Em dois anos, a China adicionou uma economia do tamanho da brasileira ao seu mercado. Em janeiro de 2020, o PIB chinês era de US$ 16 trilhões (R$ 80,1 trilhões). Agora é de US$ 18 trilhões (R$ 90,1 trilhões). Nesse meio tempo, a economia brasileira, presidida pela equipe econômica mais incompetente da nossa história, andou de lado; o PIB brasileiro fechou 2021 totalizando US$ 1,6 trilhão (R$ 8 trilhões).
A contribuição da China para o crescimento global é ordens de magnitude maior do que a dos outros países emergentes, com exceção da Índia. Em 1990, o PIB chinês era 1,3% do PIB mundial. Em 2013, bateu 10%. Hoje, é 19%. Ou seja, na China se produz e consome praticamente um quinto de tudo que é produzido e consumido no mundo. Em 2050, as maiores economias do mundo, em paridade de poder de compra, deverão ser a China, Índia, EUA e Indonésia.
E é pela importância da economia chinesa para o crescimento global que a recente onda de lockdowns e desaceleração econômica preocupa.
A expectativa de crescimento para a economia chinesa era de 5,2% em janeiro. Caiu para 5% em março, 4,5% no meio desse mês e já tem banco de investimento que estima que o PIB chinês terminará o ano abaixo de 4%. Mesmo que pare por aí, o crescimento chinês vai ficar bem abaixo da meta do governo no início do ano, que era de 5,5%.
Com o lockdown da cidade inteira em Xangai e centenas de comunidades em quarentena em diversas províncias, a economia chinesa não tem como continuar no ritmo de crescimento do PIB do ano passado, quando o PIB aumentou em 8,1%. Obviamente, a China não vai entrar em recessão. Mas a queda da demanda mundial por causa da desaceleração do país e, mais importante, os problemas logísticos por causa dos lockdowns, podem afetar ainda mais a economia mundial nos próximos dois anos, ao menos. E ainda assim, como já escrevi antes, é comum que superestimem a relevância econômica da China no curto prazo e subestimem o peso do país no longo prazo.
É bom lembrar que a saída da crise financeira mundial de 2008 se deu, em grande parte, pela locomotiva puxada pelo crescimento chinês. E não são só países exportadores de commodities que se beneficiam do aumento da demanda na Ásia. Como exemplo, em 2011, a União Europeia exportou €126 bilhões (R$ 662 bilhões) para a China, 60% a mais que em 2008. Em 2021, foram € 223 bilhões (R$ 1,1 bilhão).
Por um lado, a China deve adiantar alguns dos 102 mega projetos que deveriam ser realizados no final do 14º Plano Quinquenal (2021-2025), o que aumentaria a demanda mundial. Mas por outro, os riscos da economia chinesa alimentar a estagflação mundial são maiores. Entre os riscos de curto prazo, o principal é o apagão logístico pelos recentes lockdowns. As autoridades de Xangai e Ningbo, dois dos maiores portos do país, conseguiram mantê-los abertos (um feito e tanto, já que até supermercados foram fechados), mas a capacidade dos portos foi bastante prejudicada: o número de navios de carga esperando para desembarcar e receber mercadoria quase dobrou nas últimas semanas.
Todavia, o maior risco é mesmo a desglobalização. As relações políticas entre China, EUA e Europa estão bastante enfraquecidas. Isso traz o espectro da diminuição de importações chinesas, fechamento ainda maior do setor de serviços, atraso na integração dos mercados financeiros, e menos fluxo de tecnologia e inovação.
Os lockdowns em Xangai não afetam somente quem mora aqui, mas todos os consumidores mundiais. E pode ficar pior.
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