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Opini�o

Ruy Castro

Explos�es reais

RIO DE JANEIRO - O primeiro filme importante produzido nos EUA foi um faroeste, "O Grande Roubo do Trem" (1903), de Edwin S. Porter. A plateia se crispava quando o ator, sem nenhum motivo, dava um tiro na c�mera --um disparo frontal, bem na testa do espectador. O cinema estava na inf�ncia, e as pessoas acreditavam em tudo o que viam na tela, inclusive no trem que se aproximava e amea�ava atropel�-las. Imagine um tiro � queima-roupa.

Desde ent�o, o cinema americano nunca dispensou a parceria com a ind�stria de explosivos. Nos �ltimos cem anos, explodiu pai�is, casas, carros, trens, navios, submarinos, avi�es, torres e o que mais pudesse ir pelos ares. Incendiou Chicago, San Francisco e Nova York, soterrou a est�tua da Liberdade, arrasou a Casa Branca e n�o se limitou � autodestrui��o --em seus filmes, o Cristo Redentor j� levou a breca duas ou tr�s vezes, as selvas do Vietn� foram devoradas pelo napalm e n�o sobrou poeira do planeta Krypton.

T�cnicos em efeitos especiais faziam maravilhas nos anos 40 com miniaturas de autom�veis despencando pelas ribanceiras, trens descarrilando e avi�es se chocando no ar, tudo depois voando em milh�es de part�culas. Em 1963, o inc�ndio no posto de gasolina em "Os P�ssaros", de Hitchcock, tamb�m foi um marco. E vieram os filmes-cat�strofe dos anos 70, que n�o deixaram nada de p�. Desde ent�o, com a facilidade dos recursos eletr�nicos, Hollywood � um tiroteio sem fim.

A prova de que o cinema n�o induz ningu�m a copi�-lo � a de que, apesar dessa intimidade com o terror, os americanos nunca tiveram de conviver com ele em casa. Todas as suas batalhas, at� o 11/9, se deram na casa dos outros. De repente, as explos�es est�o em suas ruas e cidades, e s�o dolorosamente reais.

Quem sabe, agora, deixam de achar tanta gra�a nesses filmes cada vez mais est�pidos.


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