• 01/03/2019
  • Por Paula Jacob | Fotos Netflix/Divulgação
Atualizado em
6 motivos para assistir ‘Boneca Russa’, da Netflix (Foto: Netflix/Divulgação)

Se você gosta de teorias mirabolantes da física, que abordam tempo-espaço e realidades paralelas; ou então questões existenciais contemporâneas; ou até mesmo as abordagens da psicanálise para explicar o comportamento humano – Boneca Russa (Russian Doll, no título original) é a sua série. A produção original da Netflix esbanja naturalidade para tratar de todos os temas citados acima sem um pingo de pretensiosismo. Só isso já seria motivo de sobra para dar uma chance à série de oito episódios, não é mesmo? Mas além da despretensiosidade, ela nos faz lembrar de alguns clássicos do cinema, como Feitiço do Tempo e De Volta para o Futuro, de um jeito moderno e com uma protagonista feminina pra lá de interessante. Adoraria poder me estender mais, porém, qualquer grande análise profunda ou comentário esbaforido de uma fã declarada da série (que aqui escreve), pode estragar a sua experiência de descobertas, a doses homeopáticas, do mistério que ronda a série. Por isso, separei 6 excelentes motivos para você assistir Boneca Russa (sem spoilers):

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Equipe

6 motivos para assistir ‘Boneca Russa’, da Netflix (Foto: Netflix/Divulgação)

Cindy Holland, Amy Poehler, Natasha Lyonne e Leslye Headland (Foto: Netflix/Divulgação)

Nenhum filme ou série é bom à toa: existe uma equipe por trás de cada detalhe que faz a coisa acontecer. Boneca Russa só é tão completa, porque é 360 em todos os sentidos, mas, principalmente, pela perfeita união de todas as áreas envolvidas – nada deixa a desejar. Porém, para além da parte técnica, a série tem uma equipe majoritariamente feminina: são três diretoras (Leslye Headland, Jamie Babbit e Natasha Lyonne); sete roteiristas (Leslye Headland, Natasha Lyonne, Amy Poehler, Allison Silverman, Jocelyn Bioh, Flora Birnbaum e Cirocco Dunlap); cinco produtoras executivas (Lilly Burns, Leslye Headland, Natasha Lyonne, Amy Poehler, Allison Silverman); uma editora (Laura Weinberg); uma decoradora de set (Jessica Petrucelli); uma figurinista (Jennifer Rogien) e cinco maquiadoras (Amy L. Forsythe, Elvira Gonzales, Heidi Pakdel, Amanda Miller e Danielle Minnella). Isso reflete diretamente no tratamento das personagens femininas e no desenvolvimento das mesmas.

Roteiro

6 motivos para assistir ‘Boneca Russa’, da Netflix (Foto: Netflix/Divulgação)
6 motivos para assistir ‘Boneca Russa’, da Netflix (Foto: Netflix/Divulgação)

Nadia Vulvokov (Natasha Lyonne) é uma mulher que, ao completar 36 anos, se vê presa em um looping eterno (interno? externo? deixo aqui o questionamento para quando você assistir, prestar atenção) entre vida-morte que a leva de volta para a sua festa de aniversário. Logo no primeiro episódio ela morre acidentalmente diversas vezes até começar a entender (ou tentar) o que está acontecendo – movimento muito interessante para o espectador, que está lado a lado com a protagonista desvendando esse mistério psicológico-físico-fantástico. O que garante a despretensiosidade comentada anteriormente são os diálogos incríveis – acidez, ironia e comédia se misturam em falas brilhantes. As frustrações de Nadia em relação aos acontecimentos a levam conhecer Alan Zaveri (Charlie Barnett), que sofre com o mesmo problema. Os dois personagens sofrem com questões psicológicas distintas, que deixaram de lado ou tentaram recalcar de alguma forma em seus respectivos inconscientes e, agora, parecem não deixá-los em paz.

Natasha Lyonne

6 motivos para assistir ‘Boneca Russa’, da Netflix (Foto: Netflix/Divulgação)
6 motivos para assistir ‘Boneca Russa’, da Netflix (Foto: Netflix/Divulgação)

Com a voz rouca e os cachos ruivos, Natasha Lyonne é apaixonante. Não tem como não amar a sua personagem em Boneca Russa – muito pela sua atuação magnífica e tão despretensiosa quanto o roteiro. Quem assistiu Orange is the New Black vai reconhecer seu carisma irônico, mas visto de um outro prisma. Ela é descolada, despojada, programadora de vídeo games – algo que dá margem para algumas interpretações no desenrolar da série (sem spoilers) –, sensível, inteligente, forte; é também confusa, egoísta e imatura para algumas coisas. Ou seja, é uma personagem possível, uma mulher que é fácil de se identificar; nada parecido com tantas outras personagens femininas vazias de tantos estereótipos que as moldam. Por isso, talvez, a união da atriz Natasha com a protagonista Nadia seja tão perfeita.

Cenários

6 motivos para assistir ‘Boneca Russa’, da Netflix (Foto: Netflix/Divulgação)
6 motivos para assistir ‘Boneca Russa’, da Netflix (Foto: Netflix/Divulgação)
6 motivos para assistir ‘Boneca Russa’, da Netflix (Foto: Netflix/Divulgação)

Como estamos falando de um eterno looping, onde cada “vida” coleciona novos acontecimentos, os cenários se tornam uma parte importante da narrativa. Assim como os comportamentos e reações de Nadia ao espaço-tempo acrescentam camadas narrativas, as locações e ambientações também. Ela sempre “acorda” no mesmo banheiro todo preto do apartamento de sua amiga e artista plástica Maxine (Greta Lee), mas nada nunca é igual – algumas coisas, inclusive, somem, vale reparar. Ao escolher traçar uma nova direção, conversar com uma nova pessoa, Nadia nos leva à cenários diversos, que contribuem para a construção da solução da personagem e para a nossa compreensão de quem é essa Nadia. Além da casa de Maxine, onde acontece sua festa de 36 anos, também vemos bastante a casa de Ruth (Elizabeth Ashley), mulher que criou a protagonista e, depois do quinto episódio, o apartamento meticuloso do coadjuvante Alan. O design de produção apaixonante é assinado por Michael Bricker.

Personagens femininas

6 motivos para assistir ‘Boneca Russa’, da Netflix (Foto: Netflix/Divulgação)
6 motivos para assistir ‘Boneca Russa’, da Netflix (Foto: Netflix/Divulgação)
6 motivos para assistir ‘Boneca Russa’, da Netflix (Foto: Netflix/Divulgação)

Com uma equipe formada majoritariamente por mulheres, não seria difícil termos personagens femininas interessantes e complexas. Além da protagonista muito bem construída, vemos as amigas lésbicas de Nadia, sua “mãe postiça” Ruth, sua mãe biológica Lenora (Chlöe Sevigny) em flashbacks, e até as figurantes em situações maravilhosas que nos fazem pensar: GIRL POWER, em capslock mesmo. Longe de clichês, obviedades, superficialidades, essas mulheres preenchem a tela e a narrativa com muita presença de espírito e zero estereótipos.

Trilha sonora

6 motivos para assistir ‘Boneca Russa’, da Netflix (Foto: Netflix/Divulgação)

Temos uma festa de aniversário. Temos um looping de espaço-tempo/morte-vida. Toda vez que Nadia volta a viver, está tocando Gotta get up, de Harry Nilsson – que teve um aumento de busca astronômico no Spotify após a série ser lançada. Além da marca registrada sonora de Boneca Russa, Joe Wong nos dá pinceladas de músicas indie e eletrônicas nos oito episódios. Elas dão o tom das cenas mais tensas até as mais divertidas, sem interferir negativamente na narrativa – existem algumas escolhas musicais óbvias demais, que acabam deixando um filme ou série monótonos demais e, por consequência, interferindo no resultado final da percepção da produção.


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