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Opini�o

Olivier Anquier

Com quantos reais se faz um omelete

A primeira pergunta a fazer �: 'Por que a pessoa saiu de casa para pedir um omelete?'. Provavelmente pelo prazer de comer num lugar com alma

Com este texto, gostaria de demonstrar minha indigna��o e tristeza diante da atitude agressiva e covarde de um site de den�ncia que aponta o dedo destrutivo para "lugares que cobram demais e entregam de menos" e cuja atividade descobri lendo uma reportagem de tr�s p�ginas no caderno "Comida" desta Folha, no �ltimo dia 17.

Realmente n�o acredito que um indiv�duo saia de sua casa s� para comer um ovo frito ou um omelete acompanhado de arroz branco e couve num restaurante como o Dona On�a e pagar de tr�s a cinco vezes o pre�o que pagaria se o cozinhasse em casa.

A primeira pergunta a fazer �: "Por que a pessoa saiu de casa para pedir um omelete no Dona On�a?".

Provavelmente pelo prazer de sair para se divertir, de comer um omelete de qualidade, em um estabelecimento que um empres�rio corajoso idealizou, apoiando-se em anos de trabalho para montar um lugar agrad�vel, com alma.

Um estabelecimento onde algu�m (a dona, muitas vezes) vai preparar ovo com arroz e couve, servido por um gar�om atencioso --pois esse indiv�duo exige tal qualidade.

Ademais, h� que considerar a tranquilidade relativa --uma vez que os governos n�o s�o capazes de prov�-la-- proporcionada por seguran�as na porta do estabelecimento, pelo manobrista, por toda a infraestrutura de conforto adquirido que o indiv�duo veio buscar.

Esses s�o os primeiros aspectos a justificar por que este indiv�duo pagaria um pre�o diferente em tal ou qual lugar --ou outro se, simplesmente, fizesse o ovo em sua casa.

H� que levar em conta ainda o custo da mat�ria-prima, adquirida de fornecedores escolhidos a dedo, ap�s minuciosa pesquisa, para oferecer ao indiv�duo um bom omelete, preparado com um ovo de qualidade superior ao que ele encontraria no com�rcio local.

Que esse ovo seja bem mais caro que a m�dia n�o justifica, por�m, o trof�u que S�o Paulo ergue como a cidade dos restaurantes mais caros do mundo; este se deve aos pesad�ssimos impostos embutidos no pre�o final e seus impactos no custo da mat�ria prima --basta ver o tomate mais caro do mundo.

O custo estratosf�rico dos encargos e obriga��es trabalhistas --e seus absurdos efeitos colaterais, como processos sistem�ticos, sistematicamente perdidos, com indeniza��es de cifras irreais (e sublinho que n�o se debate aqui o m�rito das decis�es jur�dicas, mas sim os alt�ssimos valores das indeniza��es)-- � um cap�tulo � parte.

H�, tamb�m, a obrigatoriedade de contratar batalh�es de gar�ons para suprir a total falta de capacita��o profissional e atingir o atendimento esperado pelo indiv�duo.

E aten��o: esta an�lise refere-se exclusivamente aos custos do sal�o, sem colocar na conta as despesas com toda a infraestrutura escondida do p�blico: cozinha, estoque, administra��o, advogados, nutricionistas, contadores, fornecedores --e, al�m dessas, as consequ�ncias das calamidades, que v�o de s�o Pedro aos cortes de energia.

� evidente que n�o se procuram as mesmas coisas na casa de comida nordestina da Galeria Metr�pole e no Dona On�a no Copan; no bistr� de Alex Atala e na galinhada do est�dio da Portuguesa; no McDonald's e na Lanchonete da Cidade. Esta � uma falsa compara��o.

Todos esses argumentos justificam que o pre�o que voc� vai pagar pelo omelete com uma concha de arroz branco e um punhado de couve do Dona On�a seja muito superior aos R$ 8 que gastaria nos insumos para cozinh�-los em casa e com�-los sozinho, em sil�ncio, na companhia da TV.

Concluiria perguntando: por que tanta agressividade dirigida a esses guerreiros da economia de servi�os do Brasil, homens e mulheres, �s vezes fam�lias inteiras que ousaram enfrentar o risco? Pois somente a obstina��o e a coragem movem-nos a colocar em a��o a monstruosa m�quina que � uma empresa para a satisfa��o do seu p�blico.

Por fim, gostaria de deixar claro que, de maneira nenhuma, me queixo do sistema que assumi, como assumi ser brasileiro. Mas me revolta esse "neoterrorismo" eletr�nico covarde e destruidor. Vamos construir: enquanto isso a gente se vira.


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