Frustrantes reuni�es globais de clima est�o longe da vida real, diz cientista
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Estudo alerta para impacto das mudan�as clim�ticas nas grandes cidades |
Um relat�rio que ser� apresentado por pesquisadores da UFRJ durante a COP22 (Confer�ncia do Clima da ONU), que come�a nesta segunda-feira (7) no Marrocos, alerta prefeitos para impactos dram�ticos do aquecimento em cidades brasileiras.
Segundo os pesquisadores do Painel Brasileiro de Mudan�as Clim�ticas (PBMC), os munic�pios que n�o mudarem a forma com que lidam com �gua, transportes e gest�o de lixo e res�duos enfrentar�o problemas como desabastecimento e energia, hospitais superlotados, inunda��es e desmoronamentos, com impactos mais fortes nas regi�es mais pobres.
� BBC Brasil, a engenheira Suzana Kahn, uma das autoras do estudo, diz que nota um abismo entre as discuss�es globais sobre clima, feitas hoje em cerimoniosas reuni�es entre diplomatas, parlamentares e chefes de Estado, e a "vida real" das cidades.
"H� uma frustra��o. � tudo muito lento e isso gera um pouco de des�nimo para quem acompanha. Se cria uma expectativa de solu��o e n�o � f�cil mesmo. Coisas importantes acontecem, mas elas s�o pouco percept�veis de longe", diz Kahn.
Por isso, ela explica, o estudo brasileiro analisou centenas de documentos e se concentra nas cidades e responsabilidades de prefeitos para consequ�ncias j� percept�veis do aquecimento global.
"Os centros urbanos s�o respons�veis pelo consumo de 70% da energia dispon�vel e por 40% das emiss�es de GEE", afirma o relat�rio.
"As prefeituras precisam n�o apenas de invent�rios e propostas. Ainda estamos muito distantes da a��o e isso tem que mudar", completa Kahn.
No Nordeste, por exemplo, a vaz�o menor de rios como o S�o Francisco e a migra��o acelerada para zonas urbanas contribuem para apag�es que, por sua vez, trazem aumento de pre�os e falta d'�gua.
No Sul e Sudeste, o aumento do calor e das chuvas provoca enchentes e epidemias, como a explos�o do v�rus da zika e de doen�as respirat�rias.
"Os poderes municipais, locais, precisam estar em sintonia com os pa�ses. N�o tem sentido o Brasil tra�ar um plano de a��o sem ter em conjunto os planos de cada munic�pio, que � onde est�o as pessoas expostas aos riscos", diz a cientista.
DESAFIOS DA COP22
A �ltima grande decis�o mundial sobre clima foi tomada no ano passado, quando 195 pa�ses e a Uni�o Europeia ratificaram o Acordo de Paris, se comprometendo a manter o aumento da temperatura m�dia do planeta "muito abaixo de dois graus" em rela��o aos n�veis anteriores � industrializa��o.
Hoje, segundo o Observat�rio do Clima, corremos o risco de chegar a 2030 com o aumento "numa trajet�ria de 3�C, algo incompat�vel com a civiliza��o como a conhecemos".
"Est� todo mundo contente, foi ratificado o Acordo de Paris e isso eleva o �nimo da tropa", afirma a pesquisadora da UFRJ. "Mas p�r isso em funcionamento � outra hist�ria.
A principal miss�o da COP22 ser� definir uma data-limite para que se decidam as regras de aplica��o do acordo. Um dos principais desafios � a obten��o de um consenso sobre como os compromissos firmados por um pa�s poder�o ser fiscalizados pelos demais.
"Como regular, como reportar as redu��es, como fazer a contabilidade financeira do fundo. Essa COP22 � a primeira a discutir essas regras. Ela n�o vai trazer nenhum resultado, n�o vai ter 'not�cia' nenhuma. S�o movimentos incrementais, discuss�es sucessivas que v�o construindo o processo."
Da�, diz Suzana Kahn, a import�ncia de compartilhar responsabilidades com prefeituras, que est�o na ponta deste processo.
Entre as sugest�es pr�ticas para prefeitos est�o mudan�as urbanas que permitam a redu��o de viagens motorizadas e o deslocamento de mercadorias (levar empregos do centro para os bairros onde as pessoas vivem, por exemplo), incentivo ao uso de bicicleta e uso de biocombust�veis.
O relat�rio tamb�m destaca mudan�as que podem ser estimuladas dentro de casa.
"Desligar equipamentos quando n�o houver uso, manter fechados os ambientes com temperatura condicionada e dimensionar adequadamente velocidade de ventiladores e temperatura de condicionadores de ar; desligar aparelhos em stand-by, usar "tomadas inteligentes", que possuem interruptores pr�prios pode facilitar essa a��o, substituir l�mpadas fluorescentes por LED; construir e reformar casas, considerando uma participa��o maior de ilumina��o natural", entre outros.
"� preciso se aproximar do cidad�o, da popula��o. Quando se fala de metas, � dif�cil o engajamento da sociedade, at� para cobrar."
CRISE
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A COP22 que come�a no Marrocos, discute regras para o cumprimento do Acordo de Paris |
A estimativa das Na��es Unidas � de que 91% da popula��o brasileira viva em regi�es urbanas nos pr�ximos tr�s anos –no �ltimo Censo, de 2010, o �ndice era de 84%.
O problema � que, hoje, segundo o relat�rio dos pesquisadores da UFRJ, mais da metade dos munic�pios j� precisa de novas fontes de �gua.
Enquanto isso, at� 2030, segundo os pesquisadores, "estima-se um aumento de 9% no consumo de eletricidade no setor residencial e de 19% no setor de servi�os".
Os impactos das mudan�as clim�ticas na sa�de s�o os mais alarmantes. "O aumento de inunda��es e secas causar� efeito devastador sobre a sa�de, especialmente nas pessoas que vivem em comunidades mais sens�veis", diz o estudo.
"Com esse cen�rio, doen�as como mal�ria e dengue, mais incidentes nos pa�ses de clima tropical, s�o alguns dos problemas de sa�de p�blica decorrentes do aquecimento global. As intensas ondas de calor tamb�m podem ter impacto nas doen�as cr�nicas, como problemas cardiovasculares", prossegue o texto.
A ironia � que a crise econ�mica tem ajudado a desacelerar os impactos destas transforma��es.
"� por conta dela (da crise) que provavelmente vamos atingir nossas metas com mais facilidade. Crise reduz consumo, reduz energia... isso diminui a press�o sobre o uso dos nossos recursos naturais."
BRASIL
Ao ratificar o acordo de Paris, o Brasil se compromete a cortar emiss�es de gases em 37% at� 2025 e se prop�e a aumentar a redu��o para 43% em 2030, tudo em compara��o com n�veis de 2005.
O pa�s tamb�m se comprometeu a reconstruir 12 milh�es de hectares de florestas e levar o desmatamento da Amaz�nia Legal (como o governo denominou uma �rea que abriga todo o bioma Amaz�nia brasileiro e partes do Cerrado e do Pantanal e engloba os Estados do Acre, Amap�, Amazonas, Mato Grosso, Par�, Rond�nia, Roraima e Tocantins e parte do Maranh�o) a zero at� 2030.
Mas como investir em tudo isso em meio � maior crise financeira e pol�tica dos �ltimos tempos?
A pesquisadora explica que a maior parte das transforma��es n�o exige investimentos gigantes, como a constru��o de novas usinas ou redes de metr�.
"H� uma s�rie de lobbies no Brasil, uma forma muito tradicional de fazer pol�tica sem pensar no interesse coletivo. E sempre se olha para um horizonte de muito curto prazo. Estas s�o coisas que ultrapassam quatro anos de mandato", diz.
"Se voc� pegar o or�amento inteiro de uma cidade, ver� a quantidade de dinheiro que vai para manuten��o da m�quina do Estado. O Estado gasta muito e gasta mal com ele mesmo. Investir em gest�o de recursos naturais e res�duos n�o vai impactar tanto nos recursos municipais."
"A quest�o � muito mais pol�tica que financeira", conclui.
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