Jair Bolsonaro se vale do jargão futebolístico ao equiparar a CPI da Covid a um “tapetão” —os tribunais esportivos que tomam as decisões fora do campo de jogo, de má fama entre os torcedores.
A palavra foi repetida no sábado (26), durante mais um mal disfarçado ato de campanha eleitoral com aglomeração de motociclistas, desta vez em Chapecó (SC). “No tapetão, não vão levar”, bradou.
À sua maneira tosca, Bolsonaro segue o surrado roteiro de governantes cujo mandato se encontra ameaçado por movimentos dos demais Poderes. Invoca apoios reais ou potenciais no eleitorado e diz-se alvo de um conchavo de raposas políticas contra a vontade popular manifestada nas urnas.
O expediente tem lá seu apelo —e é fato que o Congresso e até o Judiciário colocam na balança os danos de agir contra um presidente que disponha de considerável sustentação na opinião pública. Trata-se, no entanto, de uma demonstração de fraqueza, não de força.
A sustentação parlamentar de Bolsonaro, provida pelo centrão, é interesseira e volátil acima do padrão das tradicionalmente fragmentadas coalizões do país. Tampouco são estanques os humores das ruas, como o presidente terá percebido a esta altura.
O desgaste provocado pela trágica gestão da pandemia derrubou a popularidade do mandatário ao menor patamar desde a posse, além de contribuir para levar o arquirrival Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à liderança das pesquisas para a disputa do Planalto.
Ainda estão por serem conhecidos os desdobramentos do caso Covaxin no Congresso e nas preferências do eleitorado. Fato é que o governo ainda não apresentou uma defesa articulada ante as suspeitas de corrupção na compra da vacina e prevaricação do presidente.
Enquanto seus ministros fazem rosnados desconexos, Bolsonaro não desce do palanque —proporcionando momentos deploráveis como incentivar uma criança a tirar a máscara em Jucurutu (RN).
Parece contar que a complexidade das investigações e dos entendimentos parlamentares esvazie as ofensivas da CPI e dos defensores do impeachment, enquanto a recuperação da economia e o avanço da vacinação jogam a seu favor.
Entretanto esse também é um caminho acidentado. Apesar da melhora dos indicadores e do ambiente internacional favorável, não tardará para que a política econômica do próximo governo entre decisivamente em pauta.
Os fatores de incerteza vão desde os temores de que Bolsonaro escancare ainda mais os cofres públicos para o centrão até declarações de Lula contra o teto de gastos, acentuando o risco de embate entre populismos econômicos.
Turbulências financeiras prejudicam, de imediato, o governante de turno. Se duradouras, suas consequências voltam-se contra o país.
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