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Equilibrio

Suzana Herculano-Houzel

Tranquilidade

Pelo jeito, assistir a obras feitas pela m�e natureza permite que o c�rebro se volte para dentro e sossegue

Toda vez que eu tenho um zilh�o de afazeres na lista do dia eu lembro de como, cansa�o � parte, prefiro que seja assim: n�o gostaria de n�o ter nada para fazer, permanentemente. Acho o �cio criativo somente quando ele � a exce��o. Mas ah, a paz interior. Ah, n�o ter que fazer nada, por pelo menos uma horinha por dia.

Um pouco de tranquilidade a cada dia faz um bem danado. Cada um tem suas prefer�ncias e defini��es pessoais para a tranquilidade, claro. De modo geral, contudo, a neuroci�ncia define tranquilidade como um estado mental de relaxamento cognitivo, em contraste a estados de esfor�o mental constante, que s�o caracter�sticos das atividades di�rias da vida moderna. Esse estado mental tende a ocorrer em ambientes naturais, sem marcas das constru��es humanas, como pr�dios, estradas e ru�do de tr�fego.

Se a tranquilidade � um estado mental, a que ela corresponde? Para responder a essa pergunta, uma equipe no Reino Unido pediu a volunt�rios que assistissem a v�deos diferentes, de cenas de praias ou de rodovias, de dentro de um aparelho de resson�ncia magn�tica, e avaliassem quanta tranquilidade elas lhes inspiravam, enquanto seu padr�o de atividade cerebral era registrado pela equipe. A escolha de praias e rodovias tinha raz�o de ser: enquanto as imagens s�o diferentes, o som � semelhante, de amplo espectro, quase desestruturado.

A equipe descobriu que, em compara��o com o estado mais inquieto (vendo rodovias), o c�rebro tranquilo (vendo praias) associa seu som a uma integra��o funcional maior das estruturas da "rede padr�o" do c�rebro.

A "rede padr�o" � um conjunto de estruturas corticais bem separadas umas das outras, envolvendo a regi�o medial do c�rtex pr�-frontal, na frente, e o cingulado posterior, atr�s, que est�o mais ativas quando o c�rebro faz... nada em particular. A atividade nessas regi�es predomina quando a mente est� voltada "para dentro", e n�o dando aten��o a est�mulos externos.

Faz sentido, ent�o, que o estado de tranquilidade corresponda a uma maior integra��o funcional entre as estruturas da rede padr�o, consolidando o c�rebro em um estado que prioriza a si mesmo. Assistir a obras feitas pela m�o humana exige que o c�rebro se concentre no mundo exterior. Mas, pelo jeito, ver obras da m�e natureza permite que o c�rebro se volte para dentro e sossegue.


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