira Pepeta Moreu, por quem se apaixonaria perdidamente. Ela o rejeitou e Gaudí refugiou-se no trabalho e numa profunda religiosidade que ficaria evidente na simbologia de toda a sua obra, por vezes interpretada como maçônica.
Uma vida ascética dedicada ao seu ofício
A sua saúde delicada obrigou-o a adotar uma dieta vegetariana e a passar longos períodos na natureza, outro dos seus mantras. A sua vida ascética contrasta com uma imaginação exuberante que se expressou através de toques orientalistas e neogóticos até chegar a um estilo próprio que transcende o próprio modernismo catalão.
São seus El Capricho (1885) em Comillas; Casa Botines (1894) em Leão; e o Palácio Episcopal de Astorga (1915). A maior parte dos seus edifícios estão concentrados em Barcelona: a Casa Vicens (1888), o Colégio das Teresianas (1889), as casas Calvet (1900), Batlló (1906) e Milà (1910), a Torre Bellesguard (1909) e, claro, a Sagrada Família, onde se estabeleceria pouco antes de morrer (o templo, ainda inacabado, pretende ser inaugurado em 2026, coincidindo com o centenário da sua morte).
Para todas as obras, ele pensou em cada detalhe, desde as maçanetas das portas, passando pelos pisos, até os móveis obcecados pela ergonomia. Foi justamente uma vitrine exposta na Feira Mundial de Paris que chamou a atenção do empresário Eusebio Güell, que se tornaria seu maior mecenas.
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Para ele, concebeu alguns pavilhões (1887), um palácio (1890), algumas adegas em Sitges (1897) e o já referido Parque Güell. Em 10 de junho de 1926, quando Gaudí ia rezar na igreja de San Felipe Neri, em Barcelona, foi atropelado por um bonde da Gran Vía das Cortes Catalanas. O tempo mostrou que as palavras de Rogent eram proféticas: Gaudí era um gênio.
*Matéria publicada originalmente na Architectural Digest Espanha