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Eleições EUA

Eleitores de Trump podem se energizar com condenação mais do que os de Biden

Veredito dificilmente mudará opinião de apoiadores dos dois lados, mas eventual incentivo maior aos republicanos para votar poderia decidir uma disputa acirrada

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Carlos Eduardo Lins da Silva

Ex-ombudsman e ex-correspondente da Folha em Washington

No complexo sistema da eleição presidencial americana, um dos fatores decisivos para o sucesso de um candidato é o grau de entusiasmo de seus potenciais eleitores.

Como o voto não é obrigatório nos EUA, e os índices de abstenção têm sido altos (33,9% em 2020, 40,8% em 2016), a motivação para o cidadão ir às urnas é fundamental para o resultado. Em especial, como é o caso neste ano, em pleitos em que os oponentes estão praticamente empatados nas intenções de voto.

Donald Trump pode até se beneficiar da condenação a que foi submetido, caso ela energize ainda mais os seus apoiadores, como tem acontecido desde que se iniciaram os quatro processos penais a que está respondendo.

Apoiadores do ex-presidente dos EUA Donald Trump em manifestação na Flórida após sua condenação em Nova York - Marco Bello - 30.mai.24/Reuters

Desde que essas ações começaram, os resultados das pesquisas eleitorais o têm mantido ligeiramente à frente do presidente Joe Biden, e a arrecadação de contribuições financeiras para sua campanha tem aumentado bastante.

Seu problema é que os trumpistas de raiz, que formam o movimento chamado MAGA (Make America Great Again, seu principal slogan), são cerca de um terço do eleitorado. Com eles, Trump pode contar sempre, como já ficou provado. Mas eles talvez sejam insuficientes para levá-lo à vitória em 5 de novembro.

Trump vinha fazendo incursões mais ou menos bem-sucedidas em grupos demográficos tradicionalmente simpáticos ao Partido Democrata, como jovens, latinos e negros, muitos dos quais se sentem desanimados ou frustrados com Biden e sua administração.

Esses grupos podem voltar a se distanciar de Trump, agora que ele se tornou um candidato condenado por crimes comuns. Ao contrário dos MAGAs, eles podem não aceitar a tese de que o ex-presidente é vítima de perseguição política, de uma conspiração liderada por Biden.

Sua sorte é que o atual presidente não se tem mostrado capaz de mobilizar os setores que naturalmente o apoiariam: ou porque Biden é desprovido de carisma ou porque muitas de suas ações na Presidência (como o apoio irrestrito que tem dado a Israel em Gaza e a timidez nos temas ambientais) os afastam dele.

A maioria do eleitorado preferiria não ter de escolher entre Trump e Biden, mas as máquinas dos partidos Republicano e Democrata não deixaram brecha para o surgimento de alternativas internas; candidatos independentes ou de partidos menores não têm condições de competitividade efetiva.

Sairá vencedor em novembro o candidato que conseguir convencer maior número de pessoas a se darem o trabalho de votar. Nesse quesito, os adeptos de Trump parecem ser muito mais aguerridos do que os de Biden, o que pode lhe dar uma vantagem.

O resultado final tende a ser muito apertado. Em 2000, George W. Bush venceu Al Gore por 537 votos no estado da Flórida, e por causa desses votos ganhou a eleição. Neste ano, coisa parecida pode ocorrer nos estados em que nenhum dos dois candidatos tem maioria folgada de preferências.

Eles são: Wisconsin, Michigan, Pensilvânia, Carolina do Norte, Geórgia, Arizona e Nevada. Nesses estados é que a eleição vai ser resolvida, seguramente por margem reduzida de votos.

Trump e Biden são velhos conhecidos dos eleitores, que devem ter opiniões muito fortes e cristalizadas sobre ambos. Dificilmente o veredito em Nova York nesta semana fará com que muitas dessas opiniões se alterem.

Mas ele poderá aumentar ou diminuir o ímpeto de algumas pessoas para votar. Nesse sentido, sua influência será decisiva.

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