• Redação Galileu
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Treponema pallidum, a bactéria causadora da sífilis (Foto: Domínio público)

Bactéria que causa sífilis já circulava no Sudeste Asiático há 4 mil anos. Acima: Treponema pallidum, a bactéria causadora da bouba (Foto: Wikimedia Commons)

Uma nova pesquisa de bioarqueologia conduzida pela Universidade de Otago, na Nova Zelândia, sugere que a bouba já se espalhava pela Ásia há 4 mil anos. A descoberta foi compartilhada em maio no periódico Bioarchaeology International.

A bouba é uma infecção de pele causada pela Treponema pallidum, bactéria que também causa a sífilis. A doença causa lesões cutâneas altamente infecciosas e é transmitida por contato. Embora seja facilmente curável em seus estágios iniciais, em casos avançados pode causar deformações ósseas irreversíveis.

O estudo foi liderado pela pesquisadora Melandri Vlok, cujo foco é lançar luz sobre a propagação de doenças quando diferentes populações humanas interagem pela primeira vez. Seu interesse específico está no que ela chama de "zona de atrito", onde os antigos agricultores se encontravam com os caçadores-coletores.

Vlok e sua equipe analisaram esqueletos encontrados entre 2005 e 2007 no sítio arqueológico de Man Bac, norte do Vietnã, em busca de evidências que sugerissem a existência de bouba naquela área há 4 mil anos atrás — e funcionou. Após uma série de análises, os cientistas encontraram indícios claros de que a doença já afetava a Ásia durante a pré-história, algo nunca observado até então.

Segundo os pesquisadores, os achados sugerem que a bouba foi introduzida em caçadores-coletores no Vietnã atual por uma população agrícola que se mudou para o sul da China moderna. Essas pessoas, por sua vez, descendiam dos primeiros povos da África e da Ásia, que também habitaram a Papua-Nova Guiné, as Ilhas Salomão e a Austrália.

Embora os fazendeiros chineses tenham chegado na região há pelo menos 9 mil anos, foi só 4 mil anos atrás que a agricultura foi introduzida no Sudeste Asiático. Isso sugere, portanto, que a movimentação de pessoas nesse período ajudou na disseminação de doenças, inclusive a bouba.

"Saber isso é importante porque saber mais sobre essa doença e sua evolução muda a forma como a gente entende a relação que as pessoas têm com ela e nos ajuda a entender por que é tão difícil erradicá-la", disse Vlok, em declaração. "Se [a infecção] está conosco há milhares de anos, provavelmente se desenvolveu para se adaptar muito bem aos humanos."

A estudiosa ainda ressalta que sua análise indica a importância de darmos atenção para novas doenças infeciosas, como a Covid-19. "[O estudo nos] mostra o que acontece quando não agimos contra essas doenças. É uma lição sobre o que as doenças infecciosas podem fazer a uma população se você permitir que se espalhem amplamente", pontuou Vlok. "Destaca a necessidade de intervenção, porque às vezes essas doenças são muito boas em se adaptar a nós, em se espalhar entre nós."