O Flamengo de 2019 foi o único time da América do Sul a atacar insistentemente seu rival europeu numa final de Mundial de Clubes desde a criação do torneio oficial da Fifa. Contra o Liverpool, a confiança de seis meses sob o comando de Jorge Jesus deu chance concreta de vencer, levou a partida para a prorrogação e oportunidade de empatar com Lincoln, após sofrer o gol de Firmino.
Não se discute o mérito dos campeões do Brasil, único país a vencer os europeus no formato atual. Corinthians contra o Chelsea, São Paulo com o Liverpool, Internacional contra o Barcelona ganharam por competência e estratégia.
Defender bem foi fundamental.
No passado dos Mundiais de Clubes, época da Copa Intercontinental, os sul-americanos atacavam e os europeus usavam a tática para paralisá-los. Foi mudando aos poucos, depois da sentença Bosman, na prática o fim do limite de estrangeiros para times da Europa.
Pegue a Itália como parâmetro, meca do futebol nas duas últimas décadas do século 20. Só havia liberação para um estrangeiro entre 1980 e 1982, dois entre 1982 e 1988, três de 1988 a 1996, quando o caso Bosman equiparou jogadores aos cidadãos de outras profissões, liberados para trabalhar em qualquer país com passaporte da Comunidade Econômica.
Até aquele dia, eram 20 títulos sul-americanos e 13 europeus. Desde então, 22 da Europa e 6 da América do Sul.
O poderio econômico interfere nas escolhas táticas. Vítor Pereira fará o Flamengo atacar o Al Hilal, adversário aparentemente menos perigoso do que o dono da casa, Wydad Casablanca, eliminado nas quartas-de-final. Os sauditas do Al Hilal, dirigidos por Ramón Díaz, vice-campeão mundial como técnico do River Plate, em 1996, gostam também do jogo insinuante, porque possuem jogadores ofensivos como Marega, ex-Porto, Ighalo, ex-Mancheter United, Michael e Cuellar, ex-Flamengo.
O rubro-negro é melhor e atacará. Se vencer a semifinal é que Vítor Pereira terá de escolher entre a estratégia ofensiva, que agrada sua torcida, ou encolher-se como o Flamengo não costuma fazer. O Real Madrid não é brilhante, mas é estruturado.
O técnico português chegou ao Marrocos admitindo que os próximos treinos precisam melhorar a condição defensiva. Isso não significa encher sua escalação de marcadores e abrir mão de um estilo mantido pelo Flamengo há quatro temporadas. Se trocar De Arrascaeta por um volante, se tirar Pedro para marcar mais forte, será criticado como um covarde –exceto se vencer.
A dificuldade para atacar o Real Madrid, como Jorge Jesus fez contra o Liverpool, é não ter uma equipe montada há tanto tempo, quanto seu antecessor de 2019 possuía. O presidente Rodolfo Landim foi extremamente consciente ao falar sobre este tema, antes da viagem à África.
Carlo Ancelotti declarou que seu jogo mais importante da semana é o Campeonato Espanhol e escalou time mesclado contra o Mallorca. Usou seis possíveis titulares no hipotético confronto com o Flamengo: Nacho, Rudiger, Camavinga, Tchouaméni, Asensio e Vinicius Junior.
Costumamos dizer que o Real não dá bola para o Mundial, mas é o maior vencedor –três intercontinentais, quatro oficiais Fifa.
Se menosprezasse o torneio, não venceria tantas vezes.
Cartão vermelho
Por mais que Abel seja responsável por quem cativa, por mais que alguém se inspire num ídolo, é sempre necessário lembrar que abusos à beira do campo são punidos com cartão vermelho e Abel Ferreira já recebeu seis desde sua chegada ao Brasil. Você pode achar a pena ridícula. Mas os abusos de Abel não ficam impunes.
Fraco
O São Paulo segue sua dura tentativa de evolução, agora com os reforços pedidos por Rogério. O lateral-esquerdo Caio Paulista, o velocista David e a estreia de Erison. O centroavante, é bom dizer, foi preterido por Luís Castro no Botafogo. Pode ser reserva de Calleri. Nada indica que será mais do que isto.
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