• Redação Galileu
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Imagem de células epiteliais humanas (verde) incubadas com partículas sintéticas do vírus Sars-CoV-2 (magenta) (Foto: Oskar Staufer/MPI for Medical Research, Germany)

Imagem de células epiteliais humanas (verde) incubadas com partículas sintéticas do vírus Sars-CoV-2 (magenta) (Foto: Oskar Staufer/MPI for Medical Research, Germany)

Em dois estudos publicados na revista Nature Communications, pesquisadores apontam que pessoas com Covid-19 podem ter diferentes variantes do Sars-CoV-2 escondidas em várias partes do corpo. Algumas cepas podem, por exemplo, usar células dos rins e baço para se esconderem, conforme o organismo se ocupa na defesa de uma cepa dominante.






Desse modo, o coronavírus ganha espaço para evoluir em diversas células, adaptando sua
"imunidade" dentro do hospedeiro. De acordo com os pesquisadores, isso pode dificultar a eliminação completa do vírus nos pacientes infectados — seja por meio de anticorpos naturais, seja por tratamentos que usam anticorpos.

Para chegarem até essas conclusões, os autores da pesquisa investigaram a função de um “bolso” feito sob medida na proteína spike, usada pelo vírus para penetrar nas células humanas. Segundo a mesma equipe demostrou em estudo anterior, o ���bolso” tem um papel essencial na infecciosidade do Sars-CoV-2.

Desta vez, os experts analisaram uma variante inicial descoberta em Bristol, na Inglaterra, a BrisDelta, que afeta uma pequena subpopulação, mas infecta melhor certos tipos de célula que a cepa original, descoberta em Wuhan, na China. Segundo os cientistas, isso ocorre pois uma única pessoa pode ter várias variantes diferentes em seu corpo. 

A forma do vírus pode mudar de uma cepa para outra, mas o "bolso" da proteína spike permanece inalterado. Para compreenderem a função dessa estrutura molecular, os estudiosos construíram partículas virais sintéticas em um tubo de ensaio, parecidas com o coronavírus, porém sem capacidade de multiplicação por questões de segurança.

Com isso, eles observaram que o "bolso" auxilia a proteína spike a fazer uma ligação com um ácido graxo. Essa interação muda a forma das partículas virais, escondendo-as do sistema imunológico. Assim, a defesa imune é evitada por um longo período, aumentando a eficiência da infecção pelo coronavírus. 

"Parece que esse bolso, construído especificamente para reconhecer esses ácidos graxos, dá ao Sars-CoV-2 uma vantagem dentro do corpo de pessoas infectadas, permitindo que ele se multiplique tão rápido”, explica Imre Berger, professor da Universidade de Bristol, na Inglaterra, e um dos líderes do estudo, em comunicado.

É possivelmente por isso inclusive que a estrutura está em todas as variantes, incluindo a Ômicron, segundo Berger. Mas justamente por isso pode ajudar no desenvolvimento de tratamentos mais eficazes contra a Covid-19. Os pesquisadores de Bristol fundaram em 2021 a empresa Halo Therapeutics, que busca desenvolver um antiviral com essa exata função. A companhia ainda está se preparando para testes clínicos.