Datafolha: Nunes vê solidez após efeito Marçal e Datena, e Boulos aposta em divisão na direita

Auxiliares do prefeito comemoram resultado após entrada de novos nomes, enquanto aliados do deputado do PSOL afirmam que rival continua sob risco com pulverização

São Paulo

As pré-campanhas de Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL), que dividem a liderança da corrida à Prefeitura de São Paulo, avaliaram a nova pesquisa Datafolha como positiva para seus interesses e lançaram interpretações distintas sobre a pulverização no segmento à direita com as pré-candidaturas de Pablo Marçal (PRTB) e José Luiz Datena (PSDB).

Para aliados de Nunes, a pesquisa mostrou que o postulante à reeleição, que marcou 24%, tem uma votação estável e que não foi desidratada pelo surgimento de outras opções em seu campo.

No lado de Boulos, que registrou 23%, o entendimento de aliados é que a pulverização se mantém como um risco para o oponente e estanca o crescimento dele.

Além de apontar estagnação de Nunes, a equipe do deputado federal valorizou o fato de que o comando da máquina mostrou ter um efeito eleitoral limitado para o rival e interpretou que existe um sentimento de mudança na cidade, já que o atual governante não conseguiu abrir vantagem.

Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) - Fotos Ronny Santos e Zanone Fraissat/Folhapress/Folhapress

Para o levantamento, foram ouvidos 1.092 eleitores de terça (2) a quinta-feira (4). A pesquisa, encomendada pela Folha, foi registrada na Justiça Eleitoral sob o número SP-001178/2024 e tem margem de erro de três pontos para mais ou para menos.

Depois de Nunes e Boulos, aparecem Datena, com 11%, Marçal, com 10%, a deputada federal Tabata Amaral (PSB), com 7%, e Marina Helena (Novo), com 5%.

No entorno de Nunes, a manutenção da liderança no Datafolha, ainda que em empate técnico com Boulos, foi comemorada —sobretudo porque, desta vez, é o prefeito, e não o deputado do PSOL, quem aparece numericamente à frente por um ponto.

Mas a melhor notícia para os emedebistas foi a simulação de segundo turno, com 48% para Nunes e 38% para Boulos. Nos bastidores, conselheiros de Nunes afirmam que a disputa deve ficar entre ele e Boulos, e lembram que o deputado é mais rejeitado (33% a 24%).

Com 31% de aprovação, sua melhor marca, Nunes diz à Folha que há reconhecimento seu empenho. "O cenário de segundo turno com 10% de vantagem é muito importante. Mostra que a população quer o que estamos fazendo, trabalho, sem ataques aos adversários."

Coordenador da pré-campanha de Nunes, o presidente do MDB, Baleia Rossi, ressaltou que o prefeito pontua melhor entre os pobres. "O levantamento também indica que os paulistanos que usam mais serviços públicos preferem que ele seja reeleito", publicou no X.

"Isso reforça nossa tese que precisamos discutir os problemas reais, e não focar em disputas ideológicas que só fomentam discórdia", completou Baleia, reforçando a estratégia do MDB de não embarcar na polarização que Boulos explora, entre o PT e o bolsonarismo.

Quem participa da pré-campanha do emedebista diz enxergar solidez em sua intenção de votos, que se manteve estável desde o último levantamento, no fim de maio, apesar das novidades desde então.

A principal delas foi a escolha do vice. Nunes anunciou o ex-comandante da Rota e coronel da reserva da PM Ricardo Mello Araújo (PL) como seu companheiro de chapa, acatando a indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O anúncio rendeu ataques de Boulos no sentido de que Nunes representa o bolsonarismo e expôs o poder de influência do ex-presidente na coligação do MDB. Mello Araújo coleciona uma série de polêmicas, como ter defendido que a abordagem da polícia nos Jardins, uma área nobre, seja diferente da feita na periferia.

Ainda assim, para alívio da pré-campanha de Nunes, sua intenção de votos não oscilou negativamente.

Da mesma forma, as pré-candidaturas de Datena e Marçal, que se consolidaram no terceiro lugar, com 11% e 10%, tampouco tragaram votos de Nunes de forma significativa, ainda segundo os aliados do prefeito.

Havia o receio de que a profusão de postulantes no campo da direita pudesse prejudicar Nunes. Na avaliação de sua pré-campanha, porém, o Datafolha mostra que Tabata foi quem encolheu por causa dos novos nomes na corrida.

Auxiliares de Nunes também mencionaram como pontos positivos da pesquisa o fato de que Marçal não disparou e pode, inclusive, ter estagnado. E, por fim, apontam resiliência do prefeito apesar de ter sido alvo do pré-candidato do PRTB nas últimas semanas.

Já o diagnóstico feito em conversas privadas por correligionários de Boulos no PSOL e no PT é que a divisão de votos no campo da direita evita uma disparada de Nunes e enterra as chances de uma vitória do emedebista em primeiro turno, algo que a candidatura rival já começava a ventilar.

A assessoria do deputado, que é apoiado pelo presidente Lula (PT), divulgou nota afirmando que Nunes "não conseguiu ampliar sua base de apoio", apesar dos "volumosos gastos com propaganda e das inúmeras inaugurações de obras eleitoreiras".

O controle da máquina vem sendo usado como justificativa do entorno de Boulos para a progressão do emedebista nos últimos meses, buscando emplacar o discurso de que Nunes dispõe de armas eleitorais que nenhum outro postulante possui, inclusive o espaço na mídia inerente ao cargo.

O texto lembra ainda que termina nesta sexta-feira (5) o prazo estabelecido pela Justiça Eleitoral para que pré-candidatos no cargo participem de inaugurações.

"A partir de amanhã [sábado], o uso da máquina pública estará limitado pela legislação eleitoral que proíbe inaugurações e restringe a propaganda oficial, e o prefeito não vai mais poder se esconder atrás de truques eleitoreiros."

A pré-campanha diz que "três em cada quatro eleitores da cidade não querem Ricardo Nunes", partindo do pressuposto de que, se 24% dos eleitores optam pelo atual prefeito, 76% fazem outras opções. A avaliação é que "São Paulo quer mudança", o que abre caminho para uma troca de guarda na prefeitura. "A população percebe que o prefeito nunca enfrentou os problemas reais da cidade", afirma.

Boulos e aliados também alinharam discursos para ressaltar um aspecto da pesquisa: a intenção de voto espontânea, ou seja, aquela citada pelo eleitor sem que o entrevistador apresente opções de nomes. O pré-candidato do PSOL lidera nesse recorte, com 14% de menções, ante 8% de Nunes.

A nota da pré-campanha diz que o índice é animador "neste momento da disputa", por refletir "melhor o pensamento da população", que em sua maioria ainda não está engajada na eleição. "Esse número mostra a convicção, engajamento e mobilização do nosso eleitorado e isso vai fazer a diferença quando a campanha começar formalmente", afirma.

Presidente municipal do PSDB em São Paulo, o ex-senador José Aníbal afirmou que os dados da pesquisa são "muito bons" para Datena, que não deve desistir, segundo ele.

"Datena subiu três pontos e chegou aos dois dígitos. Isso em meio às incertezas que os adversários adoram propagandear", disse Aníbal, que espera mais crescimento quando a pré-campanha tucana estiver na rua, o que ainda não aconteceu.

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