É muito provável que a Liga Forte Futebol assine contrato com o fundo de investimentos formado por Serengeti e LCP já na próxima semana. Essa perspectiva causa tremor de terra na estrutura da Libra, a associação que conta com todos os clubes grandes do Rio e de São Paulo, exceto o Fluminense.
O terremoto é causado pelos próprios erros da Libra, como dificultar o debate sobre divisão de receita. Todos os campeonatos que dão certo no mundo têm essa premissa.
A Libra apostou na associação com o grupo Mubadala, dos Emirados Árabes, e apostou que a Forte Futebol não conseguiria um investidor.
Quando acordou, o grupo formado por Atlético-MG, Internacional, Fluminense, Fortaleza e outros 22 clubes importantes já tinha seu sócio, com uma proposta 2% mais lucrativa e, sobretudo, toda a distribuição das cotas detalhada.
Por ela, o mais forte arrecadará, no máximo, 3,5 vezes mais do que o mais fraco.
O resultado é ver Cruzeiro, Grêmio, Vasco e Botafogo como atentos observadores e sedentos para trocar a Libra pela Forte Futebol. Tudo isso pode acontecer a partir da próxima semana.
Sempre que o assunto é criação de Liga, no Brasil, a palavra-chave é esperança. A expectativa é construir uma nova estrutura em que prevaleçam os valores econômicos, não políticos. Era o que o empresário Flávio Zveiter, fundador da Libra, propunha quando começou a tratar do tema, antes de virar diretor da CBF.
Viajou à Europa, entendeu os processos, comprou os direitos do livro "The Club" e publicou-o no Brasil com o título "A Liga". A obra dos jornalistas Joshua Robinson e Jonathan Clegg é um brilhante relato da criação da Premier League, a partir de muitas histórias contadas antes em publicações como "The Illustrated History of Football", livro de relatos do jornal The Sunday Times.
Para quem era leitor de rodapé, toda obra nova parece trazer informações inéditas.
A Forte Futebol definiu planilhas, determinou que 50% das receitas serão divididas de maneira igualitária, 25% por desempenho e 25% por engajamento, e especificou cada detalhe do que isso possa significar. A vantagem da Libra é ter os grandes. A desvantagem é ter apostado nas relações políticas e no histórico de pindaíba dos pequenos.
Se a Forte Futebol não conseguisse investidores, os pequenos iriam pedir arrego. Só que o aporte apareceu e os critérios da Forte Futebol estão mais aprofundados, e isso atrai os dirigentes mais atentos.
O que mais tem desequilibrado a partilha financeira no Brasil é o pay-per-view. Quando se firmou o acordo atual, a perspectiva era de crescimento do valor, que chegou a ser de R$ 600 milhões e hoje está em R$ 380 milhões. Na assinatura, garantiu-se o mínimo para os times de maiores torcidas. Hoje, o Flamengo tem aproximadamente R$ 170 milhões e o Corinthians está perto de R$ 120 milhões. Ou seja, 75% do que se arrecada.
O Palmeiras, hoje poderoso, não é um dos que mais lucram. Bastaria Leila Pereira fazer contas para compreender que sua distância para o Flamengo a colocará em desvantagem em breve. Isso também vale para São Paulo e Santos.
A Liga precisa nascer e rapidamente. Não importa qual grupo sairá vencedor. Fundamental é ter todos, das Séries A e B, juntos, num pacote único, para as futuras negociações. É possível sonhar no Brasil com o quinto, talvez o quarto, possivelmente o terceiro melhor campeonato do mundo, atrás só de Inglaterra e Espanha.
Neste momento, a Forte Futebol parece mais organizada e capaz de criar a liga em que os parâmetros econômicos sobreponham a política.
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