GM usa número velho de investimento para pedir incentivo ao governo de SP

Empresa diz que pretende investir R$ 9 bilhões, mas não se trata de dinheiro novo

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São Paulo

A General Motors afirma que pretende investir R$ 9 bilhões em São Paulo e, para isso, recorre ao governo do estado em busca de incentivos fiscais.

Contudo, não se trata de dinheiro novo: o valor faz parte de um plano antigo, anunciado pela montadora em julho de 2015.

Trabalhadores da GM protestam contra redução de direitos em São José dos Campos
Trabalhadores da GM protestam contra redução de direitos em São José dos Campos - Divulgação/ Sindmetal

Na época, a empresa confirmou que o investimento total no país seria de R$ 13 bilhões, valor a ser aplicado até 2020. Por enquanto, apenas um terço desse montante teve a destinação confirmada.

Com a queda nas vendas no mercado interno entre 2014 e 2016, a empresa retardou a aplicação dos recursos, que estão sendo divididos entre as fábricas da montadora no Brasil.

A GM —líder de vendas no setor automotivo— argumenta que passa por dificuldades no país que podem inviabilizar parte de suas operações.

Até agora, as fábricas de São Caetano do Sul (Grande São Paulo), Gravataí (RS) e Joinville (SC) receberam recursos para modernização.

A montadora não havia revelado o destino dos R$ 8,5 bilhões restantes do plano inicial de investimentos.

Isso ocorre tanto pelo atraso nos investimentos quanto pelo segredo industrial: a reportagem apurou que a maior parte desse capital será aplicada na produção de veículos com maior valor agregado.

Enquanto a fábrica de Gravataí produzirá as novas gerações dos compactos Onix e Prisma a partir de julho, a unidade de São Caetano do Sul será preparada para a montagem do novo Chevrolet Tracker, utilitário esportivo que hoje é importado do México.

A versão mais em conta do Onix custa R$ 45 mil, e o Tracker parte de R$ 106,3 mil.

 reportagem questionou a GM sobre o fato de o investimento negociado com o governo ser a continuidade do plano anunciado em 2015, mas a empresa se recusou a comentar.

Posteriormente, publicou uma nota, na qual afirma que "está negociando condições de viabilidade para o novo e adicional investimento de R$ 10 bilhões no período de 2020 a 2024", que se somaria aos R$ 13 bilhões anunciados anteriormente. 

Caso o investimento total em nove anos (2014 a 2023) seja de R$ 23 bilhões, a GM terá aplicado valor cerca de três vezes superior ao que a Volkswagen investe para renovar toda sua linha de produtos no Brasil, incluindo modelos produzidos no país e importados.

Em maio de 2018, o presidente da GM Mercosul, Carlos Zarlenga, anunciou que a montadora lançaria 20 novos carros da marca Chevrolet até 2022.

A maior parte dos carros será derivada da nova plataforma GEM (sigla em inglês para "mercados globais emergentes). Mais moderna, essa base vai reduzir os custos de produção e, por consequência, tornar a empresa mais rentável no longo prazo.

Em janeiro, a montadora nos Estados Unidos confirmou que terá uma nova linha de produtos para a América do Sul.

Um desses será uma picape menor do que a S10, que possivelmente será produzida em São José dos Campos (SP). A fábrica ainda aguarda sua fatia nos investimentos.

A matriz americana, porém, cobra resultados imediatos, pois investimentos antigos ainda não foram recuperados.

Entre 2008 e 2012, a empresa aplicou R$ 5 bilhões para desenvolver os modelos Onix, Prisma, Cobalt e Spin. Com a crise, venderam abaixo do previsto para fechar as contas.

Durante uma apresentação a investidores nos Estados Unidos, a presidente-executiva da GM, Mary Barra, disse que a matriz não vai continuar empregando capital para perder dinheiro.

A situação levou Zarlenga a escrever uma carta aos funcionários, prevendo tempos difíceis. Começou então a negociação com sindicatos: a montadora tenta implementar a jornada intermitente (por hora ou dia) e aumentar de 40 para 44 horas a carga horária de novos funcionários, entre outras medidas.

Os sindicatos não estão aceitando as propostas. Nesta semana, várias centrais se reuniram para decidir como tratarão o caso da GM.

Procurada, a GM disse que não vai comentar nenhum dos assuntos relacionados às negociações com funcionários ou governos.

Apesar de também terem tido prejuízo com a crise entre 2014 e 2016 e ainda estarem distantes do melhor momento no Brasil, outras montadoras têm mantido seus planos de investimento de olho na retomada do mercado.

"Com ou sem crise, o Brasil continua sendo uma potência industrial, com mão de obra qualificada", disse Antonio Filosa, presidente da FCA Fiat Chrysler na América Latina.

O executivo estima que a venda de automóveis na região, excetuando o México, deve chegar a 5 milhões de unidades em 2022. O Brasil responderia pela maior parte, com 3 milhões de emplacamentos.

Em junho de 2018, Filosa divulgou que a FCA pretende investir R$ 14 bilhões nos mercados latino-americanos até 2022. Ao todo, serão lançados 22 novos modelos das marcas Fiat, Jeep e RAM.

A Volkswagen está no fim de seu ciclo atual de investimentos, com aplicação de R$ 7 bilhões até 2020.

O dinheiro está sendo usado na renovação da linha de produtos: o próximo lançamento é o utilitário compacto T-Cross, que chega às lojas em breve.

As vendas de veículos no país seguem em recuperação. Números prévios mostram que 199,8 mil veículos foram emplacados em janeiro, alta de 10,2% em comparação ao mesmo mês de 2018. O dado inclui carros de passeio, veículos comerciais leves, ônibus e caminhões.

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