• Vanessa Lima
Atualizado em
 (Foto: JGI/Jamie Grill/Getty Images)

A escritora Dawn e os filhos Vivian e Daniel (Foto: JGI/Jamie Grill/Getty Images)

Usar um banheiro público pode ser uma experiência nada tranquila dependendo das condições do ambiente. Fazer isso na companhia de uma criança pequena é um pouco mais complicado, mas também não impossível. Agora, experimente executar essa tarefa com uma criança pequena e também com um bebê de colo. A cena é apenas uma das muitas que são descritas com detalhes sarcásticos pela escritora norte-americana Dawn Dais, mãe de Vivian, 6 anos, e Daniel, 4, no seu recente livro:

The sh!t no one tells about baby #2 (As m*rdas que ninguém te conta sobre o bebê número 2, em tradução livre, ainda sem edição em português, US$ 16,49, na Amazon) (Foto: Divulgação)

The sh!t no one tells about baby #2 (As m*rdas que ninguém te conta sobre o bebê número 2, em tradução livre, ainda sem edição em português, US$ 16,49, na Amazon) (Foto: Divulgação)

Logo no primeiro capítulo, por exemplo, ela fala do medo mais comum de pais e mães quando descobrem a segunda gravidez: como dividir o amor e a atenção que sempre foi totalmente do primogênito? Então, para essa questão, ela prefere se referir da seguinte forma: “Você está prestes a abandonar seu primeiro filho – e esse assunto vai aparecer na terapia anos mais tarde”. É claro que a autora não quer dizer que você vai, literalmente, deixar seu mais velho de lado para cuidar do recém-nascido. Mas, com bom humor, ela aborda essa dificuldade de equilíbrio entre as demandas que aumentam substancialmente com a chegada de um novo bebê, passando pela importância de encontrar um espaço na agenda para estar com outras mães, seja para trocar informações ou desabafar apenas e até as mudanças no corpo e no relacionamento quando a família aumenta ainda mais.

Mas nem só de angústias vive a maternidade em dose dupla. “As pessoas dizem que seu coração cresce à medida que você tem mais filhos, mas não acho que o meu cresceu. Acho que ele sempre foi grande assim; estava simplesmente esperando para esses dois o preencherem”, diz Dawn, sobre a alegria e o amor que sente pelas crianças em meio a tantos percalços que surgem com elas. 

Em entrevista à CRESCER, a escritora, que vive em Sacramento, na Califórnia (EUA), com as duas crianças e sua companheira, Becky, conta um pouco mais sobre suas experiências – e dá dicas para quem está decidindo se acata ou não aquele comentário que, cedo ou tarde, todo mundo que tem apenas um filho escuta: “E aí? Não vai dar um irmãozinho para ele(a)?”.

Mesmo depois de passar por todas as dificuldades com o primeiro bebê, por que você acha que as pessoas decidem ter um segundo (terceiro, quarto...)?

No meu caso, eu fui filha única e sempre quis que minha filha tivesse um irmão. Era algo de que eu sentia falta e queria que meus filhos tivessem uma família maior do que a minha. Sempre brinquei dizendo que, se meus dois filhos não fossem amigos quando crescessem, eu ficaria extremamente irritada, porque ter mais de uma criança é difícil. Então, acho bom eles serem pelo menos amigos quando forem mais velhos.

Uma das cenas mais “assustadoras” descritas no livro é uma em que você fala sobre ir a um banheiro público com uma criança pequena e com um bebê. Como foi essa situação e o que diria aos pais?

Eu passei por isso incontáveis vezes. Quando você está no processo de desfralde de uma criança pequena, e ela precisa ir ao banheiro, não dá para hesitar – você voa para o banheiro público. É um desafio único usar o banheiro público e todos os seus aspectos nojentos, principalmente quando você tenta segurar um bebê e ajudar a outra criança a sentar e a sair do vaso. Não tenho um grande conselho sobre isso, a não ser tentar focar e não pensar muito no que está acontecendo. Tente manter as crianças limpas, da maneira que for possível, então, lave-as com lenços umedecidos da cabeça aos dedos dos pés imediatamente depois.

Você acredita que ter amigos em situações parecidas é essencial na maternidade?

Ter amigas que são mães não tem preço, especialmente nos primeiros anos. É um momento em que você duvida de você mesma e é ótimo ter outras mães em quem se inspirar, mas para ter camaradagem e compreensão. Às vezes, só de saber que outras pessoas também estão passando por momentos complicados é suficiente para aliviar parte do estresse. Além disso, a maternidade é muito isoladora, então, a amizade que você faz com quem está passando por uma estrada parecida pode ser uma ótima maneira de se sentir conectada ao mundo.

Seus filhos não têm uma diferença de idade tão grande. Você faria diferente se pudesse escolher agora?

Gosto do intervalo que escolhemos (de mais ou menos dois anos). Fizemos isso intencionalmente e eu queria que eles tivessem idades relativamente próximas para ter uma chance maior de ter um relacionamento forte. Além disso, eu sabia que, quanto mais longe eu fosse com a criança número 1, menos provável seria eu querer começar tudo de novo com um bebê. Então, para mim, foi necessário ter o segundo rapidamente. Não tive tempo de recuperar meus sentidos.

Você acha que bom humor, o que tem muito em seu livro, é fundamental para sobreviver com duas ou mais crianças?

Acho que o humor é o mais importante na maternidade/paternidade. As crianças proporcionam aos pais infinitas situações ridículas e constantemente os fazem se sentir oprimidos. Se você levar tudo muito a sério, vai ficar louco. Você vai falhar. Muito. Espetacularmente. Quanto mais rápido você encontrar seu senso de humor, melhor, porque é um caminho longo para trilhar sem algumas gargalhadas no percurso.

Em muitas famílias, um dos pais quer o segundo bebê e o outro, não. Como resolver essa situação?

Eu realmente acho importante que os casais estejam na mesma página sobre os filhos, seja para decidir ter o primeiro ou os seguintes. Honestamente, se um deles não quer mais filhos, eu aconselharia não tê-los. Crianças são difíceis. Quando há mais que uma, elas ficam exponencialmente mais difíceis. E os dois parceiros precisam estar a bordo para lidar com as demandas de duas crianças. Se um não está completamente comprometido, pode haver muitos problemas, principalmente nos primeiros anos.

Quando o segundo filho chega, os pais costumam relaxar um pouco mais porque sabem que as crianças têm fases, que vão passar. E acabam até curtindo mais as crianças. Você acha que é possível ter essa abordagem já com o primeiro filho?

Não tenho certeza se há um jeito de um pai ou mãe de primeira viagem relaxar. Eu gostaria de ter feito isso. Eu era rígida demais em tudo com o bebê número 1. Eu ficava apavorada e me sentia esmagada com a minha falta de experiência. Eu perdia tantos pequenos momentos com minha primeira filha porque eu ficava constantemente preocupada com o que estava por vir, quando viria e se eu estava fazendo tudo certo... Com o segundo, fiquei muito mais relaxada. Ainda era difícil, mas eu não era nem de longe tão estressada. Eu apenas seguia o fluxo, compreendia que os tempos difíceis iam passar, e tentava curtir o tempo com meu bebê. Não sei se isso é possível antes do bebê número 2, mas sempre tento dizer para os novos pais relaxarem e que vai ficar tudo bem.

 (Foto: JGI/Jamie Grill/Getty Images)

A escritora e os filhos (Foto: JGI/Jamie Grill/Getty Images)

Como você deu conta de cuidar das duas crianças, da carreira e ainda colocar toda a história em um livro?

Eu sobrevivo. Raramente sinto que estou fazendo tudo muito bem, mas espero que meus filhos se lembrem de que eu trabalhei duro e, mesmo assim, consegui tempo para estar com eles. Espero que se lembrem disso, mais do quão esfarrapada eu sempre estou.

Você teria um terceiro bebê? Está nos seus planos?

Não, não, não! Meu útero está aposentado.

A honestidade está muito presente no seu livro. Por que é tão importante contar como realmente é ter duas crianças na família?

É importante ser honesto porque nós todos estamos nos esforçando e pode ser muito solitário quando você só escuta sobre pais perfeitos criando crianças perfeitas. Tento oferecer um “ei, eu também!” para os pais, para que eles se sintam menos sozinhos e não se culpem por não serem tão bons quanto todas aquelas mães nas redes sociais.

Sua companheira é uma mulher. Você acha que isso, de alguma maneira, deixa seu trabalho como mãe mais fácil? Ou não faz diferença?

Sim, eu acho que torna tudo mais fácil. Minha parceira teve várias experiências com bebês antes de termos filhos, então, ela conseguiu me ensinar muito quando eu estava perdida, no começo. Ela também é naturalmente uma cuidadora, então, sempre está pronta para ajudar de todas as maneiras possíveis. Eu valorizo muito isso, mas sei que muitas mães não têm o mesmo apoio de seus parceiros.

“As crianças proporcionam aos pais infinitas situações ridículas. Se você levar tudo muito a sério, vai ficar louco e vai falhar.”

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