• Redação Galileu
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Cientistas analisaram o genomas de centenas de espécies de protistas (Foto: A. Stepanauskas and coauthors)

Cientistas analisaram o genomas de centenas de espécies de protistas (Foto: A. Stepanauskas and coauthors)

Pela primeira vez, cientistas encontraram evidências de que dois grupos de seres vivos se alimentam de vírus, segundo um artigo publicado na quinta-feira (24) no Frontiers in Microbiology. Os organismos são protistas marinhos dos filos choanozoários e picozoários e, ao que tudo indica, "devoram" os microrganismos por meio de fagocitose.

"Nossos dados mostram que muitas células protistas contêm DNA de uma ampla variedade de vírus não infecciosos, mas não de bactérias, forte evidência de que eles se alimentam de vírus em vez de bactérias", afirmou Ramunas Stepanauskas, coautor do estudo, em declaração. "Isso foi uma grande surpresa, já que essas descobertas vão contra as visões atualmente predominantes sobre o papel dos vírus e protistas nas cadeias alimentares marinhas."

Os pesquisadores coletaram amostras de água marinha superficial no Golfo do Maine, Estados Unidos, em julho de 2009, e no Mediterrâneo ao largo da Catalunha, Espanha, em janeiro e julho de 2016. Então, eles sequenciaram o DNA de 1.698 protistas presentes nas amostras na água. Cada um dos Genomas Amplificados Simples (SAGs, na sigla em inglês) resultantes consiste no genoma de um único protista, com ou sem DNA associado, isto é, de simbiontes, "presas" ingeridas ou vírus e bactérias em seu exterior.

Dezenove por cento dos SAGs do Golfo do Maine e 48% dos do Mediterrâneo foram associados ao DNA bacteriano, sugerindo que esses protistas haviam ingerido bactérias. Mais comuns foram as sequências virais, encontradas em 51% dos SAGs do Golfo do Maine e 35% daqueles do Mediterrâneo. A maioria deles, entretanto, era de vírus conhecidos por atingir bactérias, indicando que provavelmente elas estavam infectadas quando foram ingeridas pelos protistas.

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Primeiros organismos que se alimentam de vírus podem ter sido encontrados. Acima: coleta de amostra no Golfo do Maine, EUA (Foto: A. Stepanauskas and coauthors)

Mas os choanozoários e picozoários, que ocorreram apenas na amostra do Golfo do Maine, eram diferentes. De acordo com os especialistas, cada um dos SAGs desses organismos foi associado a sequências virais sem qualquer DNA bacteriano, indicando que os os próprios vírus serviram de alimento. 

"Os vírus são ricos em fósforo e nitrogênio e podem ser um bom suplemento para uma dieta rica em carbono, que pode incluir presas celulares ou colóides marinhos ricos em carbono", disse Julia Brown, coautora do estudo. "A remoção de vírus da água pode reduzir o número de vírus disponíveis para infectar outros organismos e, ao mesmo tempo, transportar o carbono orgânico dentro das partículas virais para cima na cadeia alimentar. Pesquisas futuras podem avaliar se protistas que consomem vírus acumulam sequências de DNA de suas presas virais dentro de seus próprios genomas, ou considerar como eles podem se proteger da infecção."