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Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Elenco de 'Feliz Ano Velho' relembra causos e se emociona em celebração dos 40 anos da peça

Encontro reuniu Marcos Frota, Denise Del Vecchio e Marcelo Rubens Paiva

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Faz 40 anos que Marcos Frota subiu ao palco, pela primeira vez, para interpretar Marcelo Rubens Paiva na montagem teatral do livro autobiográfico do escritor, "Feliz Ano Velho". Mesmo passado tanto tempo, o ator diz que ainda fica nervoso ao encontrar pessoalmente o personagem que viveu todas as experiências que ele encenou.

"Até hoje eu não consigo relaxar na frente do Marcelo. Acho que é pela carreira dele, pela pessoa em que ele se transformou, por tudo que ele fez", diz Frota à coluna. Os dois, a atriz Denise Del Vecchio e outros atores e técnicos que fizeram parte da peça se reuniram na noite de terça (25) para celebrar as quatro décadas da estreia da produção.

O ator Marcos Frota no jantar para comemorar os 40 anos da peça Feliz Ano Velho - Ronny Santos/Folhapress

O local escolhido para o encontro foi simbólico: o restaurante Famiglia Mancini, na região central de São Paulo, que foi patrocinador do espetáculo lá no seu início, nos anos 1980. Com outros compromissos profissionais, os atores Lilia Cabral e Paulo Betti —que dirigiu a montagem— não conseguiram estar presentes, mas fizeram participações especiais por ligação em vídeo.

Entre taças de vinho, risadas e muita emoção, a trupe relembrava histórias. Um dos nomes mais citados era o do ator Adilson Barros, morto em 1997, e que interpretava o deputado federal Rubens Beyrodt Paiva, pai de Marcelo.

"A gente está lembrando muito dele aqui. Ele foi meu pai [na montagem] e foi um mestre. Aprendi com o Adilson que talento sem vocação não é nada", diz Marcos Frota.

O elenco da peça 'Feliz Ano Velho' (da esq. à dir.) Adilson de Barros, Denise Del Vecchio, Lilia Cabral, Cristiane Rando, Marcos Frota e Marcos Kaloy e o diretor, Paulo Betti - Arquivo Pessoal

Assim como o livro, que se tornou um fenômeno pop, a montagem de "Feliz Ano Velho" foi um sucesso. Foram seis anos em cartaz, com apresentações por todo o Brasil e também em outros países.

A ideia de levar a obra para o teatro partiu do então ator Marcos Kaloy, que hoje é vereador pelo Podemos em Monte Alegre do Sul, no interior de São Paulo. Foi ele também o responsável por idealizar o reencontro.

A adaptação, escrita pelo autor Alcides Nogueira, não foi literal. "Foi um desafio, porque tínhamos que colocar no palco um livro que o Brasil inteiro tinha lido e se emocionado, inclusive eu", diz.

Em "Feliz Ano Velho", Marcelo Rubens Paiva faz um relato autobiográfico a partir do acidente que sofreu ao pular em um açude e ficar tetraplégico. Mais do que falar sobre a tragédia, a publicação conseguiu retratar o espírito daquela geração, que ainda vivia sob a sombra da ditadura militar (1964-1985) —o pai do escritor foi morto nos porões do regime, quando ele tinha 12 anos.

Para a montagem, a saída encontrada por Alcides Nogueira foi "não ser Marcelo Rubens Paiva" e contar a história a partir de um outro olhar, mas sem perder de vista o clima da época.

"Eu fiz aquele paralelo entre a coluna [vertebral] do Marcelo e a coluna do Rubens, as duas cortadas, quebradas, massacradas", relembra o autor.

Embora já tivesse feito sucesso com outras peças, Alcides afirma que foi "Feliz Ano Velho" que o "jogou para o mainstream". "A partir dali, eu fui para a Globo e fiquei 42 anos escrevendo novela."

"Foi uma grande aventura, um momento importante para todos nós", completa.

"Foi um celeiro de talento, que mostrou que não se tratava só de uma peça de teatro, mas de um movimento de pessoas que iriam arrebentar. Sinto muito orgulho de ter sido o combustível dessa grande folia", diz Marcelo Rubens Paiva.

Filho da atriz Denise Del Vecchio, André Frateschi tinha nove anos quando a produção estreou. Ele se recorda de ficar nas coxias acompanhando a mãe nos ensaios e apresentações. O ator e músico diz que o espetáculo foi tão marcante que, 16 anos depois, em uma segunda montagem em que iria atuar, ele se lembrou de todo o texto de cor.

"A gente começou o ensaio, e eu me lembrei do espetáculo inteiro. Eu vi umas 300 vezes a primeira montagem. Não tinha babá naquela época, a gente tinha que ir para o teatro", relata, aos risos.

Mais do que isso, segundo André, "Feliz Ano Velho" definiu o que ele seria na vida: artista. "Eu tive uma epifania na época", destaca.

Foi por meio da produção que o ator também teve contato com as bandas de rock que estavam surgindo naquele momento, especialmente a Legião Urbana —décadas depois, Frateschi viria a assumir o vocal do conjunto no lugar de Renato Russo, morto em 1996.

Como conta Marcos Kaloy, uma das apresentações da peça foi feita em um ginásio da Unicamp e reuniu 5.000 pessoas. "Nós nos apresentamos e depois entrou a Legião. O evento foi chamado de Feliz Legião", diz.

"Os nossos seguidores eram o RPM, a Legião Urbana, o Lobão, os Paralamas do Sucesso. Onde a gente chegava, eles estavam lá assistindo", complementa Marcos Frota.

Durante o encontro, o ator deu a ideia de que seja feita uma leitura da montagem no Centro Cultural São Paulo, primeiro local que recebeu "Feliz Ano Velho", na capital paulista. "Com bilheterias abertas. O Paulo Betti faz o papel que era do Adilson Barros. O resto, estamos todos aqui."

com BIANKA VIEIRA (interina), KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

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