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Alexandre Schwartsman

T� com medinho, 02?

N�o h� motivos para temer que o real fraco possa levar ao mesmo tipo de crise financeira de 2002 e 2008

NA SEMANA passada pudemos observar mais uma vez o ativismo infatig�vel do governo, que, pela quinta vez, alterou as regras do Imposto sobre Opera��es Financeiras para as opera��es de c�mbio, agora reduzindo o prazo m�nimo para isen��o de cinco para dois anos.

Com isso, fica claro como o regime cambial no Brasil mudou de flutuante para um sistema de bandas: embora seja dif�cil precisar os limites exatos, aparentemente n�o querem o d�lar abaixo de R$ 1,90 nem acima de R$ 2,05.

� luz de tudo da ret�rica governamental n�o � dif�cil entender a resist�ncia ao barateamento do d�lar. Afinal de contas, passaram os �ltimos anos reclamando do tsunami monet�rio (que, diga-se, n�o acabou nem parece em vias de terminar, embora a moeda tenha se depreciado), da especula��o e do estado do gramado. O curioso, para n�o dizer ir�nico, � a resist�ncia ao encarecimento do d�lar, vis�vel na altera��o das regras, assim como na pol�tica de interven��o do BC. O que teme o governo?

Em 2008 e em 2009, a exposi��o de empresas nacionais a derivativos de c�mbio ex�ticos levou v�rias delas a situa��es complicadas, fazendo com que bancos restringissem o cr�dito por causa da incerteza sobre a sa�de financeira do setor corporativo. No entanto, tal exposi��o n�o se verifica hoje, indicando que as chances de repeti��o daquele fen�meno parecem ser bastante baixas.

� verdade que a d�vida externa do setor privado aumentou bastante de 2008 para c�, de pouco mais de US$ 200 bilh�es em dezembro de 2008 (o equivalente a um ano de exporta��es) para cerca de US$ 340 bilh�es em mar�o deste ano (algo como 16 meses de exporta��es).

Todavia, nesse mesmo horizonte os ativos brasileiros no exterior, exceto as reservas internacionais, saltaram de US$ 214 bilh�es para quase US$ 380 bilh�es.

Colocando na balan�a todos os ativos e passivos em moeda estrangeira, calculo que o setor privado brasileiro apresentava em mar�o deste ano um passivo l�quido em moeda estrangeira da ordem de US$ 48 bilh�es (em 2008 havia um ativo l�quido de US$ 12 bilh�es).

Parece muito, mas representa menos de 20% das exporta��es e cerca de 2% do PIB. Para fins de compara��o, � �poca da crise de 2002 o passivo l�quido em moeda estrangeira do setor privado atingia mais de 10% do PIB e equivalia a 80% das exporta��es anuais.

Vale dizer, o efeito da desvaloriza��o da moeda sobre os balan�os das empresas � mais do que compensado pelo efeito da desvaloriza��o sobre suas exporta��es. N�o h� motivos, portanto, para temer que o enfraquecimento do real possa levar ao mesmo tipo de crise financeira observada em 2002 e em 2008.

Diga-se, ali�s, que a mesma conclus�o, vitaminada, vale para o setor p�blico, que era devedor l�quido em moeda estrangeira em 2002 e � hoje credor l�quido, de modo que a desvaloriza��o do real melhora as contas p�blicas.

O BC argumenta que sua interven��o se deve � aus�ncia de vendedores. Isso � verdade, mas n�o exime a autoridade monet�ria de responsabilidade, visto que a timidez dos vendedores de c�mbio decorre principalmente da taxa��o das opera��es no mercado futuro, entusiasticamente apoiada pelo Banco Central.

Mais que falha de mercado, trata-se de resultado da pr�pria regulamenta��o governamental.

O problema parece ser o efeito sobre os pre�os. De fato, enquanto os pre�os de commodities em d�lares ca�ram 14% entre maio de 2011 e maio de 2012, medidos em reais esses mesmos pre�os aumentaram 6%; de fevereiro para c�, 11%.

N�o que a infla��o em si preocupe o governo; a quest�o central � at� que ponto isso poder� limitar o processo de redu��o de juros.

Assim como o ocorrido no ano passado, a m�o pesada do governo gerou mais deprecia��o do que teria resultado naturalmente das for�as de mercado (queda de pre�os de commodities e valoriza��o global do d�lar).

Como dizem l� fora: cuidado com o que deseja; pode se tornar realidade...

ALEXANDRE SCHWARTSMAN, 49, � doutor em economia pela Universidade da Calif�rnia (Berkeley), ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil, s�cio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econ�mica e professor do Insper.

www.maovisivel.blogspot.com
alexandre.schwartsman@hotmail.com

AMANH� EM MERCADO:
Julio Vasconcellos

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