• 15/03/2018
  • Por Paula Jacob | Fotos Divulgação
Atualizado em
A simplicidade serena na concepção visual de ‘Maria Madalena’ (Foto: Universal Pictures Brasil)

Talvez um dos filmes mais honestos deste ano, Maria Madalena (Universal Pictures) aponta para tantas questões contemporâneas que até assusta quando você pensa que o cenário é da época de Cristo. Dirigido por Garth Davis (Top of the Lake e Lion), o longa-metragem conta a história de Maria Madalena, reconhecida pelo Vaticano como apóstola de Jesus Cristo apenas em 2016, depois de séculos vista como uma prostituta.

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A simplicidade serena na concepção visual de ‘Maria Madalena’ (Foto: Universal Pictures Brasil)

Diferente, de fato, dos inúmeros filmes sobre a vida da figura religiosa, este foca na vida da protagonista, que, claro, se mescla com as passagens da Bíblia, afinal fazia parte dela. O ponto alto é a narrativa que revela o quanto a sociedade era misógina (não que tenha melhorado muito), enxergando as mulheres como não dignas das bençãos e participações religiosas. Quando Maria decide abandonar a família para seguir Jesus, ela é tida como uma vergonha na cidade natal. Sua confiança entre os apóstolos também é colocada à prova todos os dias, mas a relação entre ela e Jesus (Joaquim Phoenix) é pura e de total confiança.

A simplicidade serena na concepção visual de ‘Maria Madalena’ (Foto: jonathan olley)

Para remontar algo tão visto e já representado, Davis escolheu uma equipe visual deslumbrante e, certamente, complementar. O figurino usado no filme enaltece os tecidos naturais, como o linho, e a simplicidade dos acabamentos, tornando tudo despretensiosamente interessante. Quem assina os looks é Jacqueline Durran, figurinista especialista em filmes de época e indicada duas vezes na categoria na cerimônia do Oscar deste ano por Destino de uma Nação e A Bela e a Fera. Podemos perceber a evolução de Maria Madalena (a sempre excelente Rooney Mara) como personagem, também, pelas peças usadas por ela. No início, ela é vista com tons mais acinzentados, que representam as suas frustrações mentais com a sua função dentro da família. A partir do momento que ela decide o caminho qual tomar, as vestimentas se tornam gradativamente mais claras.

A simplicidade serena na concepção visual de ‘Maria Madalena’ (Foto: Universal Pictures Brasil)
A simplicidade serena na concepção visual de ‘Maria Madalena’ (Foto: jonathan olley)

A paleta de cores é sucinta e restrita aos elementos disponíveis da época. O que reflete na produção de design de Fiona Crombie (Una e Macbeth) e na direção de arte de Cristina Onori (Todo o Dinheiro do Mundo). Os cenários são convincentes e pontuais, sendo a natureza a maior fonte de inspiração para a construção das cenas. A água do mar e as cores do trigo se misturam com as vestimentas dos personagens em takes abertos que nos fazem contemplar a beleza da própria existência. Por fim, a costura muito bem feita entre as equipes de arte ganha ainda mais destaque com o trabalho delicado de Greig Fraser. O diretor de fotografia conseguiu captar a essência da história proposta por Garth Davis fazendo o espectador se emocionar nas mais singelas cenas. Daqueles para guardar na memória.