Antiga cracol�ndia agora se espalha por 23 pontos, do Minhoc�o � Paulista
Giovanni Bello/Folhapress | ||
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Ex-frequentadores da cracol�ndia que migraram para debaixo do Minhoc�o, no centro |
Cinco dias ap�s uma opera��o policial na cracol�ndia do centro de S�o Paulo, usu�rios de drogas se espalharam pela regi�o e j� se concentram em pontos como a avenida Paulista e embaixo do elevado Jo�o Goulart, conhecido como Minhoc�o.
As �reas –23 no total– foram mapeadas pela GCM (Guarda Civil Metropolitana), comandada pela gest�o do prefeito Jo�o Doria (PSDB). Os agentes acompanham a movimenta��o de egressos do antigo "fluxo" –como s�o conhecidos pontos com consumo e tr�fico a c�u aberto.
Desde domingo (21), quando uma a��o do governo do Estado prendeu traficantes e desobstruiu vias da �rea, os dependentes v�m se movimentando tamb�m por outros bairros do entorno, como Barra Funda e Liberdade. A maior parte deles, no entanto, apenas atravessou a avenida Rio Branco e se instalou a menos de 400 metros, criando uma nova cracol�ndia na pra�a Princesa Isabel.
Pelo relat�rio da GCM, os usu�rios tendem a se concentrar nessas �reas � noite.
Na avenida Paulista, havia 20 usu�rios na madrugada de quinta. Na pra�a Roosevelt, 30. Comerciantes e moradores dessas �reas reclamaram do aumento da popula��o de rua ap�s a opera��o policial.
Na rua Apa, em Campos El�seos, lojistas fecharam as portas depois que 40 pessoas passaram a ocupar a via na ter�a. A �rea j� reunia dependentes, mas esse n�mero cresceu.
A a��o policial de domingo n�o teve acompanhamento imediato de a��es prometidas por Doria. Os dependentes, por exemplo, n�o est�o todos cadastrados nem os centros de acolhimentos foram finalizados, o que contribuiu para a dispers�o deles pelas ruas e fez a prefeitura apressar a��es que j� deveriam estar prontas.
Para o secret�rio municipal de Sa�de, Wilson Pollara, esse espalhamento ajudou na abordagem dos agentes de sa�de. Ele disse nesta quinta (25) que n�o soube com anteced�ncia que a opera��o seria feita na cracol�ndia pela pol�cia, da gest�o Alckmin. "A a��o policial foi feita sob sigilo, n�o tivemos nenhum tipo de informa��o."
A��es atabalhoadas, discursos dissonantes e dependentes sem atendimento provocaram a maior crise da gest�o Doria. Um efeito dela foi a queda da secret�ria de Direitos Humanos. Patr�cia Bezerra entregou o cargo ap�s chamar de "desastrosa" a opera��o na cracol�ndia. O secret�rio de Rela��es Institucionais, Milton Fl�vio, assumiu a pasta interinamente. Ele foi atingido por um peda�o de mexerica nesta quinta quando dava entrevista a jornalistas.
DISPERS�O
Uma mulher usando cal�a e blusa surradas caminha pela avenida Duque de Caxias, no centro de S�o Paulo. No meio da cal�ada, um homem com roupas sujas dorme tranquilamente por volta das 11h desta quinta-feira (25).
Um cachimbo de metal est� saindo do bolso do homem. A mulher ent�o se abaixa e furta o cachimbo do rapaz. Pega um isqueiro e come�a a fumar os restos de crack no objeto. Ela caminha e vai at� a regi�o da Santa Cec�lia, embaixo do Minhoc�o.
A cena foi flagrada pela Folha. Ali, sob o viaduto, o fluxo de usu�rios de crack aumentou, segundo relat�rio da Guarda Civil Metropolitana que aponta 23 �reas, entre elas a regi�o da avenida Paulista, com maior concentra��o de dependentes ap�s a a��o policial da cracol�ndia. A pris�o de traficantes e a desobstru��o de vias n�o vieram com boa parte das a��es sociais e de sa�de prometidas pela gest�o Doria.
Tamb�m nesta quinta, na pra�a Marechal Deodoro, C�ssio, 20, pedia R$ 1 para comprar o almo�o no restaurante popular Bom Prato. "�s vezes, aparece um pessoal de sa�de. Mas o que aparece mais � guarda para tirar nossas coisas", disse o usu�rio. O ponto j� era abrigo para moradores de rua, mas nos �ltimos dias a situa��o piorou, dizem comerciantes.
Na pra�a ao lado, a Olavo Bilac, uma barraquinha foi montada na noite de quarta (24). "Cheguei, e a barraca estava a�. Eles [dependentes] ficam circulando durante o dia. � noite, ficam mais reunidos, dormindo na pra�a", contou Valdir Andrade, 62, dono de uma banca de jornal.
A alguns metros dali, na rua Apa, tr�s usu�rios de crack compartilhavam dois cachimbos para fumar a pedra. Um deles disse que foi abordado por funcion�rios da prefeitura. A via sempre foi ponto de pessoas em situa��o de rua, pois existe ali um centro de acolhida. No entanto, nos �ltimos dias, a situa��o se agravou. Paulo Antero, 46, conta que na ter�a precisou fechar sua venda de alimentos uma hora mais cedo, �s 17h.
"At� ent�o nunca tive problemas com ningu�m, eles ficam entre eles. Mas na ter�a chegaram uns 40. A rua ficou fechada. Todos os lojistas ficaram receosos e fecharam."
ATROPELO
"H� relatos de moradores e comerciantes na rua dos Gusm�es, e na do Triunfo, que tamb�m come�am a dar sinais de estresse com toda essa situa��o. O problema � vis�vel na rua das Palmeiras, embaixo do Minhoc�o, na rua Apa", afirma F�bio Fortes, membro do Conseg (conselho de seguran�a) da Santa Cec�lia e Campos El�seos.
"O que a gente observou � que no t�o aclamado planejamento algo parece que ficou no atropelo. N�s aprovamos a iniciativa, mas estamos sentindo o desconforto."
A gest�o Doria diz que a dispers�o j� era esperada e que ela facilita a abordagem de agentes sociais e de sa�de. "Eles [dependentes] estavam em uma regi�o de dif�cil acesso [antiga cracol�ndia]. Hoje, temos mais acesso [�s pessoas]. A opera��o facilitou porque, numa situa��o de encastelamento, protegidos pelo tr�fico, era mais dif�cil", disse Wilson Pollara, secret�rio municipal da Sa�de.
ALGUNS ERROS
J� o prefeito admitiu que pode haver "alguns erros e ajustes necess�rios" na opera��o na cracol�ndia.
Para ele, a �rea, "fisicamente", se resumia a pr�dios que eram usados por uma fac��o criminosa para distribui��o frequente de entorpecentes. "Isso acabou, n�o tem mais. Outra coisa � a exist�ncia de dependentes qu�micos, s�o cerca de 400, est�o ainda nesta regi�o. E � exatamente o objeto da preocupa��o assistencial e medicinal", disse Doria.
J� M�gino Alves, secret�rio estadual da Seguran�a P�blica do governo Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou que n�o est�o mais programadas a��es policiais como a do �ltimo domingo. "O nosso prop�sito era acabar com aquele com�rcio absurdo de entorpecentes."
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