Nova cracol�ndia de S�o Paulo tem oferta de crack a R$ 4 e lojas fechadas
Um policial militar aborda a reportagem da Folha na pra�a Princesa Isabel, centro de S�o Paulo, manh� de ter�a-feira (23). Aponta uma espingarda e grita: "O que voc� quer aqui? Abre a mochila". Ele faz a revista e pede documentos do rep�rter. Minutos depois, aconselha: "Circula, vaza, porque eles est�o roubando todo mundo aqui".
Eles, no caso, s�o os dependentes de crack que desde segunda-feira (22) ocupam a pra�a, a menos de 400 metros da antiga cracol�ndia. No domingo (21), uma a��o policial do governo Geraldo Alckmin (PSDB) prendeu traficantes e expulsou usu�rios de droga de tr�s ruas que eram ocupadas pelo antigo "fluxo" –�rea com consumo e tr�fico de drogas a c�u aberto.
A opera��o foi celebrada pelo prefeito Jo�o Doria (PSDB), que anunciou medidas municipais, como isolamento da �rea com guardas e demoli��o de im�veis.
Em seguida, centenas de dependentes se espalharam pelo centro. A maioria deles, no entanto, s� atravessou a av. Rio Branco e se instalou na Princesa Isabel, que ocupa um quarteir�o e fica ao lado de um terminal de �nibus.
Nos �ltimos tr�s dias, a Folha constatou no local que o consumo e o tr�fico de drogas continuaram, embora sem as mesas onde as drogas eram expostas para venda no antigo endere�o da cracol�ndia. Tanto na ter�a como nesta quarta (24), era poss�vel ouvir de longe, dentro do novo "fluxo", a oferta, aos gritos, de pedra de crack por R$ 4.
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Alckmin afirmou que parte do crack que abastecia usu�rios na antiga cracol�ndia era "refinado" dentro de pr�dios pr�ximos ao "fluxo" –fato que dificultava a apreens�o da droga pela pol�cia. Agora, com usu�rios espalhados, prefeitura e Estado dizem ser mais f�cil a repress�o ao tr�fico de drogas e a abordagem dos dependentes.
Na pra�a, a Pol�cia Militar por vezes faz revistas em pedestres. Duas bases da corpora��o, com quatro agentes cada, cercam a �rea. O maior contingente de policiais e guardas municipais, por�m, est� fora de l�, nas tr�s ruas onde a venda e consumo ocorriam at� s�bado (20).
Assistentes sociais e de sa�de da prefeitura s�o vistos com pranchetas no local desde ter�a abordando os dependentes para tentar lev�-los ao atendimento m�dico. O secret�rio de Assist�ncia Social da gest�o Doria, Filipe Sabar�, diz que a abordagem nesta semana conta com 300 pessoas, das 7h �s 20h. "Nunca houve um atendimento t�o priorizado a uma popula��o de rua dependente qu�mica como essa", afirma.
Pela promessa da gest�o Doria, isso teria sido feito antes da a��o policial, e n�o depois da dispers�o dos dependentes pelo centro. A ideia divulgada era entrevistar gradualmente os frequentadores da antiga cracol�ndia para conduzi-los a dois caminhos: moradia ou interna��o.
O psiquiatra Mauro Aranha, presidente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de S�o Paulo), afirma que esse atendimento aos usu�rios de droga chegou tarde e ficou prejudicado. "Dispersando as pessoas, voc� perde acesso a elas", diz. Al�m disso, afirma, a estrutura para acolher essas pessoas ainda n�o foi criada.
"Por que n�o fizeram essas medidas antes? Por que n�o fez Caps [centro psicossocial], n�o providenciou as casas de acolhida antes? Agora n�o tem equipamento social para dar comida, cobertor e cama", afirma Aranha.
COM�RCIO FECHADO
O novo endere�o do crack trouxe transtornos a comerciantes e moradores da avenida Rio Branco e da rua Guaianases, �rea que concentra estabelecimentos de venda de carros e acess�rios. Eles se queixam do aumento de assaltos nos �ltimos dias. Algumas lojas ficaram fechadas nesta quarta-feira; em outras, as portas foram parcialmente abaixadas.
O dono de uma concession�ria, que prefere n�o se identificar, diz que "do nada come�a uma correria". Nessas horas, s� resta fechar as portas.
Alguns metros � frente, �lvaro Vidal, 34, comerciante de produtos automotivos, resolveu transferir todos os produtos de sua loja para outra unidade que tem no centro. "Essa manh� cheguei e vi a porta amassada. Acho que tentaram arrombar. Por precau��o, vou sair daqui. Se continuar assim, n�o volto mais."
MEDIDAS EM CURSO
A gest�o do prefeito Jo�o Doria (PSDB) afirma que j� deu in�cio �s medidas previstas no programa Reden��o, voltado a usu�rios de drogas. Em entrevista � imprensa, o prefeito afirmou que a �rea da cracol�ndia foi desobstru�da no domingo (21), mas que o trabalho � cont�nuo.
"A �rea agora est� livre e limpa. Por isso naquele momento [no dia da opera��o] eu disse que a cracol�ndia havia acabado. Evidentemente esse trabalho n�o � um trabalho de 10, 20 dias", disse. Segundo a gest�o, o cadastramento dos dependentes de crack foi iniciado, e os novos servi�os para esse p�blico est�o "em desenvolvimento".
� o caso da cria��o dos servi�os ambulatoriais para atender viciados em drogas. Diz a gest�o que um centro de atendimento ser� instalado na pr�xima sexta (26), e a reclassifica��o de um outro para oferecer servi�os 24 horas j� foi solicitada ao Minist�rio da Sa�de. "Mas ressalte-se que esse equipamento oferece apenas seis leitos de interna��o", afirma.
O Reden��o prev� novos leitos para tratamento de desintoxica��o de usu�rios –276 foram criados, diz o munic�pio, sem detalhar as entidades de interna��o que receber�o esses novos pacientes. Outra promessa � o treinamento de agentes para a abordagem de dependentes de drogas da cracol�ndia.
Segundo a administra��o, 17 equipes de sa�de foram capacitadas e outras dez est�o na fase final de treinamento. Sobre moradia, a prefeitura afirma que as pessoas que estavam hospedadas em hot�is na regi�o n�o ser�o retiradas enquanto n�o houver uma alternativa para elas. "As demoli��es j� programadas t�m como alvo apenas im�veis desocupados."
Apesar das cr�ticas da Promotoria e da entidade que representa a classe m�dica paulista, a gest�o diz que "segue em articula��o constante com todas as esferas da sociedade civil envolvidas na elabora��o do Reden��o". Nesta quinta (25), afirma, haver� reuni�o do comit� do projeto.
Nesta semana, a gest�o Doria disse que n�o avisou equipes assistenciais para se preparar diante da nova demanda de dependentes porque queria evitar vazamento da a��o policial na cracol�ndia. A prefeitura n�o respondeu sobre o surgimento de uma nova cracol�ndia na pra�a Princesa Isabel, no centro.
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