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Por Jonathan Pereira (@jonathanpereira_82)


A arquiteta Lina Bo Bardi foi tema de pergunta do Enem este ano — Foto: Thomas Scheier/Divulgação
A arquiteta Lina Bo Bardi foi tema de pergunta do Enem este ano — Foto: Thomas Scheier/Divulgação

Lina Bo Bardi (1914-1992) foi tema de uma das questões do Enem 2023 (Exame Nacional do Ensino Médio), no último domingo (5). A pergunta questionava os estudantes sobre o "apagamento" da arquiteta na inauguração do Museu de Arte de São Paulo, o MASP, nos anos 1940, com os louros direcionados ao marido dela, Pietro Maria Bardi. Mas o que de fato aconteceu no período?

Para entender melhor o contexto histórico e o episódio na trajetória de Lina Bo Bardi, Casa Vogue conversou com o pesquisador e curador Zeuler Lima, que escreveu a biografia "Lina Bo Bardi: O que eu queria era ter história", lançada em 2021 – mesmo ano em que ela foi homenageada com o Leão de Ouro póstumo da Bienal de Veneza.

A questão

A questão sobre Lina Bo Bardi que caiu na prova do Enem 2023 — Foto: Reprodução
A questão sobre Lina Bo Bardi que caiu na prova do Enem 2023 — Foto: Reprodução

A pergunta do Enem sobre Lina Bo Bardi tinha o seguinte enunciado: "Nas reportagens publicadas sobre a inauguração do Museu de Arte de São Paulo, em 1947, quando ele ainda ocupava um edifício na rua Sete de Abril, Lina Bo Bardi não foi mencionada nenhuma vez. A arquiteta era responsável pelo projeto do museu que mudaria para sempre a posição de São Paulo no circuito mundial das artes. Mas não houve nenhum registro disso. O louvor se concentrou em seu marido e parceiro profissional, o respeitado crítico de arte Pietro Maria Bardi. Passados 75 anos, a mulher então ignorada recebeu um Leão de Ouro póstumo, a maior homenagem da Bienal de Arquitetura de Veneza, e tem agora sua história contada em duas biografias de peso, que procuram destrinchar uma carreira marcada pela ousadia e pela contradição".

Em seguida, os estudantes precisaram responder se "as transformações pelas quais passaram as sociedades ocidentais e que possibilitaram o reconhecimento recente do trabalho da arquiteta mencionada no texto foram resultado das mobilizações sociais pela a) equidade de gênero; b) liberdade de expressão; c) admissibilidade de voto; d) igualdade de oportunidade; e) reciprocidade de tratamento". O gabarito oficial só será divulgado no dia 24 de novembro.

Contexto histórico

MASP na Rua Sete de Abril, com projeto de Lina Bo Bardi — Foto: Divulgação
MASP na Rua Sete de Abril, com projeto de Lina Bo Bardi — Foto: Divulgação

O autor da biografia aponta que a formulação da questão mistura dois momentos da carreira da arquiteta. "O primeiro MASP não tinha visibilidade urbana, ocupava um andar no edifício dos Diários Associados no centro de São Paulo, na rua 7 de Abril, ganhando um segundo andar projetado por Lina e inaugurado no ano seguinte. Aquela era uma Lina Bo Bardi de 32 anos, recém-chegada ao Brasil, que nunca tinha trabalhado como arquiteta. Não tinha uma carreira por trás, ela veio a desenvolver depois", explica, sobre a ausência do nome dela em reportagens da época, como cita o enunciado.

O edifício do MASP na Avenida Paulista, projetado por Lina, foi inaugurado apenas em 1968. "Essa Lina Bo Bardi já é uma mulher madura, que tinha 50 e poucos anos. A questão é bem intencionada, mas está mal contextualizada, mal formulada. Existe um equívoco em se ilustrar uma pergunta de um MASP com a fotografia de outro. O MASP da 7 de Abril é uma história, o da Avenida Paulista é outra. Colocar aquela foto do MASP (atual, na prova) dá a impressão de que a Lina Bo Bardi de que você está falando, de 1947, é uma mulher com uma projeção profissional que ela ainda não tinha. É muito tendenciosa a um equívoco", avalia Lima.

MASP na Avenida Paulista, projetado por Lina Bo Bardi e inaugurado em 1968 — Foto: Getty Images
MASP na Avenida Paulista, projetado por Lina Bo Bardi e inaugurado em 1968 — Foto: Getty Images

Ele exemplifica como a foto e o momento histórico a que a pergunta se refere devem estar conectados. "É como falar o que aconteceu no Rio de Janeiro na década de 1930 durante [o governo] Getúlio Vargas e colocar uma fotografia de Brasília [que só passou a existir em 1960], ou falar de uma obra do [Oscar] Niemeyer nos anos 1930 e mostrar a Catedral de Brasília. Não faz sentido".

Preconceitos

Zeuler ficou 20 anos debruçado sobre a vida da arquiteta para escrever o livro. "Ela entrou num ambiente profissional muito machista, mas também muito xenófobo (Lina nasceu em Roma, mas naturalizou-se brasileira). Lina foi acolhida no meio profissional de São Paulo, não tem nenhum registro de ela ter sofrido preconceito. Na transcrição de sua última aparição pública, em uma palestra na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP), em 1989, ela disse: 'nunca tive nenhum problema no Brasil, sempre fiz o que eu quis'".

A arquiteta tinha uma visão "muito particular" das questões de gênero, detalha o autor da biografia. "Ela achava que as mulheres deveriam ocupar um lugar social de mulher sem ter que negociar decisões profissionais. Para ela, a mulher era uma igual, que deveria ter acesso às mesmas coisas que os homens, mas com uma visão bem mais filosófica que política. Isso confunde muito a nossa visão contemporânea de gênero, de tentar encaixa-la com uma certa coerência nos dias de hoje".

Ele acredita que diversos fatores interferiram na perspectiva que se teve de Lina em vida. "Ser estrangeira e casada com um ex-fascista, ser uma pessoa muito intransigente e briguenta pesaram no ostracismo que ela sofreu. É um caráter mais composto desse preconceito, não apenas de gênero, como sofreram todas as mulheres da época. Era uma mulher que soube usar os acessos que teve para pensar no bem estar coletivo".

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