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Morte de presidente cria disputa incerta no Irã

Linha dura mira na sucessão do líder supremo da teocracia, sob risco de intensificar onda de protestos contra o governo

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Iranianos seguram cartazes com foto de Ebrahim Raisi, morto em acidente aéreo - Atta Kenare - 20.mai.24/AFP

A morte do presidente do Irã, Ebrahim Raisi, toma o mundo de surpresa em um momento crítico da história da República Islâmica fundada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini após a revolução de 1979.

Constitucionalmente, o país está pronto para tal contingência. O vice-presidente assumiu e, em 50 dias, uma nova eleição indicará o novo mandatário, que quase certamente virá da mesma linha dura religiosa que gerou Raisi.

A teocracia em si seguirá tendo como líder supremo Ali Khamenei, no cargo desde a morte de Khomeini em 1989. Assim, no papel, parece que o Irã está pronto para absorver o trágico evento. Mas isso é somente a aparência.

Raisi fora eleito em 2021 no pleito de menor comparecimento popular desde a criação do regime. Egresso de um meio ultraconservador, trazia no currículo mortes de dissidentes nos anos em que atuou no Judiciário local, que chegou a encabeçar.

Deixou sua marca ao tornar ainda mais draconianas as restrições à liberdade das mulheres no país. A morte de uma jovem presa por não envergar de forma considerada correta o véu islâmico em 2022 foi o estopim para uma série inaudita de protestos contra o governo, catalisando insatisfações que vão dos costumes à economia.

No campo externo, Raisi encarnou a radicalidade da Guarda Revolucionária, principal instituição do Irã. Da renovada busca pela bomba atômica às vias de fato no confronto que sempre perseguiu por procuração com Israel, o presidente elevou o perfil de risco do país.

O fez de forma comedida em termos, contudo, devido ao temor de uma guerra aberta, existencial, com os Estados Unidos.

O objetivo de Raisi era o de pavimentar seu caminho para suceder Khamenei, que aos 85 anos não apresenta mais a vitalidade de outrora. Com seu desaparecimento em uma queda de helicóptero, o jogo parece aberto, dentro do que é possível aferir.

Por todo seu autoritarismo atávico, a teocracia de Teerã embute freios e contrapesos peculiares. Um deles é o fato de que, se indica o conselho que controla quem adentra a Assembleia de Peritos (o órgão de 88 membros que elege o líder supremo), Khamenei não pode nomear o sucessor.

Assim, os rumores de que ele gostaria de ver no posto o filho Mojtaba, também clérigo, podem não passar mesmo disso. Mojtaba é próximo o suficiente da linha dura iraniana, mas foi um dos alvos dos recentes protestos.

Se arriscar uma nova onda de manifestações, Khamenei pode entrar para a história como o homem que consolidou o país imaginado por Khomeini, mas também presidiu sua derrocada.

editoriais@grupofolha.com.br]

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