Saltar para o conte�do principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

New York Times

Passado deu rigidez � l�der sul-coreana

Por CHOE SANG-HUN

SEUL, Coreia do Sul - Sua m�e foi morta num assassinato pol�tico. Seu pai, ditador anticomunista ferrenho, morreu da mesma maneira. Ela pr�pria foi agredida com facadas no rosto, mas sobreviveu.

A nova presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, foi criada de uma maneira que a converteu numa l�der austera e intransigente. Hoje no centro de uma crise crescente com a Coreia do Norte, Park, 61, � a primeira mulher que j� liderou seu pa�s, fato que Pyongyang j� citou com desd�m.

As hist�rias sobre sua intransig�ncia s�o lend�rias. Ao ser informada da morte de seu pai, sua primeira preocupa��o foi saber se a Coreia do Norte preparava uma invas�o. A primeira pergunta que ela fez ao despertar de uma cirurgia depois de ter o rosto cortado com uma l�mina, em 2006, ataque que lhe deixou uma cicatriz no maxilar, foi sobre como estava indo a campanha de seu partido.

Park � t�o autorit�ria que at� mesmo na Coreia do Sul, uma das sociedades mais patriarcais da �sia, a quest�o de seu g�nero deixou de ser mencionada depois de alguns questionamentos iniciais.

"No passado, durante a campanha eleitoral, foram levantadas d�vidas quanto � atua��o de uma presidente mulher em tempos de crise", comentou Choi Jin, diretor do Instituto de Lideran�a Presidencial, em Seul. "Mas, ao longo do atual impasse com a Coreia do Norte, Park vem desfazendo quaisquer d�vidas sobre isso, deixando claro que � uma l�der forte."

No entanto, agora que a economia sul-coreana parece estar abalada por meses de crise, os cr�ticos e os partid�rios da presidente questionam se ela n�o ter� ido longe demais no esfor�o de se mostrar uma l�der intransigente.

Park tomou posse em 25 de fevereiro, j� disposta a se impor. Nomeou ex-generais para cargos de seguran�a em seu gabinete e em sua equipe presidencial e n�o ofereceu qualquer concess�o real enquanto a Coreia do Norte n�o recuasse. � uma mudan�a de postura em rela��o a governos passados.

Em mar�o, Pyongyang disse que "o movimento venenoso da saia" de Park era o culpado pelas tens�es -alus�o a uma antiga express�o coreana usada para designar mulheres que esquecem qual � seu devido lugar.

Park e seus militares v�m enfrentando as amea�as norte-coreanas de holocausto nuclear com declara��es agressivas. Recentemente, os militares sul-coreanos amea�aram "varrer da face da terra" a dinastia comunista se ela ousasse lan�ar um ataque nuclear.

Park disse a seus generais que, se a Coreia do Norte iniciar um ataque, mesmo que limitado, eles devem contra-atacar "sem levar considera��es pol�ticas em conta" e sem esperar sua aprova��o.

A presidente tem raz�es pessoais para querer esfriar a Coreia do Norte. Comandos norte-coreanos chegaram muito perto da sala de trabalho de seu pai, em 1968, antes de serem interceptados. O atirador que matou sua m�e tamb�m teria sido enviado pela Coreia do Norte para matar seu pai (que foi morto alguns anos depois por seu pr�prio chefe de espionagem).

Num pa�s com t�o poucas mulheres em cargos de lideran�a e onde a disparidade de renda entre homens e mulheres � uma das maiores no mundo em desenvolvimento, os sul-coreanos explicam sua relativa indiferen�a ao sexo de Park dizendo que a elegeram por sua origem e forma��o pol�tica.

A presidente � vista como digna de seu pai, praticamente reproduzindo a f�rrea determina��o dele de enfrentar o inimigo ao norte, algo que o levou a falar abertamente em "exterminar" comunistas.

Apesar de seu hist�rico de viola��es dos direitos humanos, o ex-ditador Park Chung-hee ainda � tido em alta considera��o no pa�s, principalmente por ter ajudado a fortalecer a economia sul-coreana e por ter constru�do uma das hist�rias de sucesso econ�mico mais not�veis no mundo.

Refletindo uma vis�o comum no pa�s, Bong Young-shik, pesquisador s�nior do Instituto Asan de Estudos de Pol�tica, em Seul, comentou: "Ela n�o � uma mulher. � Park Chung-hee encarnado num corpo de mulher."

N�o obstante sua intransig�ncia, a presidente tamb�m revela um lado pragm�tico. Em 2002, quando seu pa�s ensaiava uma aproxima��o com o Norte, ela refor�ou sua presen�a pol�tica, visitando Pyongyang e o filho do poss�vel mandante do atentado que matou sua m�e.

Durante sua campanha, Park disse que ofereceria ajuda humanit�ria � Coreia do Norte mas n�o faria grandes concess�es enquanto o Norte n�o abrisse m�o de suas armas nucleares. Diante das amea�as de Pyongyang, a oferta foi retirada. Neste m�s, a presidente abrandou a linha dura, mas apenas depois de uma queda na Bolsa de Valores e de um l�der empresarial estrangeiro ter questionado se a Coreia do Sul continuar� a ter estabilidade suficiente para justificar investimentos.

Com o legado econ�mico de seu pai a proteger, Park tentou interromper a escalada de amea�as de ambos os lados, fazendo uma oferta vaga de negocia��es.

A expectativa � que, a n�o ser que a economia piore muito, Park se mantenha firme, procurando for�ar a Coreia do Norte a recuar.

Especialistas observam que a determina��o ferrenha � algo herdado. Quando sua m�e foi baleada num teatro, seu pai discursava sobre o palco. Depois da m�e ser levada embora, sangrando, o presidente voltou-se para a plateia e retomou seu discurso.

Dias depois, Park Geun-hye, ent�o uma jovem de 22 anos, assumiu as fun��es de primeira-dama.

Quase 40 anos depois, voltou a entrar na Casa Azul, dessa vez como presidente.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da p�gina